por Natália Brunacci
Eu sou a caçula de uma família pequena, programada graças à pílula. Pai, mãe, duas filhas. Acho que posso dizer que sou cria da emancipação feminina, ou seja, eu já nasci emancipada! Claro que é porque eu dei sorte de cair nessa família! Faz toda diferença ter pais informados, politizados, atualizados e críticos.
É claro que a pílula foi fator determinante na evolução do comportamento sexual desde a juventude dos meus pais até a minha juventude. E vai continuar sendo para todas as outras gerações que estão por vir! E, vamos combinar, que o comportamento sexual desde a revolução mudou muito, e muito rápido! Tão rápido, que na minha adolescência é que eu fui perceber que meus pais estavam mais perdidos do que “cego em tiroteio”!
Eu me lembro que, quando voltava de escola de carro com a minha mãe, no trânsito infernal de Belo Horizonte, ela fazia discursos e mais discursos sobre camisinha, AIDS, gravidez, que eu tinha que me cuidar cuidar, blá blá blá... tudo que eu queria era pular para fora do carro no primeiro sinal e sair correndo!!! O engaraçado é que nunca me ocorreu de simplesmente dizer “Alooouuu, eu sou virgeeemm!!!!”.
E quando a gente falava “fiquei com o fulano” eles arregalavam um olhão. Não sei o que meus pais achavam que acontecia quando eu ficava com alguém, mas eu posso garantir que a imaginação deles ia muito além dos beijinhos inocentes atrás da escada.
Quando eu tinha 14 anos, minha professora mandou ler o livo Namoro - Relação de amor e sexo, do Flávio Gikovate. Meu pai tarabalhava no centro, então pedi que ele comprasse o livro pra mim. Quando chegou em casa do trabalho, ele me entregou o livo com um sorriso e falou: “Isso mesmo, minha filha! Cê tem é que ficar mesmo!”. Aconteceu que, durante a volta para casa, meu pai começou a ler o livro no ônibus, aí ele entendeu que o ficar era uma coisa saudável, que eu estava só descobrindo a minha sexualidade.
Passado o baque inicial da “tempestade hormonal” do início da adolescência, meus pais, minha irmã e eu aprendemos a nos entender e a respeitar nossas escolhas afetivas e sexuais. A gente apresentava um outro namorado, mencionava um ou outro ficante. Quando o telefone de casa tocava, se eu não corresse pra atender, eu pedia para minha mãe dizer que eu não estava. Minha mãe me encobria, meu pai achava uma sacanagem!
Eheh! Sempre há quem, dentre nós, se lembre de coisas engraçadas da vida em família... Muito bom seu post, fiquei emocionada e nostálgica.
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