terça-feira, 11 de maio de 2010

Tentativas

por Janini de Carvalho


Imagino que eu seja só mais uma entre as milhares de mulheres que foram concebidas por uma tentativa da realização do sonho do varão, a confirmação do pai de sua masculinidade e do dever cumprido.

Eu era a “rapa do tacho”, expressão cearense dada aos caçulas, geralmente, acidentais.

Hoje me apresento como uma mulher de 30 anos, solteira, gerente de engenharia, que adora futebol, videogame, baralho, assistir vale-tudo, programas de esportes, cerveja e rock in roll, demora 2 horas para se arrumar, se atrasa, ama cremes, sofre com a calça apertada e o cabelo que nunca dá jeito, busca conhecimento seja profissional, pessoal ou banalidades em geral, quer ser cuidada, amar e ser amada, tolera, compreende e contorna. Sou heterossexual e almejo uma família Osbourne em comerciais de margarina.

Assim sou eu. Com gosto variado, infelizmente ainda nos dias de hoje atuar profissionalmente e gostar de “coisas de homem” gera um preconceito imenso...

Coloca-se, como via de regra, que nossas vontades, capacidades, escolhas e virtudes têm ligação direta e estão condicionadas ao sexo, e para aqueles que quebram a barreira do preconceito e conquistam o respeito e a admiração, esses, são classificados como excepcionais, visto que deveria ser um elogio.

Mas como sentir-se elogiado se a única base para a atribuição de excepcional é o preconceito? Em minha educação, via de regra, aprendi que qualquer conquista só possui valor a partir dos princípios morais através dos quais ela foi constituída.

Sendo assim, o que me faz sentir lisonjeada é ver que minha vida e minhas conquistas hoje, são resultado da luta de pessoas pela igualdade, liberdade e respeito. E que essas conquistas ainda têm um longo caminho a percorrer no qual, espero, eu possa contribuir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário