Essa semana liguei para uma amiga em Brasília. Precisando repassar a ela um endereço de minha agenda, disse para aguardar, pois iria pegar os óculos.
- Laurinha, não me diga que você já está na fase dos oclinhos???
- Uai, minha filha, o tempo passa, né?
E começamos a rir.
Tem mulher que faz de tudo para esconder a idade; veste-se que nem as filhas, deixa o cabelo na cintura, camisetinha, lipo, malhação, botox etc etc. Aí vêm os oclinhos e põem tudo por água abaixo.
Outro dia me diverti com um casal de amigos. Ela, morando em outro país, ele, morando no Rio, e ambos, coincidentemente, passando férias em Beagá.
Saí com a amiga para jantar que, por sua vez, marcou de se encontrar com o amigo que há anos não víamos. E eu lá, intermediando o encontro.
Como não tenho muito costume de sair à noite, me confundo com os endereços. Dizem que à noite todos os gatos são pardos, pois digo que as ruas também. Principalmente as da Savassi, lotadas de barzinhos, carros e gente.
- Como é que esse pessoal consegue trabalhar no dia seguinte? Penso com meus botões ao ver a moçada se esbaldando de bebidas e tira-gostos. Após um japonês na Rio de Janeiro, seguimos para o local do encontro. Rua tal, número tal.
Chegamos e fomos entrando no primeiro "bar" que achamos.
- Huuum... Será que é isso aqui? O espaço, mais alternativo impossível. Paredes pintadas com motivos indefinidos e uma dezena de jovens alheios a tudo e a todos, sob um som infernal.
Desconfiada do erro, pergunto: - Por acaso você sabe onde fica o bar tal?
E o dono do recinto, gentilíssimo, nos explica que o tal bar ficava ao lado e que ali, no final da noite, lotava. O bar fechava e as pessoas se transferiam pra lá. Fazia questão que voltássemos. Despedimo-nos com a promessa de que voltaríamos. No final da noite. Imagina!!!
E fomos pro bar, eu e minha amiga que chamarei de Ana.
Lá fora uma fila quilométrica nos aguardava, com o rabo de olho começamos a observar a freguesia.
- Será que é aqui? Pergunto novamente, afinal, nosso amigo já estava na casa dos "enta", fase dois, se é que me entendem. Tudo bem que aparentava uns vinte a menos, boa pinta, carioca, solteirão assumido, malhado, ex-surfista, pode até ser que estivesse misturado por ali.
- Ô, Ana, o que o Celsinho tá fazendo aqui no meio dessa meninada?
- Menina, ele está impressionadíssimo com Belo Horizonte. Cada dia sai com uma.
- Tá brincando...
- Disse que nunca viu tanto mulher bonita dando em cima. Se a garota tem 20, ele diz que tem 28, se tem 18, ele passa a ter 26.
- E aí? Nessas alturas da vida, nunca teve vontade de casar, ter filhos?
- Até que tem, só que está complicado. Diz que a mulherada está fácil demais. Mal se conhecem e já estão transando.
Papo vai, papo vem, descobrimos que a fila estava empacada.
- Tem certeza de que foi aqui que ele marcou? Insisto na pergunta.
- Foi aqui mesmo. Já deve estar nos esperando.
- Então, tá. Agora volta pra fila antes que o garoto aí de trás me jogue no chão.
- Como assim?
- De tanto que ele empurra.
- Pô, garoto!!!
- Calma, Ana! Pelo amor de Deus, não precisa gritar. Deixa o menino, ele já parou.
- Ô, moço, eu só preciso verificar se o meu amigo está aí dentro. Não tem jeito de dar uma olhadinha antes não?
- Não, infelizmente só com o ticket de entrada.
- Mas cadê o ticket?
- Tem que esperar, a casa está cheia.
- Moço, eu só preciso localizar nosso amigo, é rapidinho...
- O próximo! O próximo com ticket!
- Liga pra ele! Sugiro. Duvido que escute alguma coisa no meio dessa confusão, mas quem sabe...
- Esqueci de trocar o chip, vou ter que ligar do seu celular.
- Tudo bem, me dá o número.
- Peraí que vou ver na agenda...
- ....
- Perdeu o número?
- Não, é que não estou enxergando...
- Deixa eu ver...
- ....
- E aí?
- Esses celulares... Também, olha só o tamanho da letra que eles colocam?
- Achou?
- Achei, o problema é que... Peraí, deixe-me ver...
- ...
- Achou ou não achou? Taí, Celsinho celular.
- Achei, é que... 9982, não, 9983, 99... Espera aí, deixa eu colocar os óculos.
- LAU-RI-NHA! Você não está pensando em colocar isso aqui, né??? Denunciando a nossa idade no meio dessa meninada...
Achando graça, comento.
- Ana, querida, mas nós NÃO somos mais meninas...
- Tudo bem, mas precisa mostrar?
E lá dentro, meu amigo cinquentão, com cara de trinta, rodeado de garotas nos aguarda, enquanto eu, com meus oclinhos de leitura, tento enxergar na penumbra o número do seu celular.
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