por Cássia Juliana
Advogar nunca foi a minha praia. Formei-me em Direito, primeiro porque detesto matemática, física e química, segundo porque, na época, Direito estava super na moda, era um dos vestibulares mais concorridos, então fui lá e fiz. Depois de formada, advoguei durante cinco longos anos, até decidir já ser hora de fazer algo que realmente me desse prazer. Fui estudar Teatro. Fiz o Curso de Formação de Ator, do Teatro Universitário da UFMG (TU), com duração de três anos, e posso dizer com segurança que, até o momento, foi a decisão mais acertada da minha vida.
No TU, descobri que preciso de beleza para viver. Não digo apenas beleza estética, mas, principalmente, beleza emocional e nada melhor que a arte para proporcionar isso. Feita a descoberta, chutei o balde e fui viver do teatro. Passei três belos anos viajando pelo Brasil, apresentando peças educacionais nos mais diversos lugares, para os mais diversos públicos. Como experiência de vida e realização de um sonho romântico foi maravilhoso, mas a vida real custa caro... Contas, contas e mais contas a pagar... Fiquei entre a cruz e a espada. Ou ganhar dinheiro para viver “bem”, ou viver bem, mas aos trancos e barrancos. Pensei: “De jeito nenhum. Quero as duas coisas. Viver ‘bem’ e bem”. Foi aí que bati o martelo. Passei em um Concurso Público e, à noite, tenho o meu Grupo de Teatro, minha “Caixa de Fósforos” querida, onde, juntamente com oito amigos maravilhosos, realizo todos os meus sonhos e desejos artísticos, enchendo minha vida da mais pura e verdadeira beleza.
Apesar de atualmente estar de bem com minha situação profissional, não considero esse capítulo encerrado. Prefiro sempre deixar o tema em aberto, para evitar o tédio.
Profissionalmente, vivo em dois mundos completamente diferentes. No meu trabalho como servidora pública, o ambiente é predominantemente feminino, quase não lido com homens. Já no teatro, os homens são maioria absoluta, sejam eles hetero ou homossexuais. Mas, pela própria natureza das duas instituições, no teatro posso ser muito mais feminina.
Sinto que o serviço público, assim como as empresas privadas, ainda que liderados por mulheres, nos impõem uma certa masculinização, sem a qual não conseguimos nos fazer respeitar plenamente, nem mesmo pelas outras mulheres. Essa é nada mais, nada menos, que uma herança machista, passada geração por geração.
Essa herança está tão arraigada em nós, que chega a ser inconsciente. Pode parecer piada, mas se prestarmos atenção, notamos no dia-a-dia exemplos clássicos de preconceito machista, partindo não só de homens, mas também de outras mulheres e, muitas vezes, até de nós mesmas. Quem de nós já não deu pouco crédito a uma profissional, seja de que área for, pelo simples fato da fulana ser muito bonita? Ou até o contrário, como o caso de superestimarmos as qualidades profissionais de uma beltrana, porque a tal era feinha?
O fato é que essas teorias preconceituosas são total e completamente furadas. A mulher atual zela por sua qualidade profissional, com o mesmo apreço que zela por sua aparência. Não existe mais esta história de mulher que opta por ser bonita ou ser inteligente. O estilo Marilyn Monroe está mais que ultrapassado.
Quando sentirmos que estamos sendo respeitadas, temos que pensar a que custo estamos recebendo tal respeito. Do que estamos abrindo mão, para sermos levadas a sério.
Nesses 50 anos de pílula, foram muitas vitórias, muitos progressos, mas ainda há muito a se conquistar. Como em todos os outros aspectos da vida, não podemos nos acomodar e deixar a correnteza levar o barco, temos que continuar remando, sempre e sempre, em direção à liberdade.
Respeito de verdade, teremos no dia em que não precisarmos fazer nada além de sermos nós mesmas para recebê-lo.
Estou te conhecendo melhor aki Caju, e fico muito contente de saber que vc é tão inteligente e sensível.
ResponderExcluirUm grande beijo.
Beto (o Gil)
Parabéns amiga pelas suas palavras. Você é um mulherão!!! Sucesso. bjão
ResponderExcluirFabi