por Maria Izabel Brunacci
(Professora de literatura brasileira, autora da livro Graciliano Ramos, um escritor personagem e escritora no blog PedraPalavraVoz. Mãe de Angélica e Natália. Avó de Sofia e Laura)
Hoje, temos já certo distanciamento crítico para fazer a avaliação do impacto da pílula anticoncepcional na vida das mulheres. É possível dizer que melhoramos em relação a nossas avós, mães e tias? Claro que sim. Nós aprendemos não apenas que podemos ser donas de nossos corpos e nossos desejos, mas também lutamos cotidianamente para criar as condições de exercer essa liberdade.
Será que a sociedade mudou também, na mesma proporção que as mulheres protagonistas do início desse processo de liberação? Quanto a isso, tenho minhas dúvidas. Como todo processo histórico, as mudanças no Brasil ainda estão em curso, com avanços e retrocessos. Na mudança do milênio, houve aumento do misticismo e da religiosidade, denotando a desaceleração das mudanças e o aumento do conservadorismo.
Políticas de saúde pública foram implantadas, propiciando o acesso de um maior número de mulheres, de todas as classes sociais, aos métodos contraceptivos, principalmente a pílula anticoncepcional. Há maior preocupação do poder público com o planejamento familiar, mas em relação tensa com a igreja e com grupos conservadores, contrários à descriminação do aborto. (Se você quiser conhecer os componentes da política pública de planejamento familiar, visite o sítio http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=152 )
Pois então. As conquistas femininas no mundo pós-pílula são, também elas, parte de um processo maior em que diferentes grupos lutam pela emancipação na sociedade. Certamente os efeitos dessas mudanças serão diferentes para as mulheres ricas e para as mulheres pobres, para as brancas e as negras, para as religiosas e as agnósticas. Porque, no fundo, o contexto em que se dá a luta por essas conquistas é o solo da sociedade capitalista, em que cada avanço, individual ou coletivo, coloca em risco um setor produtivo, que a ele resiste.
Bel, adorei seu texto!!!
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