terça-feira, 12 de outubro de 2010

Será que o amor é o X da questão?

por Ana Raquel


Andando pelas ruas do meu bairro com um amigo, fizemos uma análise sobre o comportamento de outro amigo nosso. Ele disse:


— Estou preocupado com o Roberto


— Eu sei, também estou


— Ele está indo para esta festa cheio de esperanças de que vai voltar com a Núbia


— Sim, e ele está se preparando por esta festa há muito tempo. Pelo menos há uns três meses


— Mesmo? Como você sabe?


— Ué, porque você acha que ele emagreceu, entrou na academia mais cara de São Paulo e não pára de malhar que nem um louco? Ele não é atleta...


— É verdade... Por isso ele está nessa loucura de malhar todos os dias. Como eu não percebi isso antes?!


— Você não percebeu porque esse é um comportamento típico de mulher. Malhar ou fazer regime para se preparar para um evento. Você se lembra de quando eu namorava o Otávio? Antes de encontrá-lo em BH, fazia um regime de frango e arroz integral por uma semana. É a mesma coisa!


Nesse dia, continuei com isso na cabeça por muito tempo. Nós mulheres nos preparamos por uma festa, uma viagem, um encontro... E muitas vezes, nem mesmo há um objeto de desejo em questão. Os rituais de preparação femininos sempre existiram e continuam ocorrendo, independente das conquistas e emancipação alcançadas por nós, após o surgimento da pílula.


Entretanto, o comportamento do meu amigo foi obviamente feminino pelo fato de ele estar apaixonado. Então, quando os homens amam, ficam femininos? Os homens têm os cromossomos XY e as mulheres XX. Será que o amor está no X? Naquilo que nos torna mais próximos um do outro? Será que não somos tão diferentes assim? Várias indagações filosóficas sobre os sexos surgiram a partir daí...


Não acredito que esse tipo de comportamento masculino seja uma novidade devido às nossas conquistas femininas. Afinal de contas, o amor sempre existiu. (Eu acho...rsrsrsrs). E estamos todos sujeitos a ele, independentemente do sexo.


Biologicamente temos nossas óbvias diferenças físicas e, como já sabemos, nossas outras características são determinadas não só pela genética, mas também pelo ambiente. Homens sofrem e choram por amor, assim como as mulheres também podem ser duras, frias e indiferentes quando querem. Temos todos os clichês ao nosso alcance.


Acredito que a liberdade de ambos os sexos estará no fim do julgamento preconceituoso que tenta definir aquilo que cada sexo é capaz ou não. Felizmente acredito também que estamos cada vez mais próximos do momento em que não seremos classificados pelo sexo e sim, simplesmente, classificados como seres humanos. Eu sei... Falta MUITO ainda, mas sempre fui sonhadora e otimista!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onde mora a felicidade?

por Ana Raquel


Todos nós vivemos em busca de alguma coisa. Um trabalho dos sonhos, um amor, uma casa... Muitos podem ser os sonhos, mas o fim é sempre o mesmo. Buscamos a nossa felicidade. Mas será que a nossa felicidade está no óbvio? No mesmo sonho que sua amiga de infância teve?


Sempre imaginei que a minha felicidade era o padrão, sonhado por mim e por meus pais. Um emprego estável, um marido e mais tarde filhos. Fiz o esperado. Encontrei uma graduação que me apaixonou. Lá mesmo, me apaixonei pelo homem que julguei ser o certo. Seguindo o protocolo, no auge da paixão me casei. Seguindo o protocolo, deveria arrumar um emprego estável e logo depois, abrir a fábrica de fazer bebês. Entretanto, as coisas não seguiram bem o planejado. Estudei Ciências Biológicas e após me formar, enveredei-me cada vez mais pelo caminho da pesquisa no pós graduação. O emprego estável para mim seria dar aulas em alguma instituição particular ou pública. Entretanto, descobri que a paixão que sinto pela bancada do laboratório, desenhar estratégias de clonagem e ver o resultado final, são inversamente proporcionais ao que sinto por lecionar. Enfrentar uma sala de aula é algo que realmente não me faz feliz. O tão apaixonado casamento não foi feliz. A pessoa que julguei certa era incompatível.


Havia sempre conversas sobre um futuro filho. Instintivamente, talvez, nunca tive coragem de parar com a pílula. Sempre pensava “será que uma criança seria feliz aqui? Preciso pensar mais, preciso sentir que é a hora certa”. E a hora, nunca chegou. Hoje, estou divorciada e procurando um emprego que, ao final do doutorado, mantenha-me na pesquisa. Talvez, nunca sinta que é a hora certa de ter um filho. Talvez, se voltasse no tempo e visse o atual cenário, eu me assustasse... Ontem comemorei meu aniversário com minha amigas, que entraram em minha vida após o divórcio. Resolvi fazer um exercício e me lembrar dos meus aniversários dos anos anteriores. Aqueles em que passei planejando um futuro óbvio, não foram nem de perto felizes. Foram na cama chorando por alguma briga sem razão, ou sozinha e imaginando que no próximo ano seria melhor. Ontem pensei... O próximo ano não precisa ser melhor, pode ser exatamente assim. Agora estou feliz.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Independência ou Morte!

por Ana Raquel


Sou uma pessoa de misticismos muito particulares. Tenho minhas manias, uma definição de Deus extremamente particular, que já tentei definir para algumas pessoas, mas geralmente me pego perdida e confusa dentro do meu próprio discurso. Sou independente por natureza ou talvez pelas circunstâncias do meu nascimento.


Sou a filha do meio. Fui planejada pelos meus pais, assim como meus dois irmãos. Minha mãe sempre usou a tabela para evitar a concepção e milagrosamente e excepcionalmente, funcionou muito bem para ela. Minha irmã mais velha veio muito festejada. Eu, no entanto, apesar de bem recebida, fui uma decepção. Rsrsrsrs... Meu pai queria o homem, que jogaria pelada na rua com ele. Como sempre, meu pai muito prático e se adaptando a situação, fez de mim seu menininho até os quatro anos de idade, que foi quando meu irmão nasceu. Até os quatro anos, jogava futebol na rua, soltava papagaio, andava sem camisa e tinha os cabelos curtos estilo “Joãozinho”. Houve até um episódio em que um amigo do meu pai levou seu filho para brincar em nossa casa e, depois de passar a tarde inteira brincando comigo, o menino virou-se para o pai e disse: “Pai, por que todo mundo chama esse menino de Raquel?”. Essa é uma piada velha em minha casa. Meu pai repete essa frase rindo até hoje.


Bom, o que aconteceu após o meu irmão nascer, era o esperado... Fui deixada de lado. Há uma diferença de quatro anos entre minha irmã e eu. O que agora não representa muito, mas para infância é um intervalo grande. A partir daí começou o meu processo de independência. Brincava sozinha, pois meu pai, que era policial, sempre teve medo da violência de uma maneira traumatizante. Então, eu não podia brincar na rua com os vizinhos, como era habitual no meu bairro. Acredito que a partir daí, defini também minha profissão. Instintivamente montei um laboratório nos fundos da minha casa. Fazia experimentos com insetos e adorava preparar “venenos” e criar estórias de contos de fada que ficavam apenas na minha cabeça. Perseguia caramujos e casulos de borboletas. Virei bióloga e hoje sou pesquisadora. Passo os dias em um laboratório, exatamente como na minha infância. Gosto da independência e a persigo desde a adolescência.


Nunca houve muita informação na minha casa. Meus pais extremamente tradicionais, não se sentiam a vontade para discutir assuntos de sexualidade com os filhos. A curiosidade, que é óbvia em minha personalidade, foi que se encarregou de me levar às informações necessárias. Perdia aulas no colégio entre as estantes da biblioteca, procurando informações sobre sexo, corpo humano ou qualquer outro assunto que despertasse o meu interesse. Tanto que, sentindo-me senhora de tudo e muito esperta, não contei para ninguém quando menstruei. Fui à farmácia e comprei meu absorvente sozinha aos 12 anos. Apenas não contava com um problema... Tive uma descamação contínua do útero, o que fez com que minha menstruação durasse mais de 20 dias. Comecei a achar estranho que meu fluxo durasse mais do que eu havia pesquisado e resolvi contar a minha mãe. Ela assustadíssima levou-me à ginecologista, mas eu já estava com uma anemia bem acentuada. E assim foi meu primeiro contato com a pílula. O tratamento para suspensão da menstruação foi a pílula, além de muitas cápsulas de complexos vitamínicos e bife de fígado por um bom período (não suporto nem sentir o cheiro até hoje).


Assim como a menstruação veio sem qualquer conversa com minha mãe, veio também o início da vida sexual. Fiz sexo despreparada e sem vontade devido à pressão que meu namorado na época fez sobre mim. FOI HORRÍVEL!!! Após a experiência, senti-me tão mal que terminei o namoro. Só resolvi fazer sexo novamente depois de dois anos, completamente apaixonada. FOI EXCELENTE!!! Rsrsrsrs. Seguindo o padrão de me virar sozinha, marquei uma consulta com a ginecologista e pedi a prescrição da pílula.


Desde os 18 anos tenho tido uma ótima relação com a pílula. Nunca sofri efeitos colaterais. Aliás, a pílula foi um remédio em um segundo momento da minha vida, quando fui diagnosticada com ovários policísticos. Após alguns meses de tratamento com uma pílula com uma dosagem um pouco maior de hormônios, fiquei livre dos cistos. Namoros, casamento... Vieram e foram. Mas, a pílula continuou minha aliada nesta busca pela independência.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN

por Cássia Juliana


A verdade é que a mulher continua sendo uma escrava da pressão social. Há 50 anos, a mulher conquistou sua liberdade sexual. Com poder de comando sobre a gravidez, pôde evoluir intelectual e profissionalmente. Como consequência, veio a liberdade financeira. Pronto. Poder-se-ia dizer que a mulher havia se tornado complemente livre. Certo? Errado.


Independentemente do nível social, econômico ou cultural, a mulher tem uma necessidade intrínseca de se espelhar em algo, para prestar contas à sociedade em que vive. Esse “algo” varia de acordo com o tipo de ambiente onde a mulher em questão cresceu. Pode ser tanto um padrão de beleza, como intelectual, ou, ainda, um padrão comportamental. Recuso-me a citar exemplos ligados à chamada indústria da beleza, porque não existe nada mais batido que isto. Portanto, vamos a situações menos exploradas: Quem não conhece uma mulher solteira que se vê obrigada a ser brilhante e super bem sucedida profissionalmente, pelo simples fato de ser solteira? Parece uma teoria da compensação, se você é solteira, tem que ser brilhante profissionalmente e ganhar rios de dinheiro. Há ainda, casos em que a mulher se obriga a levantar certas bandeiras simplesmente para explicar, ou melhor, para justificar a situação em que se encontra, por exemplo, a mulher casada e com filhos que, por questões financeiras, precisa abrir mão de certas vaidades, como salão de beleza e roupas da moda, para prover a família. Essa mulher comumente sai por aí pregando o quanto a maternidade é especial e “liberta” a mulher do apego a supérfluos. Será que essas mãezonas realmente pensam assim? Será que a maternidade tem o poder de privar a mulher de parte da sua feminilidade? Sinceramente, acho que não.


Em suma, no meu entender, a pílula trouxe sim liberdade, mas nós mulheres precisamos nos libertar de nossas próprias amarras, de nossos próprios preconceitos, para sermos felizes e plenas com o que temos e somos, independentemente do que dizem a sociedade, a mídia, o vizinho, a família etc. Digo tudo isso como mulher que, assim como tantas outras, cede às pressões sociais e levanta bandeiras embusteiras, porém, com a consciência de que este não é o caminho correto.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Prefiro ser esta metamorfose ambulante...

por Cássia Juliana


Advogar nunca foi a minha praia. Formei-me em Direito, primeiro porque detesto matemática, física e química, segundo porque, na época, Direito estava super na moda, era um dos vestibulares mais concorridos, então fui lá e fiz. Depois de formada, advoguei durante cinco longos anos, até decidir já ser hora de fazer algo que realmente me desse prazer. Fui estudar Teatro. Fiz o Curso de Formação de Ator, do Teatro Universitário da UFMG (TU), com duração de três anos, e posso dizer com segurança que, até o momento, foi a decisão mais acertada da minha vida.


No TU, descobri que preciso de beleza para viver. Não digo apenas beleza estética, mas, principalmente, beleza emocional e nada melhor que a arte para proporcionar isso. Feita a descoberta, chutei o balde e fui viver do teatro. Passei três belos anos viajando pelo Brasil, apresentando peças educacionais nos mais diversos lugares, para os mais diversos públicos. Como experiência de vida e realização de um sonho romântico foi maravilhoso, mas a vida real custa caro... Contas, contas e mais contas a pagar... Fiquei entre a cruz e a espada. Ou ganhar dinheiro para viver “bem”, ou viver bem, mas aos trancos e barrancos. Pensei: “De jeito nenhum. Quero as duas coisas. Viver ‘bem’ e bem”. Foi aí que bati o martelo. Passei em um Concurso Público e, à noite, tenho o meu Grupo de Teatro, minha “Caixa de Fósforos” querida, onde, juntamente com oito amigos maravilhosos, realizo todos os meus sonhos e desejos artísticos, enchendo minha vida da mais pura e verdadeira beleza.


Apesar de atualmente estar de bem com minha situação profissional, não considero esse capítulo encerrado. Prefiro sempre deixar o tema em aberto, para evitar o tédio.


Profissionalmente, vivo em dois mundos completamente diferentes. No meu trabalho como servidora pública, o ambiente é predominantemente feminino, quase não lido com homens. Já no teatro, os homens são maioria absoluta, sejam eles hetero ou homossexuais. Mas, pela própria natureza das duas instituições, no teatro posso ser muito mais feminina.


Sinto que o serviço público, assim como as empresas privadas, ainda que liderados por mulheres, nos impõem uma certa masculinização, sem a qual não conseguimos nos fazer respeitar plenamente, nem mesmo pelas outras mulheres. Essa é nada mais, nada menos, que uma herança machista, passada geração por geração.


Essa herança está tão arraigada em nós, que chega a ser inconsciente. Pode parecer piada, mas se prestarmos atenção, notamos no dia-a-dia exemplos clássicos de preconceito machista, partindo não só de homens, mas também de outras mulheres e, muitas vezes, até de nós mesmas. Quem de nós já não deu pouco crédito a uma profissional, seja de que área for, pelo simples fato da fulana ser muito bonita? Ou até o contrário, como o caso de superestimarmos as qualidades profissionais de uma beltrana, porque a tal era feinha?


O fato é que essas teorias preconceituosas são total e completamente furadas. A mulher atual zela por sua qualidade profissional, com o mesmo apreço que zela por sua aparência. Não existe mais esta história de mulher que opta por ser bonita ou ser inteligente. O estilo Marilyn Monroe está mais que ultrapassado.


Quando sentirmos que estamos sendo respeitadas, temos que pensar a que custo estamos recebendo tal respeito. Do que estamos abrindo mão, para sermos levadas a sério.


Nesses 50 anos de pílula, foram muitas vitórias, muitos progressos, mas ainda há muito a se conquistar. Como em todos os outros aspectos da vida, não podemos nos acomodar e deixar a correnteza levar o barco, temos que continuar remando, sempre e sempre, em direção à liberdade.


Respeito de verdade, teremos no dia em que não precisarmos fazer nada além de sermos nós mesmas para recebê-lo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Caju para os íntimos

por Cássia Juliana


Cássia Juliana, 34 anos, brasileira, natural de Belo Horizonte/MG, solteira (ora por opção ora por falta de opção), advogada, atriz, servidora pública, atleticana, consumista na medida, vaidosa, um pouco narcisista, um pouquinho egocêntrica, às vezes carente, às vezes totalmente autossuficiente. Uma balzaquiana normal, fã do Sex and The City.
Primogênita de três irmãos, nasci e fui criada em uma TFM (Tradicional Família Mineira), ou seja, pai repressor e mãe Pôncio Pilatos (sempre lava as mãos...). Lá em casa, educação sexual significava “nunca fazer”. Durante toda minha infância, adolescência e até mesmo parte de minha vida adulta, nunca pude fazer sequer a menção de ter interesse em homens. Para meus pais, eu era e deveria continuar sendo um ser assexuado.


Como toda criança, ouvia coisas na rua, na televisão e ia perguntar aos meus pais o significado das mesmas, por exemplo, o que era “Motel”. Lembro-me como se fosse hoje... Eu deveria ter uns 6 ou 7 anos e sempre ouvia nos programas de TV a palavra “Motel” e ficava intrigada com aquilo... Então, obviamente, ia perguntar à minha mãe – Mãe, o que é “Motel”? – resposta: Pergunta pro seu pai. – Pai, o que é “Motel”? – resposta: Pergunta pra sua mãe. E assim fui crescendo, até descobrir, por mim mesma, o significado da tal palavra.


Hilário mesmo, foi quando fiquei menstruada. Eu tinha 10 anos e estava em casa, só com a empregada. Quando fui ao banheiro e vi minha calcinha suja, corri para mostrar à moça, sem ter a menor noção do que estava acontecendo comigo. Quando ela viu, disse - Ih...Você ficou menstruada – e mandou eu colocar um bolo de papel higiênico no lugar. Quando minha mãe chegou em casa, contei a novidade a ela, que, assistindo a novela estava e assistindo a novela continuou, disse-me apenas – Ah é? Eu não preciso lhe falar nada não, né? Você já sabe tudo – Eu não sabia nem mesmo o quê eu tinha pra saber... Como é que eu já iria saber tudo? Enfim, sem saber nada, nem mesmo colocar um absorvente direito, eu respondi que sim.


Quando adolescente, não podia nem pensar em sair com meus amigos para ir ao shopping ou ao cinema, mas, como a vontade de me divertir era imensa, eu sempre pedia para ir e a resposta era sempre a mesma – Cê tá doida? - Para o meu pai, o mundo era uma bomba prestes a explodir, uma selva cheia de monstros, onde o único lugar seguro era a nossa casa e lá eu deveria permanecer trancada, salvo para ir ao colégio.


Bom, mas, graças a Deus, o tempo passa e eu cresci, fiquei adulta, comecei a trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro. Quando isso aconteceu, eu fui à forra, recuperei anos de infância e adolescência trancados em casa, assistindo à TV. Dos meus 24 aos 27 anos, eu fui uma versão mineira da Rê Bordosa*. Minha vida era uma farra só. Homens, bebida, bebida, homens, homens e mais homens. Virava as noites em boates e depois ia direto para o trabalho. Foi uma época punk. Até que eu me cansei. A farra foi boa, mas perdeu a graça. Depois de me relacionar com um sujeito por 3 anos, quietei o facho. Fiquei caseira. O relacionamento foi um fiasco, mas foi bom para eu me desacelerar. É claro que ainda saio, tenho meus casos, tomo meu whisky, mas, hoje em dia, sou bem tranquila, não aguento mais muita confusão.


Por incrível que pareça, foi também já adulta que tive minha primeira consulta com um ginecologista. Devo confessar que, ao chegar no consultório, eu parecia uma adolescentezinha, não sabia várias coisas básicas, como, por exemplo, o funcionamento da pílula. Quando adolescente, não recebi qualquer tipo de orientação e, como ficava muito presa em casa, não tinha namoradinhos nem nada, então a pílula e outros métodos contraceptivos passaram despercebidos por essa fase da minha vida.


Tive sorte de achar um médico incrível. Além de excelente profissional, foi também um amigo, que, pacientemente, explicou a mim, uma mulher adulta, tudo sobre educação sexual, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis, uso correto da camisinha, até a tabelinha ele me ensinou.


Comecei a tomar a pílula aos 24 anos e, com apenas 6 meses de uso, tive que parar. Sou hipertensa. Por recomendação tanto do ginecologista quanto do cardiologista, não devo tomar pílula. Como método anticoncepcional, há 10 anos uso D.I.U., ao qual me adaptei muito bem, além da camisinha, é lógico.


Então é isso... Não sigo nenhuma religião, nem nenhum partido político. Não gosto de nada que vá me adjetivar como “vinculada”, sei lá, passa-me a ideia de prisão ou algo contra o qual eu teria que travar uma verdadeira batalha para me livrar, caso ficasse de saco cheio. Tá aí... Acho que o “solteira por opção” se encaixa nessa situação. Enfim, amada por uns, odiada por poucos... Só sei que sou assim.


* Rê Bordosa = personagem do Angeli.

domingo, 11 de julho de 2010

Começar de novo assusta, mas construir sempre é interessante...

por Renata Baldow


4/7/2010, 4h30min: Estou no meu período de descanso no plantão e aproveito para escrever...


Depois da formatura, resolvi fazer residência médica. Sabia que também não seria fácil, no mínimo quatro anos trabalhando exaustivamente, estudando loucamente e ganhando uma bolsa que sozinha não garantiria meu sustento, ou seja, além da carga horária da residência, teria obrigatoriamente que complementar a renda com plantões externos.


Estou no meu quarto ano, rugas, olheiras e privação de sono no currículo, quase acabando. E a tão pouco tempo do sonhado término, confesso que surge a angústia; daqui a poucos meses sairei de um ótimo serviço de medicina e desbravarei por conta própria algum cantão do Brasil.


Começar de novo, começar do zero, é um pouco assustador. Longe do glamour de outrora, ser médico não é fácil, aliás nunca foi. Longas jornadas, remuneração ruim, falta de boas condições de trabalho, exploração pelos planos de saúde, são alguns dos problemas que enfrentamos.


Para quem até pouco tempo tinha como preocupação principal a parte acadêmica da coisa, cair de cara no mundo real é um choque para o qual tento me preparar diariamente. Falta esta disciplina na faculdade e na residência: como se virar agora, como enfrentar novos obstáculos administrativos. Sinto que é mais um quesito a ser aprendido na prática, tenho bons exemplos a serem seguidos, mesmo assim, assusta partir do zero. O outro lado da moeda é que construir sempre é interessante, começos, recomeços, ter a chance do início, isso é bárbaro!


Tenho alguns meses para planejar como começar, mesmo que muitas vezes não sigamos os planos, enfim, tenho muitas dúvidas. Apesar de tudo isso, meu sentimento maior é de dever quase cumprido, é de agradecimento e de alegria por ter conseguido chegar neste momento da minha vida.


Considero-me feliz com minhas escolhas. Então, que venha o futuro!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Atrás de novos objetivos é que eu vou...

por Renata Baldow


Caçula de quatro filhos (dois casais comigo), filha temporã (a diferença de idade para a minha irmã é de nove anos), nasci em Belo Horizonte há 30 anos.


Minha infância, ocorrida no Espírito Santo, foi interessante, cheia de correria, subidas em telhados/muros, jogos na rua, quedas de bicicleta e as cicatrizes residuais que ostento até hoje (com muito orgulho, sinais de uma infância feliz).


Cresci em uma turma de amigos que mantenho até hoje e são muitos os momentos compartilhados desde essa época. A passagem para a adolescência foi mais difícil, talvez por eu ter gostado tanto de ser criança.


Superada as crises, prossegui e, não posso reclamar, também aproveitei muito essa fase. Um período, diria, de ouro para mim, foi o do antigo segundo grau. Fiz o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG, ensino técnico, e mais do que uma boa escola, tive uma lição de vida. Convivi com pessoas as mais diferentes possíveis, fiz grandes amizades para a minha vida, cresci, amadureci. Apesar da opção de não continuar na área técnica, não me arrependo dos bons anos "cefetianos" e sinto que aqueles que cursaram o CEFET compartilham o mesmo sentimento.


Àquela altura, entreguei-me a um sonho antigo: ser médica. Foi uma decisão dura, pois justamente nessa época minha família passava por uma grave crise financeira e um curso de medicina, mesmo que numa faculdade federal, representaria um alto custo. Com o apoio de meus pais e irmãos, consegui passar no vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Foi uma festa! Eu e minhas amigas subimos até em trio elétrico para comemorar.


A trajetória da faculdade foi penosa, seis anos dificílimos, mas novamente com a ajuda da minha família, do meu marido (na época, namorado), das amigas e amigos e das novas amizades da universidade (pessoas maravilhosas que encontrei na vida) concluí o curso.


Completo, agora em Julho, quatro anos de formada. A jornada não acabou, os sonhos se renovam e atrás de novos objetivos é que eu vou...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma homenagem às corajosas mulheres que nos abriram caminho

por Renata Baldow

Achei por bem começar a falar sobre mim. Tenho 30 anos completos de forma tranquila, sou casada, não tenho filhos (graças à pílula). Sou médica residente, ou seja, estou em um momento de total entrega a profissão. Considero que fui muito bem criada por meus pais e agradeço-os por todos os bons exemplos dados ao longo desses anos. Meu pai é um homem que apesar de pertencer a outra geração, aprendeu a ser moderno em vários aspectos. Minha mãe também e talvez ela seja um exemplo do que a pílula significou (fora o impacto médico-epidemiológico) na vida da mulher, mesmo sem ter usado uma cartela sequer.

Ao possibilitar o direito da mulher em procriar ou não, a pílula abriu o precedente de se ter uma opção em outras escolhas na vida – casar ou morar junto, fazer faculdade ou não, trabalhar fora ou ser dedicada somente às tarefas do lar e por aí vai. Dentro desse contexto mulheres como minha mãe, a princípio criadas e moldadas para terem poucas escolhas, aprenderam a achar o que era melhor para elas e fizeram suas opções, certas ou erradas, mas coerentes com suas necessidades e convicções. As gerações subseqüentes de mulheres já tiveram a oportunidade de ter o direito da escolha embutido em sua criação.

Minha irmã, minhas amigas, eu, nós usamos a pílula, desfrutamos de seus benefícios e de tudo o que ela significou, mas penso que graças a mulheres como minha mãe, usuárias ou não da pílula, mas contemporâneas de uma era de mudanças, graças a elas, temos nossas opções respeitadas, construímos nossas vidas da forma que achamos conveniente. Nestes 50 anos de pílula presto minha homenagem a essas corajosas mulheres que nos abriram caminho. Obrigada às mães, tias, professoras, enfim todas vocês exemplos de vida e luta. Parabéns pelas conquistas!

domingo, 27 de junho de 2010

Vingindade ainda existe?

entrevista de Katia Thomaz com a Dra. Néli Sueli Teixeira de Souza, ginecologista e obstetra


- O tema "virgindade" foi totalmente abolido do vocabulário leigo e profissional?


Dra. Néli - O tema ainda não está abolido, mas a cada dia é menos pronunciado.


- A mulher e o homem ainda se preocupam com a virgindade?


Dra. Néli - A mulher hoje não tem mais orgulho de ser virgem e não se sente inferiorizada ou ameaçada quando inicia sua vida sexual antes do casamento. Muitas o fazem sem o conhecimento da família. Em alguns casos a mãe é conivente, mas o pai é "poupado", porque não aceita ou, talvez, porque ainda não saiba lidar com essa situação. Prefere, vamos dizer, fingir que não está entendendo o que está acontecendo, para não ter que tomar atitude. Algumas, mais maduras, têm até vergonha de serem virgens, como se isso fosse um atestado de abandono. Aprenderam que deveriam se guardar, mas o tempo passou... o príncipe não chegou e a virgindade ficou demodê. Entretanto, ainda existem mulheres que, por valores culturais ou religiosos, "se guardam para o marido". Em se tratando de religião, pelo menos no nosso meio, a única que prega a virgindade de homens e mulheres e que parece atingir algum objetivo é a Batista.


- A nova paciente é questionada sobre a virgindade? Os procedimentos são diferentes?


Dra. Néli - Durante a consulta a virgindade é questionada para se saber como examinar, que doenças prevenir ou suspeitar, etc. Por exemplo, não se realiza prevenção do câncer do colo uterino em virgens, porque para isso seria necessária a colocação de um espéculo, procedimento que poderia lesar o hímen. Além do mais, as virgens não possuem risco para esse tipo de doença.


- Há algum estudo recente sobre o assunto?


Dra. Néli - Não tenho estudos novos sobre o assunto, mas acho interessante pesquisar.


- Há notícias recentes sobre "plástica de reconstituição do hímen" (vide caso Ângela Bismarchi). Qual a sua posição a respeito?


Dra. Néli - A reconstituição do hímen é uma cirurgia fadada ao fracasso. Os resultados não são bons (o hímen praticamente não pode ser reconstituído). De minha parte, nunca estimulei, nunca realizei e contra-indico esse procedimento, por considerá-lo, além de inútil, ineficaz. Gostaria de conhecer o "caso da Ângela Bismarchi", pois não o acompanhei. Parece-me ser, mais uma vez, uma auto-promoção... Mas poderíamos perguntar a ela: O que isso muda?

domingo, 20 de junho de 2010

A mulher no núcleo familiar moderno

por Mônica Dias


Anos atrás a maioria das mulheres se casavam por amor ou imposição familiar ou porque não conseguiam absorver a hipótese de não se casarem simplesmente. Nesses casos a mulher era dona de casa, quase não tinha opções para trabalhar, ser ouvida, planejar o número de filhos ou poder simplesmente ter vários relacionamentos, porque isso implicava em ser rotulada como uma mulher sem valor.


O feminismo alterou essa relação da mulher com a sociedade em diversos aspectos. Ela passou a ter direitos legais como o direito de votar e o direito a utilização de contracepção, direito à proteção de seu corpo e moral que se relacionam a violência doméstica, assédio sexual e estupro, dentre outros.


Nas relações mais modernas as mulheres não se casam mais pelos motivos citados, mas por decisão própria e querem participar da sociedade e tomar decisões sobre os vários assuntos do seu lar, participar ativamente do mercado de trabalho, serem valorizadas enquanto mulheres, profissionais e cidadãs. No início isso se tornou um complicador, pois todas as tarefas do lar continuavam sendo de sua única responsabilidade e ainda se sobrecarregava com as demais obrigações que sua maior liberdade acarretou.


Como a sociedade lhe negou por muitos anos direitos fundamentais a sua existência atual, podemos ver que o núcleo familiar vem se alterando a cada ano que passa. Participar do núcleo familiar é se tornar co-responsável tanto pelo sustento como pela educação, saúde, desenvolvimento de valores morais e religiosos da família que tinham como único responsável o homem.


Nessa dinâmica mudança temos o advento e facilidade de se finalizar os casamentos com o divórcio, a violência que chega cada dia mais perto de nossas casas, a visível decadência dos valores morais e religiosos, a desvalorização da família, assim vemos que forçosamente ou não, nos diversos níveis socioeconômicos a mulher se torna o centro do núcleo familiar não só uma parte desse núcleo, fato inimaginável anos atrás.


Essas mudanças são reflexos de hoje podermos escolher parceiros e maridos, a não aceitação de sermos objetos meramente decorativos nos lares, do planejamento familiar, de diálogo entre os parceiros e de sermos parte importante da sociedade.


As famílias têm sofrido mudanças ao longo dos anos mas é inegável que a mulher teve papel fundamental nessas mudanças.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Deixo a vida me levar...

por Natália Brunacci


Eu presenciei mudanças importantes na mineração em que eu trabalhava no interior de Goiás. Fui a primeira geóloga, mas em pouco tempo vi outras chegando. E uma conquista importante: a mineração abriu vagas para as mulheres na mina, operando equipamentos. Cada vez que uma notícia dessas chegava ao escritório, eu vibrava enquanto meus “colegas” faziam piadas. Entre uma piada e outra, nós fomos conquistando nosso espaço.


Não posso contar no que deu essa história, porque bateu um vento-sul e, quando percebi, eu já estava atravessando metade do globo rumo à Austrália, onde seria meu próximo emprego. Vim direto pra Kalgoorlie, uma cidadezinha movida à mineração no meio do deserto australiano. Geóloga, solteira e brasileira, seria eu, aqui na Austrália, um animal ainda mais exótico?


Não.


Aqui as mulheres já estão integradas no ambiente de mineração. Eu não fui a primeira geóloga, nem a única. Geólogas, engenheiras, auxiliares de campo, mineradoras, operadoras de equipamentos, técnicas em explosivos, motoristas de caminhão (aqueles caminhões gigantescos!): aqui as mulheres ocupam vários cargos outrora considerados “masculinos”. Existem, ainda, várias organizações que promovem a inserção e manutenção da mão de obra feminina na indústria de mineração.


Eu imagino que a questão da disponibilidade de mão de obra tenha sido um fator determinante na inserção feminina na indústria de mineração. A Austrália é um país quase tão grande quanto o Brasil, com uma população de aproximadamente 22 milhões (compare isso com os 192 milhões do Brasil). Como diz o ditado: "A necessidade aguça o engenho"!


A maior participação feminina, porém, não faz o ambiente menos masculino. Kalgoorlie, por exemplo, funciona para os homens. Aqui, os bares ficam abertos 24 horas para que esses pobres trabalhadores, após um árduo turno de trabalho, possam desfrutar de uma cerveja gelada servida por uma garçonete topless (a famosa “skimpie”). As mulheres, geralmente, vão para casa encarar mais uma jornada.


Empregada, babá e creche são luxos caríssimos na Austrália. O mais comum é que as mulheres, após terem filhos, passem a trabalhar meio período ou abandonem a carreira para cuidar da família. Eu, particularmente, não conheço nenhuma mulher com mais de um filho que trabalhe período integral (fora de casa, porque em casa eu sei que elas trabalham - e muito!).


Mesmo assim, parece ser senso-comum a opção pela família. Freqüentemente eu vejo no supermercado jovens mães cercadas por uma penca de filhos, o que me faz pensar: “Será que está na minha hora de contribuir com a perpetuação da espécie?”


Enquanto eu não decido, eu deixo a vida me levar...

domingo, 13 de junho de 2010

Igual, pode ser. Melhor, ainda não...

por Natália Brunacci


Eu me considero uma pessoa desprendida. Não tenho medo de mudanças, reestruturações ou recomeços. Minhas ambições e planos sempre foram globais, como diz a minha irmã, eu sou “do mundo”. Por sorte escolhi uma profissão adequada à minha inquietude: sou geóloga. Hoje a minha opção de vida é desfrutar de tudo que a minha profissão tem a me oferecer. Amanhã, se eu decidir constituir família, já é outra história.


Assim que eu me formei em geologia, arrumei um emprego em uma empresa de mineração numa cidadezinha do interior de Goiás. Sem saber o que me esperava, juntei minhas tralhas, despedi-me da mordomia de BH e fui...


Eu era a primeira geóloga mulher da empresa, E em uma cidadezinha movida à mineração, geólogo é “doutor”. Havia também outras mulheres trabalhando lá, mas todas em cargos administrativos, e a maioria delas era casada. Geóloga e solteira, isso fazia de mim um animal muito mais exótico!


Devo admitir que sempre fui respeitada no meu ambiente de trabalho, principalmente pelos funcionários supervisionados por mim, graças à hierarquia empresarial. As piadinhas, por incrível que pareça, vinham das pessoas do meu patamar, ou seja, dos meus “colegas”. Machismo disfarçado de piada.


Muito trabalho, conquistas concretas e mensuráveis e constante auto-afirmação. Independente das vitórias profissionais, o respeito só era conquistado no bar! Meus amigos falavam com orgulho: “A Natália bebe igual homem!”. Mais uma afirmação preconceituosa, porque na verdade eu deixava todos os meus “colegas” no chinelo quando a disputa ia para a mesa do boteco, e mesmo assim eu nunca ouvi um “A Natália bebe muito mais que qualquer homem!”. Puro desperdício de fígado!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma pessoa de sorte!

por Natália Brunacci


Eu sou a caçula de uma família pequena, programada graças à pílula. Pai, mãe, duas filhas. Acho que posso dizer que sou cria da emancipação feminina, ou seja, eu já nasci emancipada! Claro que é porque eu dei sorte de cair nessa família! Faz toda diferença ter pais informados, politizados, atualizados e críticos.


É claro que a pílula foi fator determinante na evolução do comportamento sexual desde a juventude dos meus pais até a minha juventude. E vai continuar sendo para todas as outras gerações que estão por vir! E, vamos combinar, que o comportamento sexual desde a revolução mudou muito, e muito rápido! Tão rápido, que na minha adolescência é que eu fui perceber que meus pais estavam mais perdidos do que “cego em tiroteio”!


Eu me lembro que, quando voltava de escola de carro com a minha mãe, no trânsito infernal de Belo Horizonte, ela fazia discursos e mais discursos sobre camisinha, AIDS, gravidez, que eu tinha que me cuidar cuidar, blá blá blá... tudo que eu queria era pular para fora do carro no primeiro sinal e sair correndo!!! O engaraçado é que nunca me ocorreu de simplesmente dizer “Alooouuu, eu sou virgeeemm!!!!”.


E quando a gente falava “fiquei com o fulano” eles arregalavam um olhão. Não sei o que meus pais achavam que acontecia quando eu ficava com alguém, mas eu posso garantir que a imaginação deles ia muito além dos beijinhos inocentes atrás da escada.


Quando eu tinha 14 anos, minha professora mandou ler o livo Namoro - Relação de amor e sexo, do Flávio Gikovate. Meu pai tarabalhava no centro, então pedi que ele comprasse o livro pra mim. Quando chegou em casa do trabalho, ele me entregou o livo com um sorriso e falou: “Isso mesmo, minha filha! Cê tem é que ficar mesmo!”. Aconteceu que, durante a volta para casa, meu pai começou a ler o livro no ônibus, aí ele entendeu que o ficar era uma coisa saudável, que eu estava só descobrindo a minha sexualidade.




Passado o baque inicial da “tempestade hormonal” do início da adolescência, meus pais, minha irmã e eu aprendemos a nos entender e a respeitar nossas escolhas afetivas e sexuais. A gente apresentava um outro namorado, mencionava um ou outro ficante. Quando o telefone de casa tocava, se eu não corresse pra atender, eu pedia para minha mãe dizer que eu não estava. Minha mãe me encobria, meu pai achava uma sacanagem!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Navegando em águas tranquilas

por Maria Izabel Brunacci

(Professora de literatura brasileira, autora da livro Graciliano Ramos, um escritor personagem e escritora no blog PedraPalavraVoz. Mãe de Angélica e Natália. Avó de Sofia e Laura)


Hoje, temos já certo distanciamento crítico para fazer a avaliação do impacto da pílula anticoncepcional na vida das mulheres. É possível dizer que melhoramos em relação a nossas avós, mães e tias? Claro que sim. Nós aprendemos não apenas que podemos ser donas de nossos corpos e nossos desejos, mas também lutamos cotidianamente para criar as condições de exercer essa liberdade.


Será que a sociedade mudou também, na mesma proporção que as mulheres protagonistas do início desse processo de liberação? Quanto a isso, tenho minhas dúvidas. Como todo processo histórico, as mudanças no Brasil ainda estão em curso, com avanços e retrocessos. Na mudança do milênio, houve aumento do misticismo e da religiosidade, denotando a desaceleração das mudanças e o aumento do conservadorismo.


Políticas de saúde pública foram implantadas, propiciando o acesso de um maior número de mulheres, de todas as classes sociais, aos métodos contraceptivos, principalmente a pílula anticoncepcional. Há maior preocupação do poder público com o planejamento familiar, mas em relação tensa com a igreja e com grupos conservadores, contrários à descriminação do aborto. (Se você quiser conhecer os componentes da política pública de planejamento familiar, visite o sítio http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=152 )


Pois então. As conquistas femininas no mundo pós-pílula são, também elas, parte de um processo maior em que diferentes grupos lutam pela emancipação na sociedade. Certamente os efeitos dessas mudanças serão diferentes para as mulheres ricas e para as mulheres pobres, para as brancas e as negras, para as religiosas e as agnósticas. Porque, no fundo, o contexto em que se dá a luta por essas conquistas é o solo da sociedade capitalista, em que cada avanço, individual ou coletivo, coloca em risco um setor produtivo, que a ele resiste.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Não há emancipação pacífica

por Maria Izabel Brunacci

(Professora de literatura brasileira, autora da livro Graciliano Ramos, um escritor personagem e escritora no blog PedraPalavraVoz. Mãe de Angélica e Natália. Avó de Sofia e Laura)


Nenhum processo emancipatório é pacífico. Com a liberação feminina não foi diferente. Em uma sociedade sexista, com o predomínio do poder masculino a submeter as mulheres, não poderia faltar o conflito.


Pelos mais diferentes motivos, as mulheres ousaram abandonar maridos e reivindicar a guarda dos filhos. A reação a esses voos de liberdade é sempre violenta. Os crimes passionais tiveram verdadeira escalada nos últimos 30 anos, aparentemente na mesma proporção em que cresceu o número de mulheres que decidiram se emancipar.


Ainda na década de 1970 surgiu nos meios jurídicos a tese da “legítima defesa da honra” para justificar os assassinatos de mulheres pelos maridos inconformados com a separação. Hoje desacreditada pela Lei Maria da Penha, essa tese serviu para abrandar a pena de alguns assassinos de mulheres, como o famoso playboy Doca Street, que matou a tiros a socialite mineira Ângela Diniz.


Essa escalada de violência contra as mulheres foi tão intensa que motivou protestos por todo o país, dando origem ao slogan “Quem ama não mata” e mobilizando pessoas de todas as classes sociais para que se estabelecesse um marco legal de proteção da mulher contra a violência doméstica e os criminosos passionais.


Ao longo desses 30 anos, a pílula anticoncepcional foi se modificando: deixou de ser a “bomba hormonal” do início dos anos 1970 e passou, com menos efeitos colaterais, a ter maior eficácia nos efeitos contraceptivos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Cena incomum, de um casamento muito comum...

A mulher contemporânea precisa ser compreendida em sua sensibilidade feminina para permanecer feliz ao lado do parceiro. Necessita de atenção e elogios, precisa ser percebida em seus pormenores, em suas variações, em sua potência.


Veja como essa característica feminina foi surpreendentemente retratada pelo diretor Ivan Attan e escritor Olivier Lecot nesta cena do filme de 2008 New York, I love you (no Brasil, Nova Iorque, eu te amo).

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uma janela para o tempo: nós e a pílula

por Maria Izabel Brunacci

(Professora de literatura brasileira, autora da livro Graciliano Ramos, um escritor personagem e escritora no blog PedraPalavraVoz. Mãe de Angélica e Natália. Avó de Sofia e Laura)


Quando a pílula anticoncepcional foi inventada eu tinha apenas 5 anos e sequer imaginava o quanto essa invenção seria importante para me ajudar, anos mais tarde, a vivenciar aquilo que, posteriormente, ficou conhecido como “a liberação feminina”.


Em fuga de pequena cidade do interior, fui parar na capital, com o objetivo de todos os que participavam do verdadeiro êxodo da juventude nos anos de 1960 e 1970: trabalhar e estudar. Morando em república com mais oito ou nove meninas chegadas de diferentes cidades interioranas, iniciei em 1974 a difícil experiência de trabalhar oito horas por dia e estudar à noite, longe do carinho de mãe e pai, procurando desesperadamente um lazer barato nos fins-de-semana. Era o período da ditadura militar e as restrições à liberdade pesavam sobre nossos ombros, o que nos dava certa consciência política.


Claro que nessa experiência não poderia faltar o contato com homens de todos os tipos, desde os mais bem postos na vida até os estudantes duros. E as paixões, obviamente, aconteciam. Com elas o desejo de perder o medo, que fazia a gente perder a vergonha de ir ao ginecologista, à procura de métodos contraceptivos seguros. E era ela, a pílula, a primeira a ser recomendada para que pudéssemos exercer o direito de decidir o que fazer com nossos corpos, livres das amarras da moral hipócrita dos anos de 1960.


Para a jovem de hoje isso pode parecer banal. Mas para nós, naqueles tempos em que nossos corpos eram governados por nossos pais, mães e irmãos, isso era fundamental para nossa afirmação identitária como mulheres. Ser mulheres não mais como nossas avós, mães e tias, em forçada dependência de seus maridos; ser mulheres, sim, com todas as responsabilidades que isso implicava: garantir nosso próprio sustento, desenvolver carreira profissional, estudar para além dos cursos superiores conhecidos como “espera-marido”.


Evidentemente houve os escorregões que obrigaram uma ou outra a recorrer às aborteiras clandestinas, mas a maioria administrou bem o uso da pílula, dando início a uma onda de casamentos informais – nada de igreja, véu e grinalda – e à gravidez planejada. Não mais a gravidez indesejada, naquelas situações em que o remédio era casar para “reparar o erro” ou abortar.


Hoje, cinquentona, paro para prestar atenção no tipo de mulheres em que nos transformamos. Somos todas muito diferentes umas das outras: algumas foram muito bem-sucedidas financeiramente, outras nem tanto; a maioria de nós se casou e – admirem-se! – ainda vivem com seus maridos. Filhos? Algumas tiveram três, outras tiveram dois. Duas já são avós. Ideologicamente, são diferentes: algumas são conservadoras e religiosas, mas pelo menos duas se mantiveram à esquerda e agnósticas.


Mas uma coisa todas temos em comum: a pílula anticoncepcional fez parte da nossa vida e foi fundamental para que pudéssemos viver, enquanto assim o quisermos, como mulheres emancipadas e autônomas.

Respeito é bom, mas nem tanto...

por Janini de Carvalho


Se existe uma palavra que resume qualquer justificativa e pode encerrar qualquer atitude inconveniente, essa palavra é: respeito. Respeito e ponto final.


Quantas vezes no auge de discussões e no calor dos ânimos ouvimos: Respeite! Independente do que seja, soa de forma diferente. Traz-nos certa vergonha, a sensação de algo mal dito ou “maldito”...


No período entre meus 16 a 20 anos, algumas amigas me pediam para esconder a cartela de pílulas anticoncepcionais e precisavam me encontrar diariamente para tomá-las. Para mim isso nunca foi problema, pois comecei a tomá-las muitos anos antes de iniciar minha vida sexual. Não por neura precoce ou por ansiedade para tomá-las. Não mesmo! Comecei por recomendação médica. Para evitar a acne e regular meu ciclo menstrual. O diagnóstico era “útero retrovertido”, mas não me lembro se a prescrição da pílula foi decorrente disso ou se era mesmo para evitar a acne. Só sei que funcionou bem para a acne.


Minhas colegas, mesmo aquelas com muitos anos de namoro e com namorados 10 a 15 anos mais velhos, escondiam o uso da pílula “em nome da moral e dos bons costumes”. E melhor mesmo que tenha sido assim, já que a gravidez, na conjuntura em que se encontravam, teria sido um transtorno infinitamente maior.


Como não vivenciei essa “castração”, sempre questionei como seus pais não percebiam que elas já tinham vida sexual ativa e sempre ouvia a mesma resposta:


“–Com certeza eles sabem, mas mostrar que tomo pílula comprovaria que eu sei que eles sabem e, por respeito e para poupá-los da decepção, eu escondo. Entendeu?”


Entendi... A que ponto chega a estupidez humana... E os riscos que corremos para manter as aparências...


E já passados muitos anos desde a minha adolescência, ainda escuto estranhos comentários a respeito da pílula de mulheres bem informadas e que não necessitam comprovar sua castidade. “- Agora vou tomar pílula porque paramos de usar a camisinha.” “- Não quero ganhar quilos a mais na balança, por isso não tomo pílula.” “- Experimentei e acho que fiquei insensível e com falta de libido (essa é demais!).”


Ok. Todos nós temos direito de escolher e de respeitar (palavrinha mágica) as opções individuais e os diferentes pontos de vista, mas passados 50 anos desta invenção, algumas perguntas não querem se calar:


Pergunta 1

Com a inúmera quantidade de hormônios sintéticos desenvolvidos, não consegue encontrar nenhum tipo que lhe sirva???!!!


Pergunta 2

Você não toma pílula porque existe possibilidade de engordar 3 a 4 kg e ter varizes, mas não para com as barras de chocolate, bebidas alcoólicas, sorvete, vida sedentária, horas sentada na mesma posição e saltos finos e altíssimos???!!!


Pergunta 3

Você reclama da insensibilidade e da falta de libido decorrentes do uso da pílula, mas acredita que seguir tabelinhas, usar a pílula do dia seguinte, passar dias preocupada esperando a bendita menstruação, deixar seu parceiro sempre sobressaltado, privar-se de sexo naqueles dias de ovulação (segundo seus cálculos), tudo isso potencializado com seus ataques de TPM, aumenta seu apetite sexual???!!!


Pergunta 4

Você acha que o uso constante de remédio lhe faz mal, mas pensa que se entupir de refrigerantes, almoçar mal, dormir tarde, comer, todos os dias, alimentos salgados e industrializados, preserva sua saúde???!!!


Posso estar equivocada, mas relato que a pílula é muito mais do que meu método contraceptivo, ela é fator determinante do que sou hoje, pela honestidade, liberdade desde sempre com minha família, com os namorados que tive e, acima de tudo, comigo mesma. E isso sim pra mim é Respeito!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pequenos universos femininos

por Mariana Esteves

Como é difícil falar sobre a gente, tarefa mais difícil ainda quando temos de nos posicionar neste vasto universo. Será que a primeira categoria que me constrange e me limita no mundo é a do sexo? Como experiencio a vida enquanto mulher? É através do meu pequeno universo que posso falar algo sobre mulheres.

Minha bisavó materna foi mãe solteira, ateia e professora de português. Vovó Marlena casou com o filho único da bisa aos 13 anos e, no mesmo dia, parou de estudar . A bisa controladora estimulava o vovô a sair com moças mais estudadas porque vovó devia era ficar em casa cuidando dos filhos. Desse casamento à moda antiga nasceu mamãe, caçulinha, ovelha negra que enfrentava os flertes extraconjugais do vovô. Mamãe teve 12 namorados e não queria ter parado por aí, mas a vovó traída dizia "Separo de seu pai assim que você se casar". Não deu outra, mamãe conheceu papai e um ano depois no altar estavam. Mamãe não parou de estudar, mas digamos que foi desencorajada na vida profissional e uma década depois se divorciou.

Aos quatro anos, com muita birra, já estava de tchu-tchu colocando breu na sapatilha...minha brincadeira favorita mesmo era cozinhar, tinha um fogãozinho esmaltado com direito a trempe elétrica e forno, fazia salsichinha, bolinho embatumado e chá de hortelã para as visitas. Delirava com a Barbie e, sinceramente, não acho que a culpa da ditadura do corpo seja dela, nas palavras da amiga Laura: as moças mais bacanas de nossa geração se parecem muito mais com a Mônica. Mamãe sempre falou de sexo e papai nunca teve problemas com isso. Aos meus 16 anos, papai já dizia "Minha filha namore e conheça quantos rapazes forem precisos".

