por Janini de Carvalho
Imagino que eu seja só mais uma entre as milhares de mulheres que foram concebidas por uma tentativa da realização do sonho do varão, a confirmação do pai de sua masculinidade e do dever cumprido.
Eu era a “rapa do tacho”, expressão cearense dada aos caçulas, geralmente, acidentais.
Hoje me apresento como uma mulher de 30 anos, solteira, gerente de engenharia, que adora futebol, videogame, baralho, assistir vale-tudo, programas de esportes, cerveja e rock in roll, demora 2 horas para se arrumar, se atrasa, ama cremes, sofre com a calça apertada e o cabelo que nunca dá jeito, busca conhecimento seja profissional, pessoal ou banalidades em geral, quer ser cuidada, amar e ser amada, tolera, compreende e contorna. Sou heterossexual e almejo uma família Osbourne em comerciais de margarina.
Assim sou eu. Com gosto variado, infelizmente ainda nos dias de hoje atuar profissionalmente e gostar de “coisas de homem” gera um preconceito imenso...
Coloca-se, como via de regra, que nossas vontades, capacidades, escolhas e virtudes têm ligação direta e estão condicionadas ao sexo, e para aqueles que quebram a barreira do preconceito e conquistam o respeito e a admiração, esses, são classificados como excepcionais, visto que deveria ser um elogio.
Mas como sentir-se elogiado se a única base para a atribuição de excepcional é o preconceito? Em minha educação, via de regra, aprendi que qualquer conquista só possui valor a partir dos princípios morais através dos quais ela foi constituída.
Sendo assim, o que me faz sentir lisonjeada é ver que minha vida e minhas conquistas hoje, são resultado da luta de pessoas pela igualdade, liberdade e respeito. E que essas conquistas ainda têm um longo caminho a percorrer no qual, espero, eu possa contribuir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário