segunda-feira, 29 de março de 2010

O relógio

Criado como acessório feminino por Abraham Lois Gréguet, por volta de 1814, por encomenda da Princesa Carolina Murat, irmã de Napoleão Bonaparte, o relógio de pulso popularizou-se a partir de 1868 com o modelo também feminino criado por Anthony Patek e Adrien Philippe, fundadores da Patek Philippe.

Coube ao brasileiro Santos Dumont a primazia de introduzir o relógio no universo masculino, ao pedir para o amigo joalheiro Louis Cartier, já no século XX, a criação de um modelo que favorecesse o controle do tempo durante suas experiências aeronáuticas. Cartier então adaptou um modelo feminino, acrescentando a ele a pulseira de couro.

Assim, muito além da conveniência, o relógio de pulso caracteriza-se desde sua origem como acessório de moda.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Há saída para a condição da mulher de hoje?

Mary Del Piore, 57 anos, historiadora, autora de 25 livros sobre história do Brasil, entre os quais História das Mulheres do Brasil, responde a essa pergunta numa polêmica entrevista concedida à revista IstoÉ, edição 10/03/2010, intitulada O espelho é a nova submissão feminina, da seguinte forma:

"Em países onde tais questões foram discutidas, a resposta veio como proposta para o século XXI: uma nova ética para a mulher, baseada em valores absolutamente femininos. De Mary Wollstonecraft, no século XVIII, a Simone de Beau­voir, nos anos 50, o objetivo do feminismo foi provar que as mulheres são como homens e devem se beneficiar de direitos iguais. Todavia, no final deste milênio, inúmeras vozes se levantaram para denunciar o conteúdo abstrato e falso dessas ideias, que nunca levaram em conta as diferenças concretas entre os sexos. Para lutar contra a subordinação feminina, essa nova ética considera que não se devem adotar os valores masculinos para se parecer com os homens. Mas que, ao contrário, deve-se repensar e valorizar os interesses e as virtudes femininas. Equilibrar o público e o privado, a liberdade individual, controlar o hedonismo e os desejos, contornar o vazio da pós-modernidade, evitar o cinismo e a ironia diante da vida política. Enfim, as mulheres têm uma agenda complexa. Mas, se não for cumprida, seguiremos apenas modernas. Sem, de fato, entrar na modernidade."

terça-feira, 23 de março de 2010

Coco antes de Chanel

reprodução parcial da crítica de Marcello Castilho Avellar publicada no Caderno Cultura do Estado de Minas de 1o. de Março de 2010

Quando alguém fala de Coco Chanel (1833-1971), a primeira coisa que nos vem à cabeça é moda. Afinal, ela foi a estilista mais importante da história, e sua influência pode ser sentida até hoje, quase 40 anos depois de sua morte, na maneira como as pessoas se vestem, cortam seus cabelos, pensam o figurino de filmes ou espetáculos. Mas a importância de Chanel vai além disso: ela foi uma das pioneiras da revolução do comportamento que marcou o século XX. O maior mérito de Coco antes de Chanel, dirigido por Anne Fontaine [um raro filme sob o olhar feminino], é a sutileza com que nos apresenta àquela revolução.
Vejamos um exemplo. Parte significativa daquela drástica transformação nos acontecimentos constitui-se no que nos acostumamos chamar de "revolução sexual" - que ocorreu ao longo de todo o século passado [séc. XX], mas teve seus momentos mais marcantes entre os anos 1960 e 1980. Coco antes de Chanel concentra-se principalmente nos anos de juventude da estilista, entre a época em que conheceu o barão Etienne Balsan (1908) e a morte do grande amor de sua vida, Arthur "Boy" Capel (1919) - bem antes da tal revolução sexual, portanto. Em dado momento do filme, Boy e Coco estão prestes a fazer amor. "É tão fácil despir você", diz ele. Está acostumado a mulheres cheias de anáguas, combinações, corpetes, enfeites, fechos em lugares desconfortáveis. Pela primeira vez, despe alguém que usa apenas um vestido simples e uma combinação.
Subitamente, o espectador toma consciência do quanto o sexo era complicado há apenas um século. Não era somente a proibição social que o tornava difícil. Aquela proibição havia forjado uma série de estruturas culturais que lhe garantiam a sobrevivência - entre outras, a pilha de roupas com que as mulheres eram sufocadas. Garantia de que às mulheres seria vedada qualquer atividade física intensa - trabalho de homem.
Coco antes de Chanel é um filme que nos lembra de que as proibições não bastam em si mesmas, necessitam de estruturas materiais para serem impostas às pessoas. A estratégia do conservadorismo seria, então, disfarçar a repressão a qualquer grupo, divulgando-o como algo ameno - moda, por exemplo. A importância de Coco Chanel foi perceber que essa estratégia poderia ser alterada: seus discurso e ação libertários não se realizaram em palanques ou parlamentos, mas na destruição sistemática dos mecanismos que aprisionavam as mulheres e na proposição de novos mecanismos que as libertassem - também disfarçados de algo aparentemente frívolo, novamente a moda.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Algumas pérolas da Radical Chic de Miguel Paiva

"Homens melhor não tê-los. Mas se não temos, como deixá-los?"

"Que me despreze, me maltrate, me agrida, tudo bem. Mas não falar de mim nem pro analista, é demais."


"Terminei com o Betão. A gente se entendia superlegal, gostava das mesmas coisas, tinha tesão um no outro, se tratava com carinho, detestava o cinema iraniano... mas faltava conflito, entende?"


"E aí a gente vai sair daqui, vai para um motel, aí vai transar, aí vai querer de novo, aí eu me apaixono, aí você vai dizer que não quer compromisso, aí eu vou achar você um babaca, aí a gente vai brigar, aí eu vou te odiar...Tem certeza de que ainda quer saber o meu nome?"

"Paulo era lindo, sensível, carinhoso, engraçado, elegante, delicado, gostoso, honesto, companheiro, discreto... e gay."


"Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcoólicas, pães, biscoitos e os pulsos."


"Faço dieta americana, uso produtos franceses, malho com um personal neozelandês, faço localizada com uma russa, e não adianta. Não consigo diminuir essa bunda brasileira."

"Faço meditação, aeróbica, judô, musculação. Jogo xadrez, vídeo game, King e batalha-naval. Estudo antropologia, física quântica, matemática e arqueologia. Escalo montanhas, faço vôo livre, salto de pára-quedas. Leio, escrevo, toco piano, pinto e bordo. Ufa!!!!! O que a gente não faz para compensar a falta de sexo gostoso".

terça-feira, 16 de março de 2010

Como a pílula funciona



Reprodução parcial do artigo Cinquentona revolucionária de Paloma Oliveto, publicado na página 28 do Caderno Principal do Estado de Minas de 14 de março de 2010.

Mulheres na gastronomia

As mulheres são o tema central do 13o. Festival Internacional de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, que será realizado de 20 a 29 de Agosto de 2010, na cidade histórica mineira. Na edição 2010, chefs, sommeliers e mestres cervejeiras serão todas mulheres, assim como as integrantes das equipes de produção, assessoria de imprensa e agência de publicidade.

Mulheres na política

Dentre as homenagens ao Dia Internacional da Mulher, foi lançado em 11 de Março de 2010 o livro Mulheres na política editado pela Assembléia Administrativa de Minas Gerais, focalizando a atuação da mulher na vida política do Estado em todos os tempos. Superpreendentemente, pode-se constatar que apenas 28 mulheres foram eleitas para exercer atividades parlamentares, seja como deputadas estaduais ou federais. Realmente é muito pouco. Dentre as 28 parlamentares elencadas, 23 são vivas e atuantes.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Pesquisa sobre livros e filmes

por Katia Thomaz

54 mulheres de diferentes cores, idades regiões e profissões receberam, via correio eletrônico, a seguinte questão:

Pensando na vida e/ou papel social da mulher emancipada (pós-1960), responda:
1. Qual o livro, dentre aqueles que você já leu e gostou, retratou melhor esse universo feminino? Por que?
2. Qual o filme, dentre aqueles que você já leu e gostou, retratou melhor esse universo feminino? Por que?

Obtivemos resposta de 9 mulheres, representando 17% da população pesquisada, e o resultado apresentamos abaixo.

Na categoria livro, por ordem decrescente de indicações e ordem alfabética no caso de empate

Brumas de Avalon, As (Marion Z Bradley) - 1 indicação - porque mostra o quanto foi determinante a escolha das mulher na formação das civilizações em qualquer período da história, tanto para o bem quanto para o mal; porque mostra a força das mulheres, seu poder de persuasão, sedução, inteligência, estratégia, interferências políticas e religiosas
Castelo de vidro (Jeannette Walls) - 1 indicação - porque mostra o crescimento e volta por cima, com poucos arranhões, de uma mulher que venceu, apesar de seus pais
Cidade do Sol, A (Khaled Hosseini) - 1 indicação - porque mostra a opressão da mulher na cultura do Afeganistão ( e é pós 1960!)
Comer, rezar e amar (Elizabeth Gilbert) - 1 indicação - porque retrata bem a liberdade (atual) de escolhas, tanto pessoal como profissional
Memória inventada (Erica Jong) - 1 indicação - porque mostra a dificuldade no relacionamento entre homens e mulheres
Meninas, As (Lygia Fagundes Telles) - 1 indicação - porque retrata a amizade entre três típicas meninas dos anos 1970, apesar das diferenças
Não sou feliz, mas tenho marido (Viviana Gómez Thorpe) - 1 indicação - porque mostra a situação tragi-cômica da mulher casada
Quase tudo (Danuza Leão) - 1 indicação - sem justificativa

Na categoria filme, por ordem decrescente de indicações e ordem alfabética no caso de empate

Colcha de retalhos (Jocelyn Moorhouse) - 2 indicações - porque mostra que as mulheres são capazes de esconder e escolher por sua família e filhos e, mesmo assim, são felizes; porque fala da possibilidade de escolhas e consequentes perdas e ganhos
Diabo veste Prada, O (David Frankel) - 2 indicações - porque mostra a mulher de negócios bem sucedida; porque monstra a força de uma mulher em destaque, mas não sei se ele passa realmente a melhor imagem da mulher emancipada
Divã (José Alvarenga Jr.) - 2 indicações - porque mostra a mulher entediada tanto no casamento quanto pós-separação; porque fala da possibilidade de escolhas e consequentes perdas e ganhos
Pontes de Madison, As (Clint Eastwood) - 2 indicações - porque mostra que as mulheres são capazes de esconder e escolher por sua família e filhos e, mesmo assim, serem felizes
Thelma & Louise (Ridley Scott) - 2 indicações - porque retrata a liberdade, dignidade, busca pela felicidade e a amizade entre duas mulheres de uma maneira muito admirável e ainda mostra o Brad Pitt pelado; porque mostra a busca pela independência e a amizade entre duas mulheres
Amor sem escalas (Jason Reitman) - 1 indicação - retrata o poder e a liberdade feminina
Cor púrpura, A (Steven Spielberg) - 1 indicação - sem justificativa
Dona da história, A (Daniel Filho) - 1 indicação - porque fala da possibilidade de escolhas e consequentes perdas e ganhos
Sita sings the blues (Nina Paley) - 1 indicação - sem justificativa

A se ver pelas justificativas apresentadas, são valores importantes para a mulher contemporânea a liberdade, o sucesso profissional, a amizade e a família, mas ela teme a possibilidade de conflito entre família e profissão. Ela reconhece ainda seu poder de influência social, a dificuldade de relacionamento entre homens e mulheres e a fragilidade do casamento tradicional.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Coisas de meninas

por Laura Medioli, publicada em 14/07/2009


Mal despontamos no mundo e já nos vestem de cor de rosa. Mães, cheias de caprichos, ainda na maternidade pedem para furar nossas orelhas, enfeitando-as com minúsculas bolinhas douradas. Dizem que a cartilagem é fininha e por isso não dói. Hum... Sei. E quem é que garante?

Minhas filhas foram que nem eu, só furaram quando bem entenderam e por vontade própria. Uma delas teve tanta vontade que furou seis buracos de uma vez, três em cada orelha.

- Filha! Você tá maluca? Desse jeito a orelha cai!

- Que isso, mãe!

Felizmente, no lugar de penduricalhos, colocou bolinhas e algumas coisinhas miúdas que nem as das bebês. Confesso que gostei, embora não tenha aprovado de todo.

- Filha! Não se fura orelha à revelia. Este é um lugar onde existem pontos energéticos. Se furar no lugar errado, pode te complicar a vida, sabia? Ao menos vá a um acupunturista para que ele te mostre os locais certos.

- Que isso, mãe!

A outra, ainda menina e influenciada pelas amigas, cismou de fazer tatuagem.

- Não, não e NÃO! Fui radical. Quando for mais velha e estiver ciente de que realmente é isso o que quer, faça, mas não agora.

E claro, ela fez. Com 18 anos passou a carregar um símbolo do infinito no corpo. E eu, pra bem dizer a verdade, adorei. Discreta, pequena, charmosa... a cara dela!

Hoje, diferente do meu tempo de adolescente, grande parte das garotas andam produzidérrimas: maquiadas, cabelão na cintura, óculos escuros cobrindo metade do rosto, sandálias altíssimas, luzes nos cabelos e cara de adultas. E me pergunto: pra que isso tudo? Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema. Também para não ser chamada de pirralha pelo menino que normalmente não me dava a mínima. Pra piorar, ainda enfiava um Hollywood na boca e saía com o maço despontando no bolso. Crente que era gente, achava lindo fumar. Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood. A primeira a ver a cena foi a professora escandalizada.

- Laura, você fuma??? Daí a pouco juntaram outras e mais outras ao meu redor.

- Menina, quantos anos você tem???

E eu, com a vozinha mais sumida do mundo: - Quinze!

E uma delas, pra acabar de me acabar, saiu com esta: - Oh! Pensei que você tivesse uns nove!
Depois disso, entendi que não seria o cigarro e nem o batom vermelho que me fariam entrar no cinema ou ser olhada pelo bonitão do 3º científico. Na minha época, fumar era bacana, agora é careta. Ponto para os jovens de hoje que ganharão em saúde e mais alguns anos de vida pela frente.

Há muito deixei de fumar e de usar sandálias que me derrubam. Nada como buscar a simplicidade e o conforto no dia a dia. Procuro mostrar isso às minhas filhas que, felizmente, de frescura e modismos bobos não têm nada. Tanto faz se a camiseta é da Forum ou da C&A. "Marca da etiqueta", no dicionário delas, está longe de ser o essencial.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Cabelinho vermelho e a loba malhada

por Laura Medioli, sem data de publicação


De repente, endoideceu a loba, jogou para as cucuias os “entretantos” e partiu logo pros “finalmentes”, sob o olhar estapafúrdio do filho e total perplexidade do ex.

Primeiro foi o botox, com certeza, em dosagens muito acima do recomendável. Não satisfeita, preencheu os lábios com alguma coisa que provavelmente lhe custou os olhos da cara, além de transformar a própria em dois olhos arregalados e uma boca fenomenal. Pintou o cabelo com mechas vermelhas, renovou o armário, até se sentir pronta para a nova vida.

– Ô, filho! Telefona o pai, preocupado. – O que deu na sua mãe hem? Encontrei-me com ela na rua e mal pude acreditar. Você viu o que ela fez no cabelo? Não pega bem... Já passou da idade, né?

– Pai! Desisto! Ela não nos dá a mínima! Até me xingou quando fui falar do piercing...

– Piercing? Não acredito que ela teve coragem...

– Teve. E pior, no umbigo.

– O quê???? Com aquela barriga mole?

– Que nada, pai! Depois da lipo, quase se matou na academia. Até que tá bem enxuta...

– O que será que deu nela?

– Ô, véio, eu não ia falar não, mas você ia acabar sabendo mesmo.Mamãe tá ficando com um carinha aí.

– Como? Traduz.

– É isso aí. Tá de rolo com um cara um pouco mais velho que eu. E não tá nem aí! Disse que amor não tem idade...

– O quê? Mas isso é um absurdo! Um despropósito! Um... Um...

– Ué, pai! Você também não fez isso? Não se separou da mamãe pra ficar com uma que podia ser sua filha?

– Mas com homem é diferente...

– Uai! Por quê?

– Bem, porque... Porque é, oras!

– Você pintou o cabelo de preto... Comprou uma coleção de jeans..

– Tá bom, tá bom! Mas com sua mãe é diferente. Pô! Ela é mãe, né?

– Por sinal, ótima mãe! Só destrambelhou um pouco, mas continua ótima. Aliás, prefiro mil vezes vê-la assim do que quando vocês se separaram, quando chorava o dia inteiro e nós insistíamos para que saísse um pouco.

– Pois é, foi sair e olha só no que deu...

– Pô, pai! Mamãe tá ótima! Até meus amigos estão comentando. E está feliz, sabia? Como nunca esteve antes.

– Como assim? Na nossa época ela também era. E não precisava de nenhum rapazinho metido a besta para fazê-la feliz... E me diz aí, por acaso ela andou fazendo alguma plástica... Sei lá, tá tão diferente...

– Mais jovem e mais bonita você quer dizer...

– É, pode ser.

– Não, pai. No máximo aquelas injeçõezinhas no rosto e alguma coisa na boca que ainda não entendi muito bem. No mais, um super-regime, malhação e felicidade pura. É isso aí!

– Hum.

– Hum, o quê?

– Nada! Como é esse sujeito? Por acaso não é o personal trainer da academia, é?

– Não, não. Ele é professor de rapel.

– Rap, o quê? Não me diga que sua mãe agora deu pra dançar aquelas danças de rua...

– Não, pai, não é rap é rapel.

– E que diabo é isso?

– Cara! É o máximo! Adrenalina pura. Semana passada mesmo nós descemos uns 50 metros.

– Filho! Não estou entendendo, traduz.

– Pai, rapel é descida em paredão.Também fazemos canoining que é a descida de cachoeira com cordas.

– E sua mãe... Você está me dizendo que sua mãe...

– Claro! Ela é doidinha! Desce mais rápido que eu e meus amigos juntos. Legal, demais!

–...

– Hei, tudo bem aí???

– Tá. Tudo bem. Depois a gente se fala, tá? Se quiser vir almoçar comigo amanhã...

– Não posso, prometi à mamãe de irmos à serra do Cipó. A Paulinha também está indo. Vai dar pra fazer umas escaladas legais...

– Hum.

– Hum, o quê?

– O sujeito também vai?

– Claro! Ele conhece tudo da região. Vamos acampar num lugar fantástico!

– Acampar? Sua mãe sempre detestou bichos, borrachudos, essas coisas e você me diz que ela vai acampar???

– As pessoas mudam, né pai?

– É. Mudam.

– Então tiau, pai. Depois a gente se fala, tá?

–...

– Hei? Tudo bem aí???

terça-feira, 9 de março de 2010

Meia idade

por Laura Medioli, publicada em 11/08/2009

Essa semana liguei para uma amiga em Brasília. Precisando repassar a ela um endereço de minha agenda, disse para aguardar, pois iria pegar os óculos.

- Laurinha, não me diga que você já está na fase dos oclinhos???

- Uai, minha filha, o tempo passa, né?

E começamos a rir.

Tem mulher que faz de tudo para esconder a idade; veste-se que nem as filhas, deixa o cabelo na cintura, camisetinha, lipo, malhação, botox etc etc. Aí vêm os oclinhos e põem tudo por água abaixo.

Outro dia me diverti com um casal de amigos. Ela, morando em outro país, ele, morando no Rio, e ambos, coincidentemente, passando férias em Beagá.

Saí com a amiga para jantar que, por sua vez, marcou de se encontrar com o amigo que há anos não víamos. E eu lá, intermediando o encontro.

Como não tenho muito costume de sair à noite, me confundo com os endereços. Dizem que à noite todos os gatos são pardos, pois digo que as ruas também. Principalmente as da Savassi, lotadas de barzinhos, carros e gente.

- Como é que esse pessoal consegue trabalhar no dia seguinte? Penso com meus botões ao ver a moçada se esbaldando de bebidas e tira-gostos. Após um japonês na Rio de Janeiro, seguimos para o local do encontro. Rua tal, número tal.

Chegamos e fomos entrando no primeiro "bar" que achamos.

- Huuum... Será que é isso aqui? O espaço, mais alternativo impossível. Paredes pintadas com motivos indefinidos e uma dezena de jovens alheios a tudo e a todos, sob um som infernal.
Desconfiada do erro, pergunto: - Por acaso você sabe onde fica o bar tal?

E o dono do recinto, gentilíssimo, nos explica que o tal bar ficava ao lado e que ali, no final da noite, lotava. O bar fechava e as pessoas se transferiam pra lá. Fazia questão que voltássemos. Despedimo-nos com a promessa de que voltaríamos. No final da noite. Imagina!!!

E fomos pro bar, eu e minha amiga que chamarei de Ana.

Lá fora uma fila quilométrica nos aguardava, com o rabo de olho começamos a observar a freguesia.

- Será que é aqui? Pergunto novamente, afinal, nosso amigo já estava na casa dos "enta", fase dois, se é que me entendem. Tudo bem que aparentava uns vinte a menos, boa pinta, carioca, solteirão assumido, malhado, ex-surfista, pode até ser que estivesse misturado por ali.

- Ô, Ana, o que o Celsinho tá fazendo aqui no meio dessa meninada?

- Menina, ele está impressionadíssimo com Belo Horizonte. Cada dia sai com uma.

- Tá brincando...

- Disse que nunca viu tanto mulher bonita dando em cima. Se a garota tem 20, ele diz que tem 28, se tem 18, ele passa a ter 26.

- E aí? Nessas alturas da vida, nunca teve vontade de casar, ter filhos?

- Até que tem, só que está complicado. Diz que a mulherada está fácil demais. Mal se conhecem e já estão transando.

Papo vai, papo vem, descobrimos que a fila estava empacada.

- Tem certeza de que foi aqui que ele marcou? Insisto na pergunta.

- Foi aqui mesmo. Já deve estar nos esperando.

- Então, tá. Agora volta pra fila antes que o garoto aí de trás me jogue no chão.

- Como assim?

- De tanto que ele empurra.

- Pô, garoto!!!

- Calma, Ana! Pelo amor de Deus, não precisa gritar. Deixa o menino, ele já parou.

- Ô, moço, eu só preciso verificar se o meu amigo está aí dentro. Não tem jeito de dar uma olhadinha antes não?

- Não, infelizmente só com o ticket de entrada.

- Mas cadê o ticket?

- Tem que esperar, a casa está cheia.

- Moço, eu só preciso localizar nosso amigo, é rapidinho...

- O próximo! O próximo com ticket!

- Liga pra ele! Sugiro. Duvido que escute alguma coisa no meio dessa confusão, mas quem sabe...

- Esqueci de trocar o chip, vou ter que ligar do seu celular.

- Tudo bem, me dá o número.

- Peraí que vou ver na agenda...

- ....

- Perdeu o número?

- Não, é que não estou enxergando...

- Deixa eu ver...

- ....

- E aí?

- Esses celulares... Também, olha só o tamanho da letra que eles colocam?

- Achou?

- Achei, o problema é que... Peraí, deixe-me ver...

- ...
- Achou ou não achou? Taí, Celsinho celular.

- Achei, é que... 9982, não, 9983, 99... Espera aí, deixa eu colocar os óculos.

- LAU-RI-NHA! Você não está pensando em colocar isso aqui, né??? Denunciando a nossa idade no meio dessa meninada...

Achando graça, comento.

- Ana, querida, mas nós NÃO somos mais meninas...

- Tudo bem, mas precisa mostrar?

E lá dentro, meu amigo cinquentão, com cara de trinta, rodeado de garotas nos aguarda, enquanto eu, com meus oclinhos de leitura, tento enxergar na penumbra o número do seu celular.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mais "coisas de mulheres"

por Laura Medioli, publicada em 02/02/2010

Outro dia escrevi sobre mulheres e algumas das situações delicadas, complicadas ou peculiares pelas quais passamos. Usar banheiros públicos, com certeza, é uma delas. Principalmente, quando se tem de segurar bolsa, saia ou qualquer outra coisa de nosso extenso arsenal feminino.

Já repararam como as garotas adolescentes nunca vão sozinhas ao banheiro? E ficam juntas dentro daquele cubículo, falando, falando e falando?

Certa vez, eu e uma amiga estávamos dentro de um desses cubículos cujas paredes não iam até o teto, quando ouvimos um barulho. Olhamos para cima e deparamos com três sujeitos pendurados na paredinha que, de "camarote", nos olhavam sem conter o riso. Minha amiga se vestiu de qualquer jeito e, aos berros, saímos correndo do recinto. Portanto, garotas! Cuidado com banheiros unissex divididos por paredinhas. Sempre pode ter um tarado à espreita.

Pior foi o que passei na Itália, num desses banheiros também unissex de cantina lotada. Perguntei ao garçom onde era o toalete, e ele, de longe, me apontou o recinto. Como a porta não estava de todo fechada, fui entrando até topar com um sujeito em pé, urinando. Pedindo desculpas, saí rapidinho. No caminho, encontro novamente o garçom, que me pergunta: - Não achou o toalete? E eu: - Achei, é que... Mal finalizei a frase, horrorizada, o vi abrindo a porta novamente: - É qui!
Antes que eu dissesse alguma coisa, me empurrou para dentro. Desnecessário dizer que o sujeito, na mesma posição de antes, descarregou em mim meia dúzia de palavrões escabrosos. Mamma mia!!! Deixando a porta aberta, saí correndo e nunca mais voltei.

Também já aconteceu o contrário: de eu entrar correndo e me dar mal, claro!

Carnaval em pequena cidade de Minas. Hospedada na casa da avó de uma amiga, numa tarde de mormaço, conheço o garoto, amigo do primo, pelo qual em questão de segundos fui me encantar. Após muita conversa, olhares e risos tímidos, marcamos um encontro no clube, onde haveria o último baile. Passei o resto da tarde me arrumando. Mobilizei até a avó na escolha da melhor fantasia. Banho de espuma e de perfume. E, vestida de odalisca, saí cheia de graça. Fui no carro com a família. O clube era no fim do mundo. Chegando, fui olhando as redondezas, até ser encontrada pelo pirata do cabelão. Uau! O garoto era o máximo! Pensava com meus lenços azuis, enquanto conversávamos amenidades. Escola, cinemas, futebol...

Depois, mais nada no meio do salão que não fosse uma odalisca encantada por um pirata interessado, até aparecer a amiga.

- Laurinha! Vamos ao banheiro?

Louquinha para falar do garoto, entro correndo no recinto lotado. E, a 40 cm da porta, já começo a derrapar. E vou derrapando até me estatelar de vez numa gigantesca poça de vômito. Com as pernas pra cima, tento me recompor. Minha amiga não se aguenta de tanto rir, enquanto eu, impregnada daquilo, sou acudida pelas 150 mulheres que ali se encontram.

- Machucou???

Antes o problema fosse o machucado. Putz! O quê que é isso? Quem é essa "sem noção" que fez o favor de vomitar no meio do banheiro? Perguntava-me, enquanto, encharcada pela coisa, fui tomar banho de pia. Tirei a saia de lenços para lavar. Depois, fui limpar as pernas, os braços, a barriga e os cabelos. Um desastre!!!

Lá fora, ansioso, o garoto me aguardava. Com a saia e o cabelo molhados, tento explicar o ocorrido. O cheiro era tão forte que nem eu estava me aguentando.

- Ô Laura! Desculpa, mas tá dureza! Por que não vai em casa trocar de roupa?

Trocar como, se o clube era fora da cidade? Que alma caridosa me traria de volta? Pensava com desespero.

Acabou o clima. Percebendo o mal-estar, dei uma desculpa e saí. Sentadinha na mesa dos fundos, olhava a banda passar. Ela e o meu pirata, agarrado a uma havaiana cheia de flores, cores e perfumes. Droga!

E, para finalizar a saga dos banheiros femininos, a melhor de todas.

Uma prima e sua amiga tiveram uma ideia genial. Tão genial que saiu na Globo. Inventaram uma espécie de cone de papelão, descartável e impermeável com florzinhas cor-de-rosa que, ajustado no devido lugar, nos permitia fazer xixi em pé, que nem homem. Sucesso!!! Os bares ofereciam o invento como cortesia, eu mesma distribuí aos montes para as amigas, todas encantadas com o negócio. Até o dia em que uma delas, distraída, fez que nem os homens fazem quando terminam, se é que vocês me entendem. Pra quê!!! Voltou tudo. Na perna, na calça, na sandália... Um desastre!

Como ela demorava horrores para voltar à mesa, fui ver o que estava acontecendo. Nunca rimos tanto. Pelo visto, não foi a única a fazer essa besteira, pois o "Pipi Up", como se chamava o invento, apesar do sucesso, não vingou.

E que não venha Freud falar sobre nosso complexo feminino de castração. Não aguento esses papos.

Bom, agora chega de bobagem porque o espaço é curto e já me excedi. No espaço e, principalmente, nas bobagens, né?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Coisas de mulher

por Laura Medioli, publicada em 10/03/2009

Dia oito foi o Dia das Mulheres, ok, talvez mereçamos um dia especial. Afinal, ser mulher hoje é um negócio complicadíssimo. Tem que dar conta de tudo ao mesmo tempo, sempre com a cara boa, de preferência maquiada, sem rugas, bem-humorada etc. etc., mesmo que seu dia tenha sido de cão. Mas chega de lugar comum, esse papo de mulher multifuncional já encheu a sacola. Não adianta reclamar, essa opção foi nossa e ponto. Aliás, reclamar também é besteira, seja lá como for, é preferível ser uma mulher atabalhoada de compromissos do que ser uma sossegada em frente à TV vendo "Vale a Pena Ver de Novo". Que tédio!!!

E já que o assunto é mulher, vamos lá. Desde que o mundo é mundo, somos direcionadas a seguir certos padrões de nossa cultura que, de certa forma, nos põe no prejuízo. Por exemplo: a cobrança de que mulher tem que casar. Tem mãe que quando a filha nasce já começa a fazer o enxoval. Já pensou se o marido não aparece? A filha frustrada e o enxoval perdido em meio a um chororô de mágoas, lamentos e decepções. Hoje isso é inconcebível, temos excesso de mulheres e muitas delas não se casarão, ou por falta de maridos na praça ou por simples opção. Tabus e preconceitos vêm caindo e isso é ótimo. A pejorativa "titia" de ontem foi pro espaço, hoje a mulher é independente, bem resolvida, viaja, transa, trabalha, não precisa dar satisfações da sua vida. Mas deixa pra lá, tenho mesmo preguiça de bater nessa tecla, quero falar de outros assuntos, aqueles que somente as mulheres entendem e os homens não fazem ideia. Por exemplo: a eterna pressão que colocamos em nós mesmas de estarmos de unhas feitas, depiladas, cabelos tratados e outras coisas mais. Não fazemos isso somente por eles, mas para o nosso próprio ego e bem-estar. Algumas vezes, essas rotinas são seguidas de sofrimento e os homens não têm ideia, por exemplo, da dor que sentimos com uma depilação e o prazer que se segue a ela. Prazer de passar as mãos nas pernas lisas e macias que nem pele de bebê. Dói pra burro, mas e daí? Qual a mulher que deixa de se depilar por causa disso? Que deixa de usar um vestido (no dia em que se programou para ele) preto, lindo, sensual, que a torna divina simplesmente porque a temperatura abaixou? Como diz minha sobrinha, "gostosas não sentem frio!". E eu completo, nem dor. Principalmente nos pés, ao se equilibrarem num salto 15.

Falando em depilação, lembrei-me do dia em que fui fazer um exame de densitometria óssea. Como tinha marcado com antecedência, me esqueci da data. Em casa, ainda de camisola, café tomado e tranquila no computador, resolvi abrir minha agenda. Socorro! Atrasadíssima para o compromisso, dou um pulo da cadeira, entro a jato no chuveiro, visto um jeans rapidinho, mal passo batom e entro no carro correndo. Em meio ao trânsito infernal, cai a ficha: além de descabelada, estava sem depilar e o esmalte vermelho do pé, descascadíssimo. O máximo do relaxamento. Faltando uma semana para eu viajar, deixei tudo para fazer de véspera. Adiei a depilação, a manicure, a limpeza de pele etc. que, para mim, mais do que vaidade, é uma questão de higiene. E foi nessas condições que me lembrei do tal exame.

- Tomara que seja uma médica! Perna com cabelinhos espetados e esmalte descascado (ainda por cima vermelho) era o fim da picada, claro que ela entenderia que, no caso de viagens longas, protelamos isso ao máximo. E como mulher faria a mesma coisa.

Chegando à clínica, pergunto: - Quem faz esse exame é médico ou médica? E a atendente: - É o Dr. Fulano.

Então, tá. - Tomara que seja um velhinho simpático, daqueles bem bonitinhos, meio surdo, meio cego...

Escuto meu nome em voz alta e dirijo-me à sala. E para meu espanto, ouço do Dr. Fulano: Laaaura Medioooooli! Que prazer ter você aqui.

No máximo quarentão, longe de ser o velhinho que esperava encontrar. Pra piorar a situação, era meu leitor fiel, daqueles que comentam as crônicas com entusiasmo.

Me deram uma camisolinha para vestir. O cara falando, falando e eu também: nada com nada - tamanha a falta de graça. Deitei na mesa e ele me deu um lençol, aproveitei e me cobri até o nariz. Tirou a primeira radiografia, depois tirou o lençol e, para meu horror, pegou minhas pernas colocando-as em cima de uma espécie de caixote para novas radiografias. Queria dizer que não sou assim tão desleixada, que meu pé normalmente está bem-feito, com esmalte clarinho e não aquela coisa pombagira descascada. Que minha perna nunca, jamais fica daquele jeito, com cabelinhos espetados, mesmo que não fossem muitos. Enfim, queria explicar que estou longe de fazer o tipo "natureba tô nem aí!". Sei que o Dr. Fulano sequer repara esses detalhes, pra bem dizer a verdade, deve ver coisas bem piores. Mas que para nós mulheres é constrangedor, é. Fazer o quê?

E, pensando nessas "coisas de mulher", volto ao meu tempo de colegial, quando, pelo menos uma vez no mês, faltava às aulas por sofrer com as terríveis cólicas. As faltas eram tantas que resolvi pedir ao meu tio ginecologista um atestado. Ao lê-lo quase morro.
"A aluna Laura Maria Machado não pôde comparecer às aulas do dia tal. Motivo: dismenorreia".

COMO É QUE É??? DISME... O QUÊ? Impressionada com o nome, vou ao Aurélio.
"Cólica menstrual, que afeta 50% das mulheres..." Com o atestado na mão, no auge dos meus 14 anos, penso: como explicar ao disciplinário novinho, bonitinho e paquerável que não fui à aula porque estava com dismenorreia? O nome estava lá, escrito em letra legível, no papel que teria de entregar a ele. Imagina se ele ia saber o que era isso? Se nem eu, que sou mulher, sabia? Sem chance. E cá pra nós, tudo que termina em "rreia" coisa boa não é. Tomo bomba, mas não mostro o papel. E ponto final.

Estão vendo? Só mesmo uma mulher para entender a outra nessas situações. E é a elas, mulheres, que dedico esta crônica.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ah! Essas mulheres! (parte dois)

por Laura Medioli, publicada em 28/10/2008

Homens adoram dizer que as mulheres, além de complicadas, são indecifráveis, o que acho ótimo. Já pensou que falta de graça, se conseguissem ler nossas entrelinhas? Perceber nossas artimanhas (no bom sentido) e desnudar com facilidade os nossos véus? Onde ficaria o mistério, o segredo necessário, o potinho de surpresas?

Choramos muito, rimos muito, falamos muito, amamos muito e somos capazes de fazer tudo ao mesmo tempo, com nosso emocional nadando de braçada no racional deles.

Mulheres!!! Adoro observá-las, vivenciar seus momentos íntimos. As conversas divertidas no quarto da amiga, a troca de experiências, as roupas compartilhadas, a cor do esmalte, do batom, opiniões requisitadas, a dúvida do ligo ou não ligo, a cinta que espreme a barriga, a meia que levanta o bumbum, o pretinho básico que já anda sozinho, o "scarpin" salto 15 que nos arrebenta, (mas é lindo!), o deixar-se ficar no sofá após o dia exaustivo, o telefonema quilométrico depois da noitada e a amiga do outro lado, interessada nos detalhes (Uau!).

E eles nem de longe imaginam nossos segredos de alcova: os fios louros e discretos mesclando os cabelos castanhos. Naturais? Que nem os turbinados da global. Os cabelos espetados na toquinha de borracha, usada para fazer as tais mechas. Se algum homem vir aquilo sai correndo. "Nada mais feio e ridículo", como diria o meu amigo Renê.

Maquininhas que dão choque, congelam, esquentam, espremem, sugam, tudo para detonar gordurinhas indesejadas. Se funcionam? Sei lá. Como diz a outra, nessas alturas do campeonato topamos qualquer parada.

Hoje uma amiga leu na internet que inventaram um produto para emagrecer dormindo. Quer ler a notícia com calma, se interessou totalmente. - E você realmente acredita nisso? Perguntei divertida. - Uai, Laurinha...

Já se entupiu de chá verde, chá sete ervas, chá 30 ervas e, não satisfeita, diz que o negócio agora é chá de hibisco: cinco quilos a menos por semana. Tudo bem; com ginástica, aeróbica, trancamento de boca e o tal chá, até dez, né? Sozinho é que não dá. E ela me garante que dá. Então, tá.

Mulheres!

Há alguns meses, Melanie, uma pós-balzaca neozelandesa veio passear no Brasil acompanhada pelo marido e uma grande amiga que há anos mora por lá. Minha amiga já havia dito: para as neozelandesas, nada é fácil. Não como aqui, que num salão resolvemos tudo dos pés à cabeça. Fazemos pé, mão, cabelo, depilação, banho de lua e por aí vai. Lá não. Existe um lugar para cada coisa e mesmo assim, custa o olho da cara. Se você quiser fazer o pé, tem que ir ao pedicure. A mão, à manicure. Cabelos? Ao cabeleireiro. Depilação? Bom, isso aí nem sei. Pelo jeito, sequer existe...

Decidida a dar uma "geral" na amiga estrangeira, minha amiga convenceu-a a se depilar pela primeira vez. Costume comum entre as brasileiras, desde mocinhas, aprendemos a lidar com a situação. Mas como explicar a ela, uma mulher adulta cheia de recalques o que acontece numa mesa de depilação? Como entender o porquê de uma de suas pernas ir parar em Mercúrio e a outra em Plutão? Enquanto uma mulher espalha uma cera quente, fedorenta e pegajosa, numa completa "sessão tortura", nas canelas... nas pernas... nas coxas, e lá? Falando que nem uma condenada o que, aliás, ela não entendia bulhufas? Puxa daqui, puxa dali e, para o seu espanto, finalizar tudo numa minúscula "tirinha pornográfica", segundo nos diria depois, hor-ro-ri-za-da!? Oh, my God!!!

Bom; horrorizada até antes da manhã seguinte, quando apareceu com aquele sorrisinho na cara, aquele ar de felicidade que perdurou até o fim de suas férias. Estranhamente, o mesmo sorrisinho do marido, um australiano bonachão, bem-humorado e entusiasmadíssimo pelo Brasil. Agora então, mais que nunca. Claro, não tínhamos intimidade o suficiente para perguntar a ela sobre certas coisas. Mas de uma coisa eu e minha amiga tínhamos certeza: não foi o clima e nem a comida o que mais a agradou no Brasil.

Ah! Essas mulheres!!!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ah, essas mulheres!!!

por Laura Medioli, publicada em 21/10/2008

Uma amiga me liga; quer saber minha opinião sobre a cirurgia de redução de estômago. Conhecendo-a há tantos anos e sabendo da sua dificuldade em emagrecer e levantar a auto-estima, apóio.

E lembro-me de quando era adolescente, com meus 38 quilos, louquinha pra parecer gente, ou melhor, mulher. Colocava sob a calça jeans uma meia grossíssima de lã, para ver se a perna engrossava um pouco. Quase morria de tanto calor, mas e daí? Na minha cabeça, era preferível torrar do que desfilar com minhas pernas finas num jeans justo e desbotado.

E me impressiono com as adolescentes de hoje que, ao contrário de mim na idade delas, param de comer para ficarem magérrimas. Quem é que entende? Até porque, quem gosta de mulher esquelética são as próprias mulheres. Homens, não. Pelo menos o que escuto deles por aí.

Mas nós mulheres somos assim, as que têm cabelos encaracolados querem tê-los lisos, as que têm lisos querem anelados. A loirinha se derrete no sol para pegar uma cor, a morena sonha com cabelos e tez claras; uma consegue enxergar celulite até nos dedos do pé, outra, não satisfeita com o que a natureza lhe deu, taca logo 250 ml onde não carece de 10. Fora aquela que passa horas no espelho repetindo o mantra: tô gorda!!! E, angustiada com a situação, ataca a geladeira.

Quando jovem, mesmo sem vontade, empurrava comida: banana com mel, mingau de maizena, broas de fubá... Alguma coisa tinha que surtir efeito, algumas calorias a mais pelo amoooor de Deus! Pelo menos que me fizessem chegar aos 40 quilos. E nada; cresci e me casei pesando 39. Como diriam os convidados, estava mais para debutante do que para noiva. Fazer o quê? Engordar, né?

E foi o que fiz durante a gravidez. No início olhava para o espelho me achando o máximo. Finalmente as pernas e o bumbum que pedi a Deus! Só que depois o negócio foi extrapolando e rapidamente tive que conter as rédeas.

Infelizmente, com o passar dos anos, engordamos comendo ou não. O metabolismo diminui, o pique é outro, os hormônios passam a ditar as regras. E nessas horas, todo cuidado é pouco. Sem neuras, claro!

De vez em quando chuto o balde e me empanturro de chocolate. E que se danem os hormônios que também ninguém é de ferro. O negócio é ter equilíbrio. Hoje não preciso de meias de lã sob a calça, na verdade me preocupo é quando a calça começa a apertar. Felizmente puxei a conformação física de minha mãe, e assim posso me dar ao luxo de extrapolar de vez em quando. Repito: de vez em quando.

Mas voltando às eternas insatisfações femininas, divirto-me ao lembrar da história de outra amiga que, após o terceiro filho (vindo meio sem querer), resolveu dar uma "levantada de moral" que, segundo ela, após três gestações e seguidas amamentações foi parar no umbigo. Seguindo a recomendação de sua ginecologista, marcou consulta com renomado cirurgião. Com três crianças pequenas, sem tempo para se cuidar e com a lei da gravidade batendo de goleada, lá se foi em busca da tal e tão necessária "levantada".

O susto começou na sala de espera quando, de repente, um homem jovem, maravilhoso e cheio de charme, vestido de branco, atravessa o recinto com um cordial bom dia.

- Epa! Será que é esse o...

Era. Para o seu desespero, o próprio.

Quer matar a sua médica. Por que ela não lhe avisou antes que o sujeito era um deus grego? Como é que ela iria tirar a blusa para um homem daquele? Com as coisas lá no umbigo? Que nem índia velha? Sem chance.

Quer desistir da consulta quando é chamada pela secretária.

E ali, sentada à mesa defronte ao deus, tem vontade de sair correndo. Até que ele, educadamente, lhe pergunta: - Pois bem, o que a trouxe aqui?

E ela, num lampejo de sabedoria, responde: - O nariz, doutor. Eu odeeeeeeio o meu nariz!

Mulheres! Ah! Essas mulheres!!!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Essas incríveis e sofridas mulheres

por Laura Medioli, publicada em 04/03/2008

Por mais de dez anos, participei ativamente com trabalhos voluntários em algumas vilas e favelas da Grande Belo Horizonte. Desde menina, acompanhando minha mãe, acostumei-me a freqüentar ambientes carentes e a descobrir ali seus mais ricos valores humanos.

Experiências foram centenas e confesso que hoje, relembrando histórias, me bate uma certa saudade. Saudade do tempo em que, mesmo à noite, podia andar sozinha nos becos ou rodeada por crianças em permanente algazarra que me pediam balas e me chamavam de tia. Moradores que me conheciam pelo nome e me abriam suas portas para um cafezinho.

Já tomei muito café e ouvi muitas histórias. A conta da luz atrasada, o companheiro que sumiu no mundo ou simplesmente se juntou com a outra, a filha adolescente grávida sabe-se lá de quem, o trabalho que não vem, a saúde que anda mal, quebranto, mau-olhado. O forasteiro maníaco, ameaçando as crianças na hora de irem à escola, o porco imundo e magricela que invade a cerca vizinha, o pitbull amarrado, ameaçando se soltar.

A meninada na rua, exposta ao esgoto aberto. Os bares cheios, vendendo cerveja e cachaça a rodo e os pais irresponsáveis que nunca pagam a pensão. Sinucas rasgadas, truco no meio da rua. Seeeeeis só, pato!!! Gritam os homens, enquanto as mulheres observam caladas, cuidando dos filhos, lavando as roupas, costurando, fazendo salgados pra fora, colocando comida em casa. Alguém tem que fazer isso. Determinadas, sem medo, elas tocam o barco. Mulheres incríveis que, ao longo dos anos, aprendi a respeitar.

O imóvel encontra-se fechado, doação antiga de uma entidade religiosa. Sem água, sem luz, sem utilidade. Resolvemos reabri-lo, montar ali a sede de uma associação. Pago contas atrasadas, novas telhas, portas, janelas, caixa dágua. A feitura de uma escada, que a criançada não deixa.

O pedreiro quer desistir, enquanto coloca a massa, a meninada observa. A escada está pronta e no dia seguinte, cadê? Um amontoado de cimento espalhado. O pedreiro já não sabe o que fazer. Chamo os garotos e dou a eles uma missão: - Estão vendo essa escada? Quero que tomem conta dela. Não deixem que ninguém a estrague. Olha lá, hem? Confio em vocês!

No dia seguinte, a escada intacta. Além das mulheres, um exército de garotos a nos ajudar. As paredes são pintadas em esquema de mutirão. Os homens lá fora, rindo e jogando truco, enquanto nós, em cima de mesas e escadas, fazemos a nossa parte. Um ou outro, mais consciente, vem em auxílio. Às vezes perdia a paciência e ia pra rua. - Pô, gente! Não estão vendo que precisamos de ajuda??? E eles, indiferentes, continuavam seus jogos, como se minhas palavras não lhes dissessem respeito.

- Seeeeeis só, pato! Escuto e entendo que, dali, não sairia nada. O salão é inaugurado por um senhor "derramado" que, finalmente, foi descansar. O velório dura a noite inteira. No dia seguinte, um ônibus lotado para o cemitério da Paz. Depois outros mortos. Idosos, crianças... Como doía ver os caixõezinhos brancos. Ao lado, mães transtornadas pelo sofrimento. A chegada do ônibus, o cemitério, dor, choros e desmaios.

Invariavelmente nessa ordem. O salão não serve apenas de velório. Ali se faziam reuniões, debatiam- se questões comunitárias como a formação de uma entidade que representasse os moradores do local. Meninas de 12 a 16 anos mostram os ventres avolumados. Sequer se dão conta da responsabilidade que carregam. Falta-lhes maturidade, idade, trabalho, perspectivas. Mais um filho para a mãe criar.

Filhos e netos se misturam num ambiente pequeno, carente e, às vezes, promíscuo. Convido um ginecologista acostumado a dar palestras sobre controle de natalidade. As palestras feitas à noite enchem o salão. As garotas se interessam, fazem milhões de perguntas. As senhoras mais idosas me chamam no canto pra reclamar. - Que doutor é esse que fala tanta bobagem? Explico que ele deve ser claro, para que as pessoas o entendam. Se no lugar de pênis ele fala pinto, não é porque seja um depravado, é a maneira que encontrou para ser melhor compreendido. De nada valeram meus argumentos, as senhoras, muitas delas evangélicas, saíam. Indignadas.

No final das tardes, sentava-me com as meninas nas calçadas pra jogar conversa fora e tratar de assuntos femininos, aquela "manchinha transparente" 14 dias depois da menstruação. É aí que mora o perigo! Tento explicar de maneira simples os períodos férteis. E elas, rindo, vêm me contar seus casos, ou cheias de preocupação, suas dúvidas e medos.

Camisinhas e DST, eram os assuntos do dia. Tentei fazer a minha parte, e me entristecia sempre ao ver meninas de saias curtas, carregando pelas ruas seus recém-nascidos. O salão comunitário, devido à grande necessidade, um dia transformou- se em creche. "Recanto da Laurinha" foi como o batizaram.

Sensibilizada, agradeci às mães - homenagens assim jamais serão esquecidas. O espaço tornou-se pequeno para o grande número de crianças e a creche, enfim, teve que ser transferida. O tempo passou. Aos poucos fui renunciando às minhas atividades nas cinco comunidades que escolhi para trabalhar.

A droga, a violência e o terror imposto pelo tráfico me impedem de voltar. Quinze anos de experiências e aprendizagens deixam marcas. Deixam saudades... E me lembro do salão que ajudei a montar e que tantas vezes freqüentei.

Fechado? Esquecido? Ou ainda é utilizado para velar os corpos - hoje, quase que exclusivamente de jovens, mortos por overdose ou balas dirigidas por quem se sentiu prejudicado num acerto de contas. Ao lado deles, as mães, transtornadas pelo sofrimento. Silêncio, tristeza e medo. Muito medo.

Crônicas sobre o universo feminino

Tivemos a grata satisfação e honra de receber uma série de cônicas sobre o universo feminino produzidas por Laura Medioli que passaremos a publicar todos os dias nesta e na próxima semana. Não percam!


Laura Machado Medioli nasceu em Belo Horizonte, é casada e tem duas filhas. Formada em Estudos Sociais, é presidente da Sempre Editora, responsável pelos jornais O TEMPO, Super Notícias e o semanário Pampulha.


Proveniente de uma família de escritores como Aníbal Machado, Maria Clara Machado, Lúcia Machado de Almeida, Ângelo Machado dentre outros, é autora do livro “Xangó, o detetive e o mistério de Matinho” destinado ao público infanto-juvenil, adotado em várias escolas e bibliotecas estaduais.


Em 2005, lançou seu primeiro livro de crônicas, “Levando a vida Leve” .


Autora de inúmeras poesias e peças teatrais apresentadas em escolas particulares, no momento está finalizando o seu segundo livro de crônicas. É cronista nos jornais O TEMPO, Pampulha e, por três anos, foi cronista na revista Habitat.