terça-feira, 15 de junho de 2010

Deixo a vida me levar...

por Natália Brunacci


Eu presenciei mudanças importantes na mineração em que eu trabalhava no interior de Goiás. Fui a primeira geóloga, mas em pouco tempo vi outras chegando. E uma conquista importante: a mineração abriu vagas para as mulheres na mina, operando equipamentos. Cada vez que uma notícia dessas chegava ao escritório, eu vibrava enquanto meus “colegas” faziam piadas. Entre uma piada e outra, nós fomos conquistando nosso espaço.


Não posso contar no que deu essa história, porque bateu um vento-sul e, quando percebi, eu já estava atravessando metade do globo rumo à Austrália, onde seria meu próximo emprego. Vim direto pra Kalgoorlie, uma cidadezinha movida à mineração no meio do deserto australiano. Geóloga, solteira e brasileira, seria eu, aqui na Austrália, um animal ainda mais exótico?


Não.


Aqui as mulheres já estão integradas no ambiente de mineração. Eu não fui a primeira geóloga, nem a única. Geólogas, engenheiras, auxiliares de campo, mineradoras, operadoras de equipamentos, técnicas em explosivos, motoristas de caminhão (aqueles caminhões gigantescos!): aqui as mulheres ocupam vários cargos outrora considerados “masculinos”. Existem, ainda, várias organizações que promovem a inserção e manutenção da mão de obra feminina na indústria de mineração.


Eu imagino que a questão da disponibilidade de mão de obra tenha sido um fator determinante na inserção feminina na indústria de mineração. A Austrália é um país quase tão grande quanto o Brasil, com uma população de aproximadamente 22 milhões (compare isso com os 192 milhões do Brasil). Como diz o ditado: "A necessidade aguça o engenho"!


A maior participação feminina, porém, não faz o ambiente menos masculino. Kalgoorlie, por exemplo, funciona para os homens. Aqui, os bares ficam abertos 24 horas para que esses pobres trabalhadores, após um árduo turno de trabalho, possam desfrutar de uma cerveja gelada servida por uma garçonete topless (a famosa “skimpie”). As mulheres, geralmente, vão para casa encarar mais uma jornada.


Empregada, babá e creche são luxos caríssimos na Austrália. O mais comum é que as mulheres, após terem filhos, passem a trabalhar meio período ou abandonem a carreira para cuidar da família. Eu, particularmente, não conheço nenhuma mulher com mais de um filho que trabalhe período integral (fora de casa, porque em casa eu sei que elas trabalham - e muito!).


Mesmo assim, parece ser senso-comum a opção pela família. Freqüentemente eu vejo no supermercado jovens mães cercadas por uma penca de filhos, o que me faz pensar: “Será que está na minha hora de contribuir com a perpetuação da espécie?”


Enquanto eu não decido, eu deixo a vida me levar...

2 comentários:

  1. Muito bom texto. Gostei do ditado: "a necessidade aguça o engenho." Essas meninas aprendem coisas com a vida e a mãezona só pode se orgulhar do quanto elas estão crescidas, independentes, espirituosas e bem-resolvidas!

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  2. Sera Natalia mais uma mulher a abandonar o trabalho para cuidar da familia?...rsrsrs...Essa eu NAO pagava pra ver!!!

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