por Janini de Carvalho
Se existe uma palavra que resume qualquer justificativa e pode encerrar qualquer atitude inconveniente, essa palavra é: respeito. Respeito e ponto final.
Quantas vezes no auge de discussões e no calor dos ânimos ouvimos: Respeite! Independente do que seja, soa de forma diferente. Traz-nos certa vergonha, a sensação de algo mal dito ou “maldito”...
No período entre meus 16 a 20 anos, algumas amigas me pediam para esconder a cartela de pílulas anticoncepcionais e precisavam me encontrar diariamente para tomá-las. Para mim isso nunca foi problema, pois comecei a tomá-las muitos anos antes de iniciar minha vida sexual. Não por neura precoce ou por ansiedade para tomá-las. Não mesmo! Comecei por recomendação médica. Para evitar a acne e regular meu ciclo menstrual. O diagnóstico era “útero retrovertido”, mas não me lembro se a prescrição da pílula foi decorrente disso ou se era mesmo para evitar a acne. Só sei que funcionou bem para a acne.
Minhas colegas, mesmo aquelas com muitos anos de namoro e com namorados 10 a 15 anos mais velhos, escondiam o uso da pílula “em nome da moral e dos bons costumes”. E melhor mesmo que tenha sido assim, já que a gravidez, na conjuntura em que se encontravam, teria sido um transtorno infinitamente maior.
Como não vivenciei essa “castração”, sempre questionei como seus pais não percebiam que elas já tinham vida sexual ativa e sempre ouvia a mesma resposta:
“–Com certeza eles sabem, mas mostrar que tomo pílula comprovaria que eu sei que eles sabem e, por respeito e para poupá-los da decepção, eu escondo. Entendeu?”
Entendi... A que ponto chega a estupidez humana... E os riscos que corremos para manter as aparências...
E já passados muitos anos desde a minha adolescência, ainda escuto estranhos comentários a respeito da pílula de mulheres bem informadas e que não necessitam comprovar sua castidade. “- Agora vou tomar pílula porque paramos de usar a camisinha.” “- Não quero ganhar quilos a mais na balança, por isso não tomo pílula.” “- Experimentei e acho que fiquei insensível e com falta de libido (essa é demais!).”
Ok. Todos nós temos direito de escolher e de respeitar (palavrinha mágica) as opções individuais e os diferentes pontos de vista, mas passados 50 anos desta invenção, algumas perguntas não querem se calar:
Pergunta 1
Com a inúmera quantidade de hormônios sintéticos desenvolvidos, não consegue encontrar nenhum tipo que lhe sirva???!!!
Pergunta 2
Você não toma pílula porque existe possibilidade de engordar 3 a 4 kg e ter varizes, mas não para com as barras de chocolate, bebidas alcoólicas, sorvete, vida sedentária, horas sentada na mesma posição e saltos finos e altíssimos???!!!
Pergunta 3
Você reclama da insensibilidade e da falta de libido decorrentes do uso da pílula, mas acredita que seguir tabelinhas, usar a pílula do dia seguinte, passar dias preocupada esperando a bendita menstruação, deixar seu parceiro sempre sobressaltado, privar-se de sexo naqueles dias de ovulação (segundo seus cálculos), tudo isso potencializado com seus ataques de TPM, aumenta seu apetite sexual???!!!
Pergunta 4
Você acha que o uso constante de remédio lhe faz mal, mas pensa que se entupir de refrigerantes, almoçar mal, dormir tarde, comer, todos os dias, alimentos salgados e industrializados, preserva sua saúde???!!!
Posso estar equivocada, mas relato que a pílula é muito mais do que meu método contraceptivo, ela é fator determinante do que sou hoje, pela honestidade, liberdade desde sempre com minha família, com os namorados que tive e, acima de tudo, comigo mesma. E isso sim pra mim é Respeito!
Nenhum comentário:
Postar um comentário