segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uma janela para o tempo: nós e a pílula

por Maria Izabel Brunacci

(Professora de literatura brasileira, autora da livro Graciliano Ramos, um escritor personagem e escritora no blog PedraPalavraVoz. Mãe de Angélica e Natália. Avó de Sofia e Laura)


Quando a pílula anticoncepcional foi inventada eu tinha apenas 5 anos e sequer imaginava o quanto essa invenção seria importante para me ajudar, anos mais tarde, a vivenciar aquilo que, posteriormente, ficou conhecido como “a liberação feminina”.


Em fuga de pequena cidade do interior, fui parar na capital, com o objetivo de todos os que participavam do verdadeiro êxodo da juventude nos anos de 1960 e 1970: trabalhar e estudar. Morando em república com mais oito ou nove meninas chegadas de diferentes cidades interioranas, iniciei em 1974 a difícil experiência de trabalhar oito horas por dia e estudar à noite, longe do carinho de mãe e pai, procurando desesperadamente um lazer barato nos fins-de-semana. Era o período da ditadura militar e as restrições à liberdade pesavam sobre nossos ombros, o que nos dava certa consciência política.


Claro que nessa experiência não poderia faltar o contato com homens de todos os tipos, desde os mais bem postos na vida até os estudantes duros. E as paixões, obviamente, aconteciam. Com elas o desejo de perder o medo, que fazia a gente perder a vergonha de ir ao ginecologista, à procura de métodos contraceptivos seguros. E era ela, a pílula, a primeira a ser recomendada para que pudéssemos exercer o direito de decidir o que fazer com nossos corpos, livres das amarras da moral hipócrita dos anos de 1960.


Para a jovem de hoje isso pode parecer banal. Mas para nós, naqueles tempos em que nossos corpos eram governados por nossos pais, mães e irmãos, isso era fundamental para nossa afirmação identitária como mulheres. Ser mulheres não mais como nossas avós, mães e tias, em forçada dependência de seus maridos; ser mulheres, sim, com todas as responsabilidades que isso implicava: garantir nosso próprio sustento, desenvolver carreira profissional, estudar para além dos cursos superiores conhecidos como “espera-marido”.


Evidentemente houve os escorregões que obrigaram uma ou outra a recorrer às aborteiras clandestinas, mas a maioria administrou bem o uso da pílula, dando início a uma onda de casamentos informais – nada de igreja, véu e grinalda – e à gravidez planejada. Não mais a gravidez indesejada, naquelas situações em que o remédio era casar para “reparar o erro” ou abortar.


Hoje, cinquentona, paro para prestar atenção no tipo de mulheres em que nos transformamos. Somos todas muito diferentes umas das outras: algumas foram muito bem-sucedidas financeiramente, outras nem tanto; a maioria de nós se casou e – admirem-se! – ainda vivem com seus maridos. Filhos? Algumas tiveram três, outras tiveram dois. Duas já são avós. Ideologicamente, são diferentes: algumas são conservadoras e religiosas, mas pelo menos duas se mantiveram à esquerda e agnósticas.


Mas uma coisa todas temos em comum: a pílula anticoncepcional fez parte da nossa vida e foi fundamental para que pudéssemos viver, enquanto assim o quisermos, como mulheres emancipadas e autônomas.

Respeito é bom, mas nem tanto...

por Janini de Carvalho


Se existe uma palavra que resume qualquer justificativa e pode encerrar qualquer atitude inconveniente, essa palavra é: respeito. Respeito e ponto final.


Quantas vezes no auge de discussões e no calor dos ânimos ouvimos: Respeite! Independente do que seja, soa de forma diferente. Traz-nos certa vergonha, a sensação de algo mal dito ou “maldito”...


No período entre meus 16 a 20 anos, algumas amigas me pediam para esconder a cartela de pílulas anticoncepcionais e precisavam me encontrar diariamente para tomá-las. Para mim isso nunca foi problema, pois comecei a tomá-las muitos anos antes de iniciar minha vida sexual. Não por neura precoce ou por ansiedade para tomá-las. Não mesmo! Comecei por recomendação médica. Para evitar a acne e regular meu ciclo menstrual. O diagnóstico era “útero retrovertido”, mas não me lembro se a prescrição da pílula foi decorrente disso ou se era mesmo para evitar a acne. Só sei que funcionou bem para a acne.


Minhas colegas, mesmo aquelas com muitos anos de namoro e com namorados 10 a 15 anos mais velhos, escondiam o uso da pílula “em nome da moral e dos bons costumes”. E melhor mesmo que tenha sido assim, já que a gravidez, na conjuntura em que se encontravam, teria sido um transtorno infinitamente maior.


Como não vivenciei essa “castração”, sempre questionei como seus pais não percebiam que elas já tinham vida sexual ativa e sempre ouvia a mesma resposta:


“–Com certeza eles sabem, mas mostrar que tomo pílula comprovaria que eu sei que eles sabem e, por respeito e para poupá-los da decepção, eu escondo. Entendeu?”


Entendi... A que ponto chega a estupidez humana... E os riscos que corremos para manter as aparências...


E já passados muitos anos desde a minha adolescência, ainda escuto estranhos comentários a respeito da pílula de mulheres bem informadas e que não necessitam comprovar sua castidade. “- Agora vou tomar pílula porque paramos de usar a camisinha.” “- Não quero ganhar quilos a mais na balança, por isso não tomo pílula.” “- Experimentei e acho que fiquei insensível e com falta de libido (essa é demais!).”


Ok. Todos nós temos direito de escolher e de respeitar (palavrinha mágica) as opções individuais e os diferentes pontos de vista, mas passados 50 anos desta invenção, algumas perguntas não querem se calar:


Pergunta 1

Com a inúmera quantidade de hormônios sintéticos desenvolvidos, não consegue encontrar nenhum tipo que lhe sirva???!!!


Pergunta 2

Você não toma pílula porque existe possibilidade de engordar 3 a 4 kg e ter varizes, mas não para com as barras de chocolate, bebidas alcoólicas, sorvete, vida sedentária, horas sentada na mesma posição e saltos finos e altíssimos???!!!


Pergunta 3

Você reclama da insensibilidade e da falta de libido decorrentes do uso da pílula, mas acredita que seguir tabelinhas, usar a pílula do dia seguinte, passar dias preocupada esperando a bendita menstruação, deixar seu parceiro sempre sobressaltado, privar-se de sexo naqueles dias de ovulação (segundo seus cálculos), tudo isso potencializado com seus ataques de TPM, aumenta seu apetite sexual???!!!


Pergunta 4

Você acha que o uso constante de remédio lhe faz mal, mas pensa que se entupir de refrigerantes, almoçar mal, dormir tarde, comer, todos os dias, alimentos salgados e industrializados, preserva sua saúde???!!!


Posso estar equivocada, mas relato que a pílula é muito mais do que meu método contraceptivo, ela é fator determinante do que sou hoje, pela honestidade, liberdade desde sempre com minha família, com os namorados que tive e, acima de tudo, comigo mesma. E isso sim pra mim é Respeito!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pequenos universos femininos

por Mariana Esteves

Como é difícil falar sobre a gente, tarefa mais difícil ainda quando temos de nos posicionar neste vasto universo. Será que a primeira categoria que me constrange e me limita no mundo é a do sexo? Como experiencio a vida enquanto mulher? É através do meu pequeno universo que posso falar algo sobre mulheres.

Minha bisavó materna foi mãe solteira, ateia e professora de português. Vovó Marlena casou com o filho único da bisa aos 13 anos e, no mesmo dia, parou de estudar . A bisa controladora estimulava o vovô a sair com moças mais estudadas porque vovó devia era ficar em casa cuidando dos filhos. Desse casamento à moda antiga nasceu mamãe, caçulinha, ovelha negra que enfrentava os flertes extraconjugais do vovô. Mamãe teve 12 namorados e não queria ter parado por aí, mas a vovó traída dizia "Separo de seu pai assim que você se casar". Não deu outra, mamãe conheceu papai e um ano depois no altar estavam. Mamãe não parou de estudar, mas digamos que foi desencorajada na vida profissional e uma década depois se divorciou.

Aos quatro anos, com muita birra, já estava de tchu-tchu colocando breu na sapatilha...minha brincadeira favorita mesmo era cozinhar, tinha um fogãozinho esmaltado com direito a trempe elétrica e forno, fazia salsichinha, bolinho embatumado e chá de hortelã para as visitas. Delirava com a Barbie e, sinceramente, não acho que a culpa da ditadura do corpo seja dela, nas palavras da amiga Laura: as moças mais bacanas de nossa geração se parecem muito mais com a Mônica. Mamãe sempre falou de sexo e papai nunca teve problemas com isso. Aos meus 16 anos, papai já dizia "Minha filha namore e conheça quantos rapazes forem precisos".

A adolescência foi assim um pouco distante do pai que se redescobria... foi no mundinho da mamãe que também aprendia com a gente. Morar com a mãe, descobrindo o mundo, e a irmã caçula é como aos 15 anos morar com suas melhores amigas, com direito a barraco e barraca na sala, crises aborrecentes sem fim. Aos trancos e barrancos, a gente descobre que nada nesse mundo faz a gente aprender e amar mais do que o erro e a dor. E que contos de fadas existem. Logo entrei na faculdade e lá as moças também comandavam. Hoje trabalho no setor cultural e, como é de se imaginar, os padrões de relacionamento e hierarquia sexual não são bem definidos . O namorado atual presenteia com gadets para câmera, fotografia depois de cozinhar é meu hobby preferido, e revista em quadrinhos sobre sexualidade feminina, grava filmes como "Sita Sings the Blues", "Persépolis" e "Offside" (filmes sobre lutas femininas em diferentes partes do mundo). A sogra foi quem criou o blog e me fez refletir sobre a condição feminina. Oras, ser mulher 50 anos depois da pílula pode ser maravilhoso!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Thalita Lippi fala sobre suas experiências com anticoncepcionais

Matéria exibida em 13 de Maio de 2010 no programa Happy Hour da GNT

Mulheres ganham destaque na frente e atrás das câmeras

Matéria de Lúcia Guimarães exibida em 10 de Fevereiro de 2010 no programa Saia Justa da GNT

Pílula anticoncepcional completa 50 anos. Afinal, o que mudou?

Matéria de Renata Cafardo exibida em 18 de Abril de 2010 no programa Fantástico da Rede Globo

Emancipação feminina na música

Coluna de Nelson Motta exibida em 11 de Setembro de 2009 no Jornal da Globo

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tentativas

por Janini de Carvalho


Imagino que eu seja só mais uma entre as milhares de mulheres que foram concebidas por uma tentativa da realização do sonho do varão, a confirmação do pai de sua masculinidade e do dever cumprido.

Eu era a “rapa do tacho”, expressão cearense dada aos caçulas, geralmente, acidentais.

Hoje me apresento como uma mulher de 30 anos, solteira, gerente de engenharia, que adora futebol, videogame, baralho, assistir vale-tudo, programas de esportes, cerveja e rock in roll, demora 2 horas para se arrumar, se atrasa, ama cremes, sofre com a calça apertada e o cabelo que nunca dá jeito, busca conhecimento seja profissional, pessoal ou banalidades em geral, quer ser cuidada, amar e ser amada, tolera, compreende e contorna. Sou heterossexual e almejo uma família Osbourne em comerciais de margarina.

Assim sou eu. Com gosto variado, infelizmente ainda nos dias de hoje atuar profissionalmente e gostar de “coisas de homem” gera um preconceito imenso...

Coloca-se, como via de regra, que nossas vontades, capacidades, escolhas e virtudes têm ligação direta e estão condicionadas ao sexo, e para aqueles que quebram a barreira do preconceito e conquistam o respeito e a admiração, esses, são classificados como excepcionais, visto que deveria ser um elogio.

Mas como sentir-se elogiado se a única base para a atribuição de excepcional é o preconceito? Em minha educação, via de regra, aprendi que qualquer conquista só possui valor a partir dos princípios morais através dos quais ela foi constituída.

Sendo assim, o que me faz sentir lisonjeada é ver que minha vida e minhas conquistas hoje, são resultado da luta de pessoas pela igualdade, liberdade e respeito. E que essas conquistas ainda têm um longo caminho a percorrer no qual, espero, eu possa contribuir.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Liberdade & Preconceito

por Alice Birchal


Controlar a concepção nunca foi tão fácil. A pílula proporcionou o domínio da natalidade pela mulher e, consequentemente, um tipo de liberdade em relação ao seu parceiro, isso é certo. Mas será que liberdade quer dizer igualdade (isonomia)?

A liberdade sexual revela a importância da mulher por ser mulher e não por reproduzir outro ser humano. Então, ela passa a se questionar sobre a real necessidade de ter filhos e sobre a verdade da frase tão simplista: toda mulher nasce para ser mãe (será?). Em sequência, o pensamento: se eu não for mãe, ou se eu não for mãe, o que farei? Daí foi um pulo para ela ir ao mercado de trabalho, descobrir novas funções e relações sociais, inclusive, sentimentais.

A descoberta da pílula alia-se a um cenário anterior e simultâneo de fatos históricos e sociais relevantes, tais como: a segunda grande guerra, os efeitos da revolução industrial, a grande queda de 1929, o movimento feminista, dentre outros. Muitos anos após, em 1977, o divórcio no Brasil.

A liberdade da mulher me parece ter se concretizado com a possibilidade dela escolher entre ter ou não filhos, ou tê-los no momento e na quantidade do seu desejo, e desejo vem de dentro (dela) para fora.

A pílula estimulou descobertas de novas técnicas de contracepção e de reprodução assistida que proporcionam aos casais novas organizações familiares. A escolha deixou de ser apenas feminina e, nesse sentido, também libertou o homem.

Ao mesmo tempo, velhos tabus estão presentes em parte da sociedade, como a valorização da virgindade e da reprodução dentro do casamento. A violência psicológica e física contra a mulher também é enorme, uma vez que há homens e filhos que ainda julgam a mulher como ser inferior e que deve apanhar e ser ofendida.

A escolha de ser ou não mãe é pessoal e livre, mas o tratamento dado à mulher pela família e pela sociedade parece não ter evoluído muito. A autoridade e importância feminina no seio familiar, além das desigualdades de tratamento profissional entre ela e o homem para o exercício da mesma função, revelam-se na diferença salarial para menor no caso feminino e não alcançaram o princípio da igualdade (isonomia) dos gêneros.

A ciência derrubou a barreira biológica, mas ainda não conseguiu transpor a barreira da diferença social entre o homem e a mulher. Concluindo: é mais fácil evoluir cientificamente do que vencer barreiras do preconceito.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Programem-se, ou não...

por Alice Birchal

Voltando ao mundo com a pílula, penso que a liberdade sexual que ela proporciona tem seu lado positivo e negativo, como, aliás, tudo na vida.

Primeiro, estabelecemos metas: só nos fixarmos sentimentalmente quando houver maturidade profissional e independência financeira, apartamento pago e montado, telefone, carros, tudo material, antes de formar família. Quando tudo estiver bem com o casal, engravidar e ter dois filhos.

Ou seja, nada de surpresas. Então, depois de graduação, mestrado, doutorado, maturidade, equilíbrio financeiro e emocional (será?), a gravidez tão programada. Passados dois anos, a segunda gravidez programada. Essa é a fórmula da maioria dos casais da classe média (nossa burguesia): programar-se. Será que vale a pena?

Como estou no 8º mês de minha 2ª gestação programada, por assim dizer e, portanto, serei mãe de duas meninas, algumas reflexões vêm me ocorrendo. Como complicamos a gestação e o nascimento! Isso a partir da pílula e das inúmeras modernas possibilidades de contracepção.

Novamente estou às voltas com quartos, decoração, rearranjos de armários, espaço no apartamento para duas meninas, lavagem de enxoval com sabão de coco, babás, ufa! Claro, sem a participação masculina. E a frase que a todo o tempo escuto das pessoas: “bebê é uma bênção”, “faço tudo por meus filhos”... Será?

O que isso tem a ver com a pílula? Tudo.

Sou filha da 7ª gestação de uma sequência de cinco mulheres, um homem e, então... eu, outra menina! Não é queixa, apenas constato que fui criada no “vácuo” dos meus seis irmãos, ou seja, nada de gravidez programada, quarto, decoração, armário, espaço para mim, enxoval, muito menos sabão de coco, babá? Ah..., claro a única coisa em comum: em regra, nada de participação masculina, a não ser no ato (sabem qual, né?).

