terça-feira, 12 de outubro de 2010

Será que o amor é o X da questão?

por Ana Raquel


Andando pelas ruas do meu bairro com um amigo, fizemos uma análise sobre o comportamento de outro amigo nosso. Ele disse:


— Estou preocupado com o Roberto


— Eu sei, também estou


— Ele está indo para esta festa cheio de esperanças de que vai voltar com a Núbia


— Sim, e ele está se preparando por esta festa há muito tempo. Pelo menos há uns três meses


— Mesmo? Como você sabe?


— Ué, porque você acha que ele emagreceu, entrou na academia mais cara de São Paulo e não pára de malhar que nem um louco? Ele não é atleta...


— É verdade... Por isso ele está nessa loucura de malhar todos os dias. Como eu não percebi isso antes?!


— Você não percebeu porque esse é um comportamento típico de mulher. Malhar ou fazer regime para se preparar para um evento. Você se lembra de quando eu namorava o Otávio? Antes de encontrá-lo em BH, fazia um regime de frango e arroz integral por uma semana. É a mesma coisa!


Nesse dia, continuei com isso na cabeça por muito tempo. Nós mulheres nos preparamos por uma festa, uma viagem, um encontro... E muitas vezes, nem mesmo há um objeto de desejo em questão. Os rituais de preparação femininos sempre existiram e continuam ocorrendo, independente das conquistas e emancipação alcançadas por nós, após o surgimento da pílula.


Entretanto, o comportamento do meu amigo foi obviamente feminino pelo fato de ele estar apaixonado. Então, quando os homens amam, ficam femininos? Os homens têm os cromossomos XY e as mulheres XX. Será que o amor está no X? Naquilo que nos torna mais próximos um do outro? Será que não somos tão diferentes assim? Várias indagações filosóficas sobre os sexos surgiram a partir daí...


Não acredito que esse tipo de comportamento masculino seja uma novidade devido às nossas conquistas femininas. Afinal de contas, o amor sempre existiu. (Eu acho...rsrsrsrs). E estamos todos sujeitos a ele, independentemente do sexo.


Biologicamente temos nossas óbvias diferenças físicas e, como já sabemos, nossas outras características são determinadas não só pela genética, mas também pelo ambiente. Homens sofrem e choram por amor, assim como as mulheres também podem ser duras, frias e indiferentes quando querem. Temos todos os clichês ao nosso alcance.


Acredito que a liberdade de ambos os sexos estará no fim do julgamento preconceituoso que tenta definir aquilo que cada sexo é capaz ou não. Felizmente acredito também que estamos cada vez mais próximos do momento em que não seremos classificados pelo sexo e sim, simplesmente, classificados como seres humanos. Eu sei... Falta MUITO ainda, mas sempre fui sonhadora e otimista!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onde mora a felicidade?

por Ana Raquel


Todos nós vivemos em busca de alguma coisa. Um trabalho dos sonhos, um amor, uma casa... Muitos podem ser os sonhos, mas o fim é sempre o mesmo. Buscamos a nossa felicidade. Mas será que a nossa felicidade está no óbvio? No mesmo sonho que sua amiga de infância teve?


Sempre imaginei que a minha felicidade era o padrão, sonhado por mim e por meus pais. Um emprego estável, um marido e mais tarde filhos. Fiz o esperado. Encontrei uma graduação que me apaixonou. Lá mesmo, me apaixonei pelo homem que julguei ser o certo. Seguindo o protocolo, no auge da paixão me casei. Seguindo o protocolo, deveria arrumar um emprego estável e logo depois, abrir a fábrica de fazer bebês. Entretanto, as coisas não seguiram bem o planejado. Estudei Ciências Biológicas e após me formar, enveredei-me cada vez mais pelo caminho da pesquisa no pós graduação. O emprego estável para mim seria dar aulas em alguma instituição particular ou pública. Entretanto, descobri que a paixão que sinto pela bancada do laboratório, desenhar estratégias de clonagem e ver o resultado final, são inversamente proporcionais ao que sinto por lecionar. Enfrentar uma sala de aula é algo que realmente não me faz feliz. O tão apaixonado casamento não foi feliz. A pessoa que julguei certa era incompatível.


Havia sempre conversas sobre um futuro filho. Instintivamente, talvez, nunca tive coragem de parar com a pílula. Sempre pensava “será que uma criança seria feliz aqui? Preciso pensar mais, preciso sentir que é a hora certa”. E a hora, nunca chegou. Hoje, estou divorciada e procurando um emprego que, ao final do doutorado, mantenha-me na pesquisa. Talvez, nunca sinta que é a hora certa de ter um filho. Talvez, se voltasse no tempo e visse o atual cenário, eu me assustasse... Ontem comemorei meu aniversário com minha amigas, que entraram em minha vida após o divórcio. Resolvi fazer um exercício e me lembrar dos meus aniversários dos anos anteriores. Aqueles em que passei planejando um futuro óbvio, não foram nem de perto felizes. Foram na cama chorando por alguma briga sem razão, ou sozinha e imaginando que no próximo ano seria melhor. Ontem pensei... O próximo ano não precisa ser melhor, pode ser exatamente assim. Agora estou feliz.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Independência ou Morte!

por Ana Raquel


Sou uma pessoa de misticismos muito particulares. Tenho minhas manias, uma definição de Deus extremamente particular, que já tentei definir para algumas pessoas, mas geralmente me pego perdida e confusa dentro do meu próprio discurso. Sou independente por natureza ou talvez pelas circunstâncias do meu nascimento.


Sou a filha do meio. Fui planejada pelos meus pais, assim como meus dois irmãos. Minha mãe sempre usou a tabela para evitar a concepção e milagrosamente e excepcionalmente, funcionou muito bem para ela. Minha irmã mais velha veio muito festejada. Eu, no entanto, apesar de bem recebida, fui uma decepção. Rsrsrsrs... Meu pai queria o homem, que jogaria pelada na rua com ele. Como sempre, meu pai muito prático e se adaptando a situação, fez de mim seu menininho até os quatro anos de idade, que foi quando meu irmão nasceu. Até os quatro anos, jogava futebol na rua, soltava papagaio, andava sem camisa e tinha os cabelos curtos estilo “Joãozinho”. Houve até um episódio em que um amigo do meu pai levou seu filho para brincar em nossa casa e, depois de passar a tarde inteira brincando comigo, o menino virou-se para o pai e disse: “Pai, por que todo mundo chama esse menino de Raquel?”. Essa é uma piada velha em minha casa. Meu pai repete essa frase rindo até hoje.


Bom, o que aconteceu após o meu irmão nascer, era o esperado... Fui deixada de lado. Há uma diferença de quatro anos entre minha irmã e eu. O que agora não representa muito, mas para infância é um intervalo grande. A partir daí começou o meu processo de independência. Brincava sozinha, pois meu pai, que era policial, sempre teve medo da violência de uma maneira traumatizante. Então, eu não podia brincar na rua com os vizinhos, como era habitual no meu bairro. Acredito que a partir daí, defini também minha profissão. Instintivamente montei um laboratório nos fundos da minha casa. Fazia experimentos com insetos e adorava preparar “venenos” e criar estórias de contos de fada que ficavam apenas na minha cabeça. Perseguia caramujos e casulos de borboletas. Virei bióloga e hoje sou pesquisadora. Passo os dias em um laboratório, exatamente como na minha infância. Gosto da independência e a persigo desde a adolescência.


Nunca houve muita informação na minha casa. Meus pais extremamente tradicionais, não se sentiam a vontade para discutir assuntos de sexualidade com os filhos. A curiosidade, que é óbvia em minha personalidade, foi que se encarregou de me levar às informações necessárias. Perdia aulas no colégio entre as estantes da biblioteca, procurando informações sobre sexo, corpo humano ou qualquer outro assunto que despertasse o meu interesse. Tanto que, sentindo-me senhora de tudo e muito esperta, não contei para ninguém quando menstruei. Fui à farmácia e comprei meu absorvente sozinha aos 12 anos. Apenas não contava com um problema... Tive uma descamação contínua do útero, o que fez com que minha menstruação durasse mais de 20 dias. Comecei a achar estranho que meu fluxo durasse mais do que eu havia pesquisado e resolvi contar a minha mãe. Ela assustadíssima levou-me à ginecologista, mas eu já estava com uma anemia bem acentuada. E assim foi meu primeiro contato com a pílula. O tratamento para suspensão da menstruação foi a pílula, além de muitas cápsulas de complexos vitamínicos e bife de fígado por um bom período (não suporto nem sentir o cheiro até hoje).


Assim como a menstruação veio sem qualquer conversa com minha mãe, veio também o início da vida sexual. Fiz sexo despreparada e sem vontade devido à pressão que meu namorado na época fez sobre mim. FOI HORRÍVEL!!! Após a experiência, senti-me tão mal que terminei o namoro. Só resolvi fazer sexo novamente depois de dois anos, completamente apaixonada. FOI EXCELENTE!!! Rsrsrsrs. Seguindo o padrão de me virar sozinha, marquei uma consulta com a ginecologista e pedi a prescrição da pílula.


Desde os 18 anos tenho tido uma ótima relação com a pílula. Nunca sofri efeitos colaterais. Aliás, a pílula foi um remédio em um segundo momento da minha vida, quando fui diagnosticada com ovários policísticos. Após alguns meses de tratamento com uma pílula com uma dosagem um pouco maior de hormônios, fiquei livre dos cistos. Namoros, casamento... Vieram e foram. Mas, a pílula continuou minha aliada nesta busca pela independência.