A adolescência foi assim um pouco distante do pai que se redescobria... foi no mundinho da mamãe que também aprendia com a gente. Morar com a mãe, descobrindo o mundo, e a irmã caçula é como aos 15 anos morar com suas melhores amigas, com direito a barraco e barraca na sala, crises aborrecentes sem fim. Aos trancos e barrancos, a gente descobre que nada nesse mundo faz a gente aprender e amar mais do que o erro e a dor. E que contos de fadas existem. Logo entrei na faculdade e lá as moças também comandavam. Hoje trabalho no setor cultural e, como é de se imaginar, os padrões de relacionamento e hierarquia sexual não são bem definidos . O namorado atual presenteia com gadets para câmera, fotografia depois de cozinhar é meu hobby preferido, e revista em quadrinhos sobre sexualidade feminina, grava filmes como "Sita Sings the Blues", "Persépolis" e "Offside" (filmes sobre lutas femininas em diferentes partes do mundo). A sogra foi quem criou o blog e me fez refletir sobre a condição feminina. Oras, ser mulher 50 anos depois da pílula pode ser maravilhoso!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Thalita Lippi fala sobre suas experiências com anticoncepcionais

Matéria exibida em 13 de Maio de 2010 no programa Happy Hour da GNT

Mulheres ganham destaque na frente e atrás das câmeras

Matéria de Lúcia Guimarães exibida em 10 de Fevereiro de 2010 no programa Saia Justa da GNT

Pílula anticoncepcional completa 50 anos. Afinal, o que mudou?

Matéria de Renata Cafardo exibida em 18 de Abril de 2010 no programa Fantástico da Rede Globo

Emancipação feminina na música

Coluna de Nelson Motta exibida em 11 de Setembro de 2009 no Jornal da Globo

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tentativas

por Janini de Carvalho


Imagino que eu seja só mais uma entre as milhares de mulheres que foram concebidas por uma tentativa da realização do sonho do varão, a confirmação do pai de sua masculinidade e do dever cumprido.

Eu era a “rapa do tacho”, expressão cearense dada aos caçulas, geralmente, acidentais.

Hoje me apresento como uma mulher de 30 anos, solteira, gerente de engenharia, que adora futebol, videogame, baralho, assistir vale-tudo, programas de esportes, cerveja e rock in roll, demora 2 horas para se arrumar, se atrasa, ama cremes, sofre com a calça apertada e o cabelo que nunca dá jeito, busca conhecimento seja profissional, pessoal ou banalidades em geral, quer ser cuidada, amar e ser amada, tolera, compreende e contorna. Sou heterossexual e almejo uma família Osbourne em comerciais de margarina.

Assim sou eu. Com gosto variado, infelizmente ainda nos dias de hoje atuar profissionalmente e gostar de “coisas de homem” gera um preconceito imenso...

Coloca-se, como via de regra, que nossas vontades, capacidades, escolhas e virtudes têm ligação direta e estão condicionadas ao sexo, e para aqueles que quebram a barreira do preconceito e conquistam o respeito e a admiração, esses, são classificados como excepcionais, visto que deveria ser um elogio.

Mas como sentir-se elogiado se a única base para a atribuição de excepcional é o preconceito? Em minha educação, via de regra, aprendi que qualquer conquista só possui valor a partir dos princípios morais através dos quais ela foi constituída.

Sendo assim, o que me faz sentir lisonjeada é ver que minha vida e minhas conquistas hoje, são resultado da luta de pessoas pela igualdade, liberdade e respeito. E que essas conquistas ainda têm um longo caminho a percorrer no qual, espero, eu possa contribuir.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Liberdade & Preconceito

por Alice Birchal


Controlar a concepção nunca foi tão fácil. A pílula proporcionou o domínio da natalidade pela mulher e, consequentemente, um tipo de liberdade em relação ao seu parceiro, isso é certo. Mas será que liberdade quer dizer igualdade (isonomia)?

A liberdade sexual revela a importância da mulher por ser mulher e não por reproduzir outro ser humano. Então, ela passa a se questionar sobre a real necessidade de ter filhos e sobre a verdade da frase tão simplista: toda mulher nasce para ser mãe (será?). Em sequência, o pensamento: se eu não for mãe, ou se eu não for mãe, o que farei? Daí foi um pulo para ela ir ao mercado de trabalho, descobrir novas funções e relações sociais, inclusive, sentimentais.

A descoberta da pílula alia-se a um cenário anterior e simultâneo de fatos históricos e sociais relevantes, tais como: a segunda grande guerra, os efeitos da revolução industrial, a grande queda de 1929, o movimento feminista, dentre outros. Muitos anos após, em 1977, o divórcio no Brasil.

A liberdade da mulher me parece ter se concretizado com a possibilidade dela escolher entre ter ou não filhos, ou tê-los no momento e na quantidade do seu desejo, e desejo vem de dentro (dela) para fora.

A pílula estimulou descobertas de novas técnicas de contracepção e de reprodução assistida que proporcionam aos casais novas organizações familiares. A escolha deixou de ser apenas feminina e, nesse sentido, também libertou o homem.

Ao mesmo tempo, velhos tabus estão presentes em parte da sociedade, como a valorização da virgindade e da reprodução dentro do casamento. A violência psicológica e física contra a mulher também é enorme, uma vez que há homens e filhos que ainda julgam a mulher como ser inferior e que deve apanhar e ser ofendida.

A escolha de ser ou não mãe é pessoal e livre, mas o tratamento dado à mulher pela família e pela sociedade parece não ter evoluído muito. A autoridade e importância feminina no seio familiar, além das desigualdades de tratamento profissional entre ela e o homem para o exercício da mesma função, revelam-se na diferença salarial para menor no caso feminino e não alcançaram o princípio da igualdade (isonomia) dos gêneros.

A ciência derrubou a barreira biológica, mas ainda não conseguiu transpor a barreira da diferença social entre o homem e a mulher. Concluindo: é mais fácil evoluir cientificamente do que vencer barreiras do preconceito.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Programem-se, ou não...

por Alice Birchal

Voltando ao mundo com a pílula, penso que a liberdade sexual que ela proporciona tem seu lado positivo e negativo, como, aliás, tudo na vida.

Primeiro, estabelecemos metas: só nos fixarmos sentimentalmente quando houver maturidade profissional e independência financeira, apartamento pago e montado, telefone, carros, tudo material, antes de formar família. Quando tudo estiver bem com o casal, engravidar e ter dois filhos.

Ou seja, nada de surpresas. Então, depois de graduação, mestrado, doutorado, maturidade, equilíbrio financeiro e emocional (será?), a gravidez tão programada. Passados dois anos, a segunda gravidez programada. Essa é a fórmula da maioria dos casais da classe média (nossa burguesia): programar-se. Será que vale a pena?

Como estou no 8º mês de minha 2ª gestação programada, por assim dizer e, portanto, serei mãe de duas meninas, algumas reflexões vêm me ocorrendo. Como complicamos a gestação e o nascimento! Isso a partir da pílula e das inúmeras modernas possibilidades de contracepção.

Novamente estou às voltas com quartos, decoração, rearranjos de armários, espaço no apartamento para duas meninas, lavagem de enxoval com sabão de coco, babás, ufa! Claro, sem a participação masculina. E a frase que a todo o tempo escuto das pessoas: “bebê é uma bênção”, “faço tudo por meus filhos”... Será?

O que isso tem a ver com a pílula? Tudo.

Sou filha da 7ª gestação de uma sequência de cinco mulheres, um homem e, então... eu, outra menina! Não é queixa, apenas constato que fui criada no “vácuo” dos meus seis irmãos, ou seja, nada de gravidez programada, quarto, decoração, armário, espaço para mim, enxoval, muito menos sabão de coco, babá? Ah..., claro a única coisa em comum: em regra, nada de participação masculina, a não ser no ato (sabem qual, né?).

Com a pílula a filiação deixou de ser uma surpresa. Hoje, programamos tudo que está ao nosso alcance. Mudamos a maneira de criar os filhos: antes éramos criados no grupo denominado “nossos filhos” e dividíamos tudo. Hoje, criamos nossos filhos quase como filhos únicos e isso tem resultado em crianças egoístas, individualistas, consumistas demais, porque os tratamos como príncipes e princesas que devem ter tudo que o dinheiro pode comprar, mas, nós, os pais, não somos reis, não vivemos em reinos e não podemos protegê-los para o resto de suas vidas.

Criamos o discurso que só podemos ter dois filhos por questões financeiras, porque só podemos dar tudo a dois, não a sete...

É isso mesmo ou apenas queremos o conforto de dois filhos, menos preocupações? Criamos tantas “necessidades” desnecessárias que já não sabemos se realmente educar filhos é tão caro assim.

Pensando no passado: nunca fui triste por dividir as coisas, o espaço e ser criada no “vácuo” dos meus irmãos. Acho que sem tanta programação e sem tantas necessidades materiais éramos mais felizes...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nasce uma ideia

por Alice Birchal


A inquietação diante do mundo masculinizado, a criatividade e a necessidade de expressão levaram a criadora deste blog a nos incitar a debatermos sobre nosso mundo – o feminino – depois da descoberta da pílula anticoncepcional. Surpreendemo-nos diante do fato: já faz cinqüenta anos!!! Não havíamos nos dado conta disso...


Mais do que discutir se o mundo feminino é melhor ou pior do que o masculino, ou se a pílula foi melhor ou pior para a procriação, a oportunidade do blog é criada para nos manifestarmos sobre a vida feminina cotidiana de quem já vive com as várias possibilidades de contracepção e, diante da sociedade brasileira, o pensamento de 50 mulheres, profissionais das mais variadas áreas, de todas as idades, credos e posturas. Agradeço por ter sido lembrada e poder fazer parte dessas reflexões.


Dito isso, apresento-me: tenho 39 anos, sou advogada especializada em família (não por acaso) há 16 anos, professora universitária, mãe, filha, esposa pela segunda vez, irmã, gestante e também inquieta.


As minhas reflexões partem do ponto de alguém que já conheceu o mundo feminino a partir da liberdade sexual e que almeja que a igualdade entre o homem e a mulher realmente seja isonômica, na sua desigualdade. Não sou feminista, porém acredito que somos – homem e mulher – seres humanos e é isso que nos diferencia. Explico-me melhor: gosto da diferença, mas exijo respeito e igualdade profissional, sobretudo. Esse é o motivo de minha inquietação e da minha participação neste blog.

sábado, 1 de maio de 2010

O primeiro romance do mundo pode ter sido de uma mulher


Murasaki Shikibu (978? - 1026?) nasceu na antiga capital do Império do Sol Nascente, dita Heian-Kyo, hoje Quioto. De Origem aristocrática, Lady Murasaki, como é conhecida no Ocidente, viveu na corte do imperador Fujiwara no Michinaga, que governou o Japão no final do século X - época conhecida como o Período Heian. Seu nome verdadeiro é desconhecido e a principal fonte de conhecimento sobre sua vida é um diário, onde com acuidade fez um registro e análise do monótono cotidiano de uma mulher nobre do período.

Seu romance Genji Monogatari ou a História de Genji, é geralmente considerado o maior trabalho da literatura japonesa e, talvez, o mais antigo romance do mundo. Sua narrativa é fluente e dotada de agudeza psicológica, mas excessivamente longa e complexa. Não obstante a história é apaixonante e Genji lembra, em certas passagens, o Dom Juan de Lord Byron. Comparada a Jane Austen e Virginia Woolf, Lady Murasaki é irônica e intimista, e às vezes parece antecipar Freud ao demonstrar, sutilmente, como as transferências eróticas podem ser substituições de relacionamentos passados. O crítico norte-americano, Harold Bloom, que incluiu Lady Murasaki entre os 100 maiores gênios da literatura, disse que "a História de Genji está para cultura japonesa assim como Dom Quixote está para a cultura ocidental."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O maior QI do mundo é nosso

A norte-americana Marilyn von Savant conseguiu figurar no livro Guinness de recordes com o mais alto quociente de inteligência já medido: 228 pontos.

Marilyn von Savant, nascida nos EUA em 11 de Agosto de 1946, conseguiu uma façanha: figurar no livro Guinness de recordes com o mais alto quociente de inteligência - QI já medido: 228 pontos. O segundo da lista é um homem e não passa nem perto dela, com 197 pontos. Aos 10 anos, quando fez um teste de inteligência, Marilyn não ultrapassou os 167 pontos. No entanto, em 1984, submetida a oito provas alcançou os pontos que lhe deram a fama da noite para o dia. Modesta, Marilyn afirmou, na época, que não se deve supervalorizar as provas pois elas se baseiam unicamente no pensamento lógico. "Ter um quociente intelectual muito alto não garante a felicidade de ninguém. As pessoas se aproximam de mim achando que sou um monstro, os homens principalmente, que agem agressivamente para tentar superar o sentimento de inferioridade que eu lhes provoco", ponderou ela.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Novos estereótipos femininos e masculinos na literatura infantil

Para evitar que as novas gerações repitam os papéis que aprenderam ainda na infância – em que as princesas sempre esperam os príncipes salvá-las -, e se frustrem, algumas escritoras estão se dedicando a escrever livros infantis que brincam com os papéis tradicionais de cada sexo, como “Me chame Madame Presidente” e “Meninas pensam sobre tudo”.

Viv com seus filhos

Quando viu sua filha de 3 anos interessada em carregar uma bolsinha com batom e seu filho de 6 anos querendo deixar as meninas de fora de sua festa de aniversário, a jornalista Viv Groskop (na foto com os dois filhos), do jornal britânico The Guardian, decidiu testar os benefícios dessa nova literatura infantil.

Entre os livros que Viv leu para os seus filhos estão histórias de uma menina que perdeu a mãe e tenta resgatar o pai perdido no mar, de uma princesa que não quer casar e transforma o príncipe apaixonado em um cogumelo e de uma mãe-pirata que acaba obrigando os sequestradores da filha a fazer trabalhos domésticos.

Depois das leituras, as duas crianças ficaram um pouco ressabiadas com o fato de a princesa não querer casar – não lhes parecia “natural” -, mas o menino passou a gostar de fazer bolos e a menina, a imitar o Luke Skywalker.

A Estátua da Liberdade é mais feminina do que parece


A Estátua da Liberdade para os milhões de emigrantes que procuram na terra norte-americana um abrigo seguro, é o símbolo da promessa de liberdade. Mas o que poucos sabem, é que o poema gravado nos pés da estátua, famoso em todo solo americano, e que expressa a angústia e a esperança destes homens, é de autoria de uma poetisa norte-americana, Emma Lazarus, nascida em 1849.

"Venham a mim os exaustos, os pobres, as massas confusas ansiando por respirar liberdade"

Mulheres na guerra

Matéria de Natália Rangel, publicada na revista IstoÉ de 12 março 2010

Um numeroso e pouco conhecido exército de guerrilheiras, oficiais, pilotos e atiradoras de elite, todas fortemente engajadas – e armadas – nas batalhas deflagradas pela Segunda Guerra Mundial, é agora retratado em textos e raras imagens no livro “Mulheres na Guerra” (Larousse), do historiador francês Claude Quétel. Ele escreveu sua obra a partir de estudos sobre o assunto que vêm sendo produzidos desde a década de 1970 (a publicação inclui uma rica bibliografia) e lança um novo olhar sobre a participação das mulheres no conflito. Sua tese é de que a historiografia moderna relega a atuação feminina a um segundo plano e seu objetivo é mostrar que ela esteve presente em todas as dimensões da guerra. Quétel recupera a biografia de importantes personalidades desse período cujas trajetórias foram esquecidas ou nunca documentadas: “As mulheres veem a sua história dissolvida na história dos homens.” Numa das fotos incluídas nesse livro estão duas militares fazendo tricô diante de seus furgões blindados do Exército francês – emblemática da habilidade feminina de se desdobrar das agulhas às armas. O tricô das oficiais do século XX não tem nada do romantismo da mitológica Penélope, que tece enquanto espera o futuro marido chegar de suas homéricas batalhas. Elas tricotam no front e estão a postos no conflito de Garigliano, na Itália.

Entre os personagens destacados no livro está a belga Odette de Blignières, jovem de uma família aristocrática que trabalhou como manequim da Maison Chanel antes de entrar para um grupo internacional de resistência à ocupação alemã. Em 1942, ela contribuiu com transporte e munição para que soldados aliados fugissem pelos Pirineus e alcançassem Londres viajando pela Espanha. Também militou no movimento antifascista italiano ao lado de outras mulheres. Conhecida como a “ciclista que detonava explosivos”, a química francesa Jeanne Bohec foi escalada para trabalhar na confecção de armas de sabotagem. Além de fabricá-las, ela as utilizava para detonar ferrovias e cumpria sua missão in loco de bicicleta. Em 1944, ela estava no grupo que resistiu a um ataque alemão em Saint- Marcel. Jeanne sobreviveu e recebeu honrarias militares ao final da guerra. Outra francesa, Georgette Gérard, entrou para o grupo de Resistência de Lyon e atuou no movimento Combat. Em 1943, ela era a capitã de um grupo de cinco mil guerrilheiros divididos em 120 acampamentos localizados em florestas. Para “inspirar confiança”, se fazia passar por um oficial e se autodenominava “comandante Gérard”. Poucos subordinados sabiam que se tratava de uma mulher.

Em Berlim, uma extraordinária manifestação de caráter antinazista foi protagonizada por mulheres. E deu certo. O protesto de Rosenstrasse envolveu centenas de alemãs casadas com judeus, que reivindicavam a libertação de seus maridos. Após uma semana de intensos motins, Joseph Goebbels libertou cinco mil berlinenses de origem judaica. “O ódio político das mulheres é extremamente perigoso”, teria dito Adolf Hitler. Na União Soviética, onde o alistamento militar feminino já ocorria desde 1925, eram muitas as soldados e atiradoras que assumiam a linha de frente do Exército soviético. Uma delas foi Luba Makarova, atiradora de elite, que ilustra a capa do livro. Ela participou da conquista de Berlim, ao final da guerra, como capitã de um Exército formado por homens. Uma outra jovem soviética, integrante da Juventude Comunista, militou contra a invasão alemã a Moscou. Ativista de um grupo guerrilheiro, Zoia Kosmodemianskaia, 18 anos, organizava sabotagens às tropas alemãs e foi presa após colocar fogo em estábulos do inimigo.

Cruelmente torturada, ela foi enforcada e teve seu corpo exposto publicamente. Um repórter do jornal “Pravda” a fotografou e a imagem de Zoia e sua história a transformaram em “heroína da União Soviética”. Segundo Quétel, o fato serviu de motivação para o Exército Vermelho, que foi insuflado pelo slogan “patriótico”: “Matem o monstro nazista.” Além de narrar as histórias com leveza e sempre incluir um detalhe pessoal ou curioso no perfil de suas personagens, o autor também envereda por temas mais prosaicos. Conta, por exemplo, como a guerra determinou a moda do uso de turbantes e reproduz um relato da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir, famosa adepta do adereço. Ela explica que as frequentes panes de eletricidade inviabilizaram o uso do penteado permanente (o mise-en-plis), e a crise de abastecimento fez desaparecerem os chapéus das lojas. Para não sair de “cabelos ao vento”, que era de mau gosto na época, adotaram-se turbantes. “Apeguei-me a eles definitivamente”, escreve Simone.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

"As meninas" de Lygia Fagundes Telles no teatro

O romance emblemático dos anos 70, clássico da literatura brasileira, de Lygia Fagundes Telles, ganha vida nos palcos, com adaptação de Maria Adelaide Amaral e direção de Yara de Novaes.

Na São Paulo no final dos anos 60, auge da ditadura militar, três jovens universitárias convivem num pensionato de freiras relativamente liberais e progressistas - Lia, Lorena e Ana Clara. O livro narra os encontros e desencontros dessas três garotas com o conturbado mundo que as cerca. Ano da publicação do romance: 1973. Ano também do governo Médici, de censura, de silêncio.

Com lucidez e técnica contundente, Lygia Fagundes Telles retrata esse tempo por meio dos sonhos e da ótica dessas três meninas: a aristocrática e romântica Lorena, que transpira generosidade e aspira viver um grande amor com um homem mais velho e casado; Lia, idealista e guerrilheira, a subversiva e flamante Lião, tranca a matrícula na faculdade e vai à luta pela causa da liberdade, sonhando em reencontrar o namorado, preso político e torturado; e Ana Clara, a bela modelo que mergulha nas drogas, chamada de Ana Turva pelas outras, mas acredita que um rico casamento possa libertá-la da dependência e do pavor da miséria.

Somando-se e entrelaçando-se à história principal, destaque para a Mãezinha de Lorena, tão fútil quanto atormentada pelos sinais de velhice, e com eles o terror de perder seu jovem namorado. Max; o belo e frágil amante de Ana Clara, que trafica para garantir a própria droga; Guga, colega de faculdade de Lorena, que abandona o curso de Direito para se tornar um despreocupado militante do movimento Paz e Amor; e Irmã Priscila, a freira perplexa com a revolução dos costumes que atinge a todos, leigos e os religiosos. Como pano de fundo em AS MENINAS, um apaixonante retrato político do Brasil e de um mundo em transformação. Nada será como antes. Nunca mais.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM


Conforme a MP nº 483, a SPM passa a ser "órgão essencial" da Presidência da República

A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) ganhou um novo status na estrutura do Governo Federal. Conforme a Medida Provisória nº 483, publicada no Diário Oficial da União de 25 de Março de 2010, a SPM passa a ser "órgão essencial" da Presidência da República. Ou seja, passa a ter a mesma estrutura (recursos humanos e financeiros) dos Ministérios.

Também altera o nome da SPM, que passa a ser Secretaria de Políticas para as Mulheres, perdendo a palavra “especial”. Os cargos de direção mudam de denominação: em vez de secretária-especial, ministra; secretária-adjunta, secretária executiva; as três subsecretarias (Articulação Institucional e Ações Temáticas, Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e Planejamento e Gestão Interna) agora são secretarias.

Além da SPM, a Controladoria-Geral da União (CGU) e mais três secretarias especiais (Direitos Humanos, Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Portos) passam a integrar os chamados “órgãos essenciais” - definidos na Lei nº 10.683/2003 - que já abrange a Casa Civil, Secretaria-Geral, Secretaria de Relações Institucionais, Secretaria de Comunicação Social, Gabinete Pessoal, Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Outra novidade é que os titulares das Secretarias integrarão o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Presidido pelo presidente da República, o CDES tem caráter consultivo, com a atribuição de propor as medidas necessárias para alavancar o crescimento do País.

Leia a íntegra da MP nº 483, de 24 de março de 2010.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

História, substantivo feminino?

reprodução dos trechos finais da crônica de Frei Beto publicada no caderno Cultura do Estado de Minas de 15 de abril de 2010

"História é substantivo feminino. Contudo, nela as mulheres costumam figurar como mera adjetivação de heróis masculinos. É hora de voltarmos aos tempos em que os hebreus ressaltavam a atuação destemida de mulheres, a ponto de a Bíblia incluir três livros com seus nomes: Rute, Judite e Ester. Sem contar a erótica do 'Cântico dos Cânticos' e a gloriosa mãe dos sete irmãos mártires descrita no Segundo Livro dos Macabeus.

Qualquer pessoa minimamente catequizada talvez saiba citar os nomes dos 12 apóstolos de Jesus. Mas quem se lembra de que, de seu grupo de discípulos, participavam também mulheres cujos nomes estão registrados no evangelho de Lucas (8,1): Maria Madalena, Joana, Suzana 'e várias outras'?"

Seminário Estadual "A Mulher e a Democracia"

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O rosto da mulher em 500 anos de arte ocidental

por Philip Scott Johnson


Música: Sarabande da Suite para Violoncelo Nro. 1 de Bach, BWV 1007 executada por Yo-Yo Ma





Indicado como o vídeo mais criativo no 2o. Prêmio Anual do Youtube

Para uma lista completa dos artistas e pinturas, visite http://www.maysstuff.com/womenid.htm

Versão em alta resolução: http://www.vimeo.com/1456037

terça-feira, 6 de abril de 2010

As possibilidades são infinitas...

por Katia Thomaz

O médico e jornalista Ricardo Coler, especialista em sociedades matriarcais, poligâmicas e poliândricas, relata n'O Reino da Mulheres [Editora Planeta do Brasil, 2008] sua interessante viagem ao povoado de Loshui, na China. Encravados entre as montanhas, vivem 25 mil habitantes da comunidade Mosuo, uma das últimas sociedades matriarcais de todo o mundo.
Destacam-se, a seguir, algumas passagens do livro para reflexão:

"No resto do planeta, os homens ocupam, por ampla maioria, os lugares de decisão e os postos de poder. Não é assim entre os Mosuo. Em Loshui, a propriedade está sempre nas mãos da mulher e, quando chega o momento, só as filhas podem herdar. Elas são donas de fazer e desfazer a seu bel-prazer. Na aldeia não há dama que careça de oportunidades, que não seja digna de consideração ou que se encontre submetida ao arbítrio da sociedade. [...] Isso significa que aqui não há quem precisa libertar-se por sua condição de mulher. São e foram livres desde sempre. O que acontece na sociedade matriarcal é fruto de uma cultura onde a condição feminina se impõe sem restrições masculinas." (p. 69-70)

"O matriarcado não é uma questão de regras que melhoram o lugar e o direito da mulher. O matriarcado é uma simples questão de atitude; o resto são referências bibliográficas. É preciso ver quem tem o comando, e não basta que as relações entre homens e mulheres sejam igualitárias. Quando a sociedade é realmente uma sociedade matriarcal, sente-se o peso da hierarquia feminina na vida cotidiana. É mister que, quando falam com um homem, façam-no com uma postura erguida, que na voz se note a autoridade, e que, quando derem uma opinião não haja lugar a dúvidas. A atitude é o que define uma sociedade como matriarcal. (p. 70-71)

"Os Mosuo denominam 'família' os que têm um laço de sangue direto entre si e convivem na mesma propriedade, a casa do clã. A figura principal é a matriarca. Com ela moram seus filhos, sua mãe e seus irmãos, tanto homens quanto mulheres. Também fazem parte do grupo os filhos das irmãs e os netos. Não existem maridos. Os homens sem laço sanguíneo direto com a matriarca pertencem a outra casa e dormem sob outro teto. Isso implica total ausência de pais e avôs, que são desconhecidos ou, na melhor das hipóteses, são considerados de outra família. Os homens que habitam a propriedade são somente irmãos, tios e filhos." (p. 48)

" Após a cerimônia de iniciação, cada mulher da aldeia tem acesso a um quarto próprio. Esta é uma diferença acentuada em relação aos homens. Eles moram com suas mães, onde têm designados aposentos de uso comum.
As mulheres, por sua vez, contam com um local reservado, um lugar onde podem ficar sozinhas, velar seus detalhes e tornar-se íntimas. Entrará exclusivamente quem elas quiserem e quando elas determinarem.
Na porta do quarto, há um gancho de madeira. Ali o companheiro que ela escolher para visitá-la esta noite pendura o gorro. O gorro na porta é um sinal, avisa a qualquer outro que venha tentar a sorte que a mulher está ocupada e não deseja ser incomodada.
O vínculo amoroso é chamado de axia, ou casamento andante. O casamento andante parece-se muito pouco ao que no Ocidente se entende por casamento. Cada um mora em sua casa. À noite, o homem visita o quarto da mulher com quem marcou um encontro. Xia, significa amantes, e neste caso, a letra 'a' é um simples prefixo que indica intimidade. [...] Manter esse tipo de relação não implica nenhum vínculo. A visita dura o que durar a noite e não significa tornar a se ver. [...] Tanto os membros de outras aldeias quanto os viajantes podem ter axia com as mulheres Mosuo. Mas elas têm o cuidado de não permitir a entrada se forem de trato pouco amável ou se gostarem de expressar-se com termos obscenos. [...] As damas dispõem ainda de outro privilégio. Quando preferem, fecham a porta." (p. 29-31)

"A família matriarcal é incompatível com o casamento, todos os seus integrantes são consaguíneos. E a sensualidade, essa atividade que pode ser maravilhosa, mas que também é um pouco complexa, nunca bem resolvida nem totalmente satisfeita, que é ao mesmo tempo fonte de prazer e de alto grau de instabilidade, nunca fundamenta um lar. Para praticá-la, devem sair de seus limites. Isso lhes dá a liberdade de apaixonar-se sem correr o risco de, se não der certo, perder amor e família ao mesmo tempo." (p. 85)

"O status das amigas nas família Mosuo é algo que chama a atenção. São muito próximas, dividem seus assuntos e mantêm-se a par das novidades. Quando entro em uma casa Mosuo é frequente que alguma das mulheres saia em busca da amiga. Voltam de mãos dadas, excitadas pela presença do estrangeiro, e depois se sentam para compartilhar a experiência e opinar ao mesmo tempo. Minha visita é um evento que não pode ocorrer sem que uma amiga o presencie. Riem juntas, acostumadas a um mesmo código de humor. Seguram-se as mãos, abraçam-se, tocam seus rostos." (p. 92)

segunda-feira, 29 de março de 2010

O relógio

Criado como acessório feminino por Abraham Lois Gréguet, por volta de 1814, por encomenda da Princesa Carolina Murat, irmã de Napoleão Bonaparte, o relógio de pulso popularizou-se a partir de 1868 com o modelo também feminino criado por Anthony Patek e Adrien Philippe, fundadores da Patek Philippe.

Coube ao brasileiro Santos Dumont a primazia de introduzir o relógio no universo masculino, ao pedir para o amigo joalheiro Louis Cartier, já no século XX, a criação de um modelo que favorecesse o controle do tempo durante suas experiências aeronáuticas. Cartier então adaptou um modelo feminino, acrescentando a ele a pulseira de couro.

Assim, muito além da conveniência, o relógio de pulso caracteriza-se desde sua origem como acessório de moda.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Há saída para a condição da mulher de hoje?

Mary Del Piore, 57 anos, historiadora, autora de 25 livros sobre história do Brasil, entre os quais História das Mulheres do Brasil, responde a essa pergunta numa polêmica entrevista concedida à revista IstoÉ, edição 10/03/2010, intitulada O espelho é a nova submissão feminina, da seguinte forma:

"Em países onde tais questões foram discutidas, a resposta veio como proposta para o século XXI: uma nova ética para a mulher, baseada em valores absolutamente femininos. De Mary Wollstonecraft, no século XVIII, a Simone de Beau­voir, nos anos 50, o objetivo do feminismo foi provar que as mulheres são como homens e devem se beneficiar de direitos iguais. Todavia, no final deste milênio, inúmeras vozes se levantaram para denunciar o conteúdo abstrato e falso dessas ideias, que nunca levaram em conta as diferenças concretas entre os sexos. Para lutar contra a subordinação feminina, essa nova ética considera que não se devem adotar os valores masculinos para se parecer com os homens. Mas que, ao contrário, deve-se repensar e valorizar os interesses e as virtudes femininas. Equilibrar o público e o privado, a liberdade individual, controlar o hedonismo e os desejos, contornar o vazio da pós-modernidade, evitar o cinismo e a ironia diante da vida política. Enfim, as mulheres têm uma agenda complexa. Mas, se não for cumprida, seguiremos apenas modernas. Sem, de fato, entrar na modernidade."