por Cássia Juliana
Cássia Juliana, 34 anos, brasileira, natural de Belo Horizonte/MG, solteira (ora por opção ora por falta de opção), advogada, atriz, servidora pública, atleticana, consumista na medida, vaidosa, um pouco narcisista, um pouquinho egocêntrica, às vezes carente, às vezes totalmente autossuficiente. Uma balzaquiana normal, fã do Sex and The City.
Primogênita de três irmãos, nasci e fui criada em uma TFM (