por Laura Medioli, sem data de publicação
De repente, endoideceu a loba, jogou para as cucuias os “entretantos” e partiu logo pros “finalmentes”, sob o olhar estapafúrdio do filho e total perplexidade do ex.
Primeiro foi o botox, com certeza, em dosagens muito acima do recomendável. Não satisfeita, preencheu os lábios com alguma coisa que provavelmente lhe custou os olhos da cara, além de transformar a própria em dois olhos arregalados e uma boca fenomenal. Pintou o cabelo com mechas vermelhas, renovou o armário, até se sentir pronta para a nova vida.
– Ô, filho! Telefona o pai, preocupado. – O que deu na sua mãe hem? Encontrei-me com ela na rua e mal pude acreditar. Você viu o que ela fez no cabelo? Não pega bem... Já passou da idade, né?
– Pai! Desisto! Ela não nos dá a mínima! Até me xingou quando fui falar do piercing...
– Piercing? Não acredito que ela teve coragem...
– Teve. E pior, no umbigo.
– O quê???? Com aquela barriga mole?
– Que nada, pai! Depois da lipo, quase se matou na academia. Até que tá bem enxuta...
– O que será que deu nela?
– Ô, véio, eu não ia falar não, mas você ia acabar sabendo mesmo.Mamãe tá ficando com um carinha aí.
– Como? Traduz.
– É isso aí. Tá de rolo com um cara um pouco mais velho que eu. E não tá nem aí! Disse que amor não tem idade...
– O quê? Mas isso é um absurdo! Um despropósito! Um... Um...
– Ué, pai! Você também não fez isso? Não se separou da mamãe pra ficar com uma que podia ser sua filha?
– Mas com homem é diferente...
– Uai! Por quê?
– Bem, porque... Porque é, oras!
– Você pintou o cabelo de preto... Comprou uma coleção de jeans..
– Tá bom, tá bom! Mas com sua mãe é diferente. Pô! Ela é mãe, né?
– Por sinal, ótima mãe! Só destrambelhou um pouco, mas continua ótima. Aliás, prefiro mil vezes vê-la assim do que quando vocês se separaram, quando chorava o dia inteiro e nós insistíamos para que saísse um pouco.
– Pois é, foi sair e olha só no que deu...
– Pô, pai! Mamãe tá ótima! Até meus amigos estão comentando. E está feliz, sabia? Como nunca esteve antes.
– Como assim? Na nossa época ela também era. E não precisava de nenhum rapazinho metido a besta para fazê-la feliz... E me diz aí, por acaso ela andou fazendo alguma plástica... Sei lá, tá tão diferente...
– Mais jovem e mais bonita você quer dizer...
– É, pode ser.
– Não, pai. No máximo aquelas injeçõezinhas no rosto e alguma coisa na boca que ainda não entendi muito bem. No mais, um super-regime, malhação e felicidade pura. É isso aí!
– Hum.
– Hum, o quê?
– Nada! Como é esse sujeito? Por acaso não é o personal trainer da academia, é?
– Não, não. Ele é professor de rapel.
– Rap, o quê? Não me diga que sua mãe agora deu pra dançar aquelas danças de rua...
– Não, pai, não é rap é rapel.
– E que diabo é isso?
– Cara! É o máximo! Adrenalina pura. Semana passada mesmo nós descemos uns 50 metros.
– Filho! Não estou entendendo, traduz.
– Pai, rapel é descida em paredão.Também fazemos canoining que é a descida de cachoeira com cordas.
– E sua mãe... Você está me dizendo que sua mãe...
– Claro! Ela é doidinha! Desce mais rápido que eu e meus amigos juntos. Legal, demais!
–...
– Hei, tudo bem aí???
– Tá. Tudo bem. Depois a gente se fala, tá? Se quiser vir almoçar comigo amanhã...
– Não posso, prometi à mamãe de irmos à serra do Cipó. A Paulinha também está indo. Vai dar pra fazer umas escaladas legais...
– Hum.
– Hum, o quê?
– O sujeito também vai?
– Claro! Ele conhece tudo da região. Vamos acampar num lugar fantástico!
– Acampar? Sua mãe sempre detestou bichos, borrachudos, essas coisas e você me diz que ela vai acampar???
– As pessoas mudam, né pai?
– É. Mudam.
– Então tiau, pai. Depois a gente se fala, tá?
–...
– Hei? Tudo bem aí???
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