sexta-feira, 5 de março de 2010

Coisas de mulher

por Laura Medioli, publicada em 10/03/2009

Dia oito foi o Dia das Mulheres, ok, talvez mereçamos um dia especial. Afinal, ser mulher hoje é um negócio complicadíssimo. Tem que dar conta de tudo ao mesmo tempo, sempre com a cara boa, de preferência maquiada, sem rugas, bem-humorada etc. etc., mesmo que seu dia tenha sido de cão. Mas chega de lugar comum, esse papo de mulher multifuncional já encheu a sacola. Não adianta reclamar, essa opção foi nossa e ponto. Aliás, reclamar também é besteira, seja lá como for, é preferível ser uma mulher atabalhoada de compromissos do que ser uma sossegada em frente à TV vendo "Vale a Pena Ver de Novo". Que tédio!!!

E já que o assunto é mulher, vamos lá. Desde que o mundo é mundo, somos direcionadas a seguir certos padrões de nossa cultura que, de certa forma, nos põe no prejuízo. Por exemplo: a cobrança de que mulher tem que casar. Tem mãe que quando a filha nasce já começa a fazer o enxoval. Já pensou se o marido não aparece? A filha frustrada e o enxoval perdido em meio a um chororô de mágoas, lamentos e decepções. Hoje isso é inconcebível, temos excesso de mulheres e muitas delas não se casarão, ou por falta de maridos na praça ou por simples opção. Tabus e preconceitos vêm caindo e isso é ótimo. A pejorativa "titia" de ontem foi pro espaço, hoje a mulher é independente, bem resolvida, viaja, transa, trabalha, não precisa dar satisfações da sua vida. Mas deixa pra lá, tenho mesmo preguiça de bater nessa tecla, quero falar de outros assuntos, aqueles que somente as mulheres entendem e os homens não fazem ideia. Por exemplo: a eterna pressão que colocamos em nós mesmas de estarmos de unhas feitas, depiladas, cabelos tratados e outras coisas mais. Não fazemos isso somente por eles, mas para o nosso próprio ego e bem-estar. Algumas vezes, essas rotinas são seguidas de sofrimento e os homens não têm ideia, por exemplo, da dor que sentimos com uma depilação e o prazer que se segue a ela. Prazer de passar as mãos nas pernas lisas e macias que nem pele de bebê. Dói pra burro, mas e daí? Qual a mulher que deixa de se depilar por causa disso? Que deixa de usar um vestido (no dia em que se programou para ele) preto, lindo, sensual, que a torna divina simplesmente porque a temperatura abaixou? Como diz minha sobrinha, "gostosas não sentem frio!". E eu completo, nem dor. Principalmente nos pés, ao se equilibrarem num salto 15.

Falando em depilação, lembrei-me do dia em que fui fazer um exame de densitometria óssea. Como tinha marcado com antecedência, me esqueci da data. Em casa, ainda de camisola, café tomado e tranquila no computador, resolvi abrir minha agenda. Socorro! Atrasadíssima para o compromisso, dou um pulo da cadeira, entro a jato no chuveiro, visto um jeans rapidinho, mal passo batom e entro no carro correndo. Em meio ao trânsito infernal, cai a ficha: além de descabelada, estava sem depilar e o esmalte vermelho do pé, descascadíssimo. O máximo do relaxamento. Faltando uma semana para eu viajar, deixei tudo para fazer de véspera. Adiei a depilação, a manicure, a limpeza de pele etc. que, para mim, mais do que vaidade, é uma questão de higiene. E foi nessas condições que me lembrei do tal exame.

- Tomara que seja uma médica! Perna com cabelinhos espetados e esmalte descascado (ainda por cima vermelho) era o fim da picada, claro que ela entenderia que, no caso de viagens longas, protelamos isso ao máximo. E como mulher faria a mesma coisa.

Chegando à clínica, pergunto: - Quem faz esse exame é médico ou médica? E a atendente: - É o Dr. Fulano.

Então, tá. - Tomara que seja um velhinho simpático, daqueles bem bonitinhos, meio surdo, meio cego...

Escuto meu nome em voz alta e dirijo-me à sala. E para meu espanto, ouço do Dr. Fulano: Laaaura Medioooooli! Que prazer ter você aqui.

No máximo quarentão, longe de ser o velhinho que esperava encontrar. Pra piorar a situação, era meu leitor fiel, daqueles que comentam as crônicas com entusiasmo.

Me deram uma camisolinha para vestir. O cara falando, falando e eu também: nada com nada - tamanha a falta de graça. Deitei na mesa e ele me deu um lençol, aproveitei e me cobri até o nariz. Tirou a primeira radiografia, depois tirou o lençol e, para meu horror, pegou minhas pernas colocando-as em cima de uma espécie de caixote para novas radiografias. Queria dizer que não sou assim tão desleixada, que meu pé normalmente está bem-feito, com esmalte clarinho e não aquela coisa pombagira descascada. Que minha perna nunca, jamais fica daquele jeito, com cabelinhos espetados, mesmo que não fossem muitos. Enfim, queria explicar que estou longe de fazer o tipo "natureba tô nem aí!". Sei que o Dr. Fulano sequer repara esses detalhes, pra bem dizer a verdade, deve ver coisas bem piores. Mas que para nós mulheres é constrangedor, é. Fazer o quê?

E, pensando nessas "coisas de mulher", volto ao meu tempo de colegial, quando, pelo menos uma vez no mês, faltava às aulas por sofrer com as terríveis cólicas. As faltas eram tantas que resolvi pedir ao meu tio ginecologista um atestado. Ao lê-lo quase morro.
"A aluna Laura Maria Machado não pôde comparecer às aulas do dia tal. Motivo: dismenorreia".

COMO É QUE É??? DISME... O QUÊ? Impressionada com o nome, vou ao Aurélio.
"Cólica menstrual, que afeta 50% das mulheres..." Com o atestado na mão, no auge dos meus 14 anos, penso: como explicar ao disciplinário novinho, bonitinho e paquerável que não fui à aula porque estava com dismenorreia? O nome estava lá, escrito em letra legível, no papel que teria de entregar a ele. Imagina se ele ia saber o que era isso? Se nem eu, que sou mulher, sabia? Sem chance. E cá pra nós, tudo que termina em "rreia" coisa boa não é. Tomo bomba, mas não mostro o papel. E ponto final.

Estão vendo? Só mesmo uma mulher para entender a outra nessas situações. E é a elas, mulheres, que dedico esta crônica.

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