Com a pílula a filiação deixou de ser uma surpresa. Hoje, programamos tudo que está ao nosso alcance. Mudamos a maneira de criar os filhos: antes éramos criados no grupo denominado “nossos filhos” e dividíamos tudo. Hoje, criamos nossos filhos quase como filhos únicos e isso tem resultado em crianças egoístas, individualistas, consumistas demais, porque os tratamos como príncipes e princesas que devem ter tudo que o dinheiro pode comprar, mas, nós, os pais, não somos reis, não vivemos em reinos e não podemos protegê-los para o resto de suas vidas.

Criamos o discurso que só podemos ter dois filhos por questões financeiras, porque só podemos dar tudo a dois, não a sete...

É isso mesmo ou apenas queremos o conforto de dois filhos, menos preocupações? Criamos tantas “necessidades” desnecessárias que já não sabemos se realmente educar filhos é tão caro assim.

Pensando no passado: nunca fui triste por dividir as coisas, o espaço e ser criada no “vácuo” dos meus irmãos. Acho que sem tanta programação e sem tantas necessidades materiais éramos mais felizes...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nasce uma ideia

por Alice Birchal


A inquietação diante do mundo masculinizado, a criatividade e a necessidade de expressão levaram a criadora deste blog a nos incitar a debatermos sobre nosso mundo – o feminino – depois da descoberta da pílula anticoncepcional. Surpreendemo-nos diante do fato: já faz cinqüenta anos!!! Não havíamos nos dado conta disso...


Mais do que discutir se o mundo feminino é melhor ou pior do que o masculino, ou se a pílula foi melhor ou pior para a procriação, a oportunidade do blog é criada para nos manifestarmos sobre a vida feminina cotidiana de quem já vive com as várias possibilidades de contracepção e, diante da sociedade brasileira, o pensamento de 50 mulheres, profissionais das mais variadas áreas, de todas as idades, credos e posturas. Agradeço por ter sido lembrada e poder fazer parte dessas reflexões.


Dito isso, apresento-me: tenho 39 anos, sou advogada especializada em família (não por acaso) há 16 anos, professora universitária, mãe, filha, esposa pela segunda vez, irmã, gestante e também inquieta.


As minhas reflexões partem do ponto de alguém que já conheceu o mundo feminino a partir da liberdade sexual e que almeja que a igualdade entre o homem e a mulher realmente seja isonômica, na sua desigualdade. Não sou feminista, porém acredito que somos – homem e mulher – seres humanos e é isso que nos diferencia. Explico-me melhor: gosto da diferença, mas exijo respeito e igualdade profissional, sobretudo. Esse é o motivo de minha inquietação e da minha participação neste blog.

sábado, 1 de maio de 2010

O primeiro romance do mundo pode ter sido de uma mulher


Murasaki Shikibu (978? - 1026?) nasceu na antiga capital do Império do Sol Nascente, dita Heian-Kyo, hoje Quioto. De Origem aristocrática, Lady Murasaki, como é conhecida no Ocidente, viveu na corte do imperador Fujiwara no Michinaga, que governou o Japão no final do século X - época conhecida como o Período Heian. Seu nome verdadeiro é desconhecido e a principal fonte de conhecimento sobre sua vida é um diário, onde com acuidade fez um registro e análise do monótono cotidiano de uma mulher nobre do período.

Seu romance Genji Monogatari ou a História de Genji, é geralmente considerado o maior trabalho da literatura japonesa e, talvez, o mais antigo romance do mundo. Sua narrativa é fluente e dotada de agudeza psicológica, mas excessivamente longa e complexa. Não obstante a história é apaixonante e Genji lembra, em certas passagens, o Dom Juan de Lord Byron. Comparada a Jane Austen e Virginia Woolf, Lady Murasaki é irônica e intimista, e às vezes parece antecipar Freud ao demonstrar, sutilmente, como as transferências eróticas podem ser substituições de relacionamentos passados. O crítico norte-americano, Harold Bloom, que incluiu Lady Murasaki entre os 100 maiores gênios da literatura, disse que "a História de Genji está para cultura japonesa assim como Dom Quixote está para a cultura ocidental."