quarta-feira, 10 de março de 2010

Cabelinho vermelho e a loba malhada

por Laura Medioli, sem data de publicação


De repente, endoideceu a loba, jogou para as cucuias os “entretantos” e partiu logo pros “finalmentes”, sob o olhar estapafúrdio do filho e total perplexidade do ex.

Primeiro foi o botox, com certeza, em dosagens muito acima do recomendável. Não satisfeita, preencheu os lábios com alguma coisa que provavelmente lhe custou os olhos da cara, além de transformar a própria em dois olhos arregalados e uma boca fenomenal. Pintou o cabelo com mechas vermelhas, renovou o armário, até se sentir pronta para a nova vida.

– Ô, filho! Telefona o pai, preocupado. – O que deu na sua mãe hem? Encontrei-me com ela na rua e mal pude acreditar. Você viu o que ela fez no cabelo? Não pega bem... Já passou da idade, né?

– Pai! Desisto! Ela não nos dá a mínima! Até me xingou quando fui falar do piercing...

– Piercing? Não acredito que ela teve coragem...

– Teve. E pior, no umbigo.

– O quê???? Com aquela barriga mole?

– Que nada, pai! Depois da lipo, quase se matou na academia. Até que tá bem enxuta...

– O que será que deu nela?

– Ô, véio, eu não ia falar não, mas você ia acabar sabendo mesmo.Mamãe tá ficando com um carinha aí.

– Como? Traduz.

– É isso aí. Tá de rolo com um cara um pouco mais velho que eu. E não tá nem aí! Disse que amor não tem idade...

– O quê? Mas isso é um absurdo! Um despropósito! Um... Um...

– Ué, pai! Você também não fez isso? Não se separou da mamãe pra ficar com uma que podia ser sua filha?

– Mas com homem é diferente...

– Uai! Por quê?

– Bem, porque... Porque é, oras!

– Você pintou o cabelo de preto... Comprou uma coleção de jeans..

– Tá bom, tá bom! Mas com sua mãe é diferente. Pô! Ela é mãe, né?

– Por sinal, ótima mãe! Só destrambelhou um pouco, mas continua ótima. Aliás, prefiro mil vezes vê-la assim do que quando vocês se separaram, quando chorava o dia inteiro e nós insistíamos para que saísse um pouco.

– Pois é, foi sair e olha só no que deu...

– Pô, pai! Mamãe tá ótima! Até meus amigos estão comentando. E está feliz, sabia? Como nunca esteve antes.

– Como assim? Na nossa época ela também era. E não precisava de nenhum rapazinho metido a besta para fazê-la feliz... E me diz aí, por acaso ela andou fazendo alguma plástica... Sei lá, tá tão diferente...

– Mais jovem e mais bonita você quer dizer...

– É, pode ser.

– Não, pai. No máximo aquelas injeçõezinhas no rosto e alguma coisa na boca que ainda não entendi muito bem. No mais, um super-regime, malhação e felicidade pura. É isso aí!

– Hum.

– Hum, o quê?

– Nada! Como é esse sujeito? Por acaso não é o personal trainer da academia, é?

– Não, não. Ele é professor de rapel.

– Rap, o quê? Não me diga que sua mãe agora deu pra dançar aquelas danças de rua...

– Não, pai, não é rap é rapel.

– E que diabo é isso?

– Cara! É o máximo! Adrenalina pura. Semana passada mesmo nós descemos uns 50 metros.

– Filho! Não estou entendendo, traduz.

– Pai, rapel é descida em paredão.Também fazemos canoining que é a descida de cachoeira com cordas.

– E sua mãe... Você está me dizendo que sua mãe...

– Claro! Ela é doidinha! Desce mais rápido que eu e meus amigos juntos. Legal, demais!

–...

– Hei, tudo bem aí???

– Tá. Tudo bem. Depois a gente se fala, tá? Se quiser vir almoçar comigo amanhã...

– Não posso, prometi à mamãe de irmos à serra do Cipó. A Paulinha também está indo. Vai dar pra fazer umas escaladas legais...

– Hum.

– Hum, o quê?

– O sujeito também vai?

– Claro! Ele conhece tudo da região. Vamos acampar num lugar fantástico!

– Acampar? Sua mãe sempre detestou bichos, borrachudos, essas coisas e você me diz que ela vai acampar???

– As pessoas mudam, né pai?

– É. Mudam.

– Então tiau, pai. Depois a gente se fala, tá?

–...

– Hei? Tudo bem aí???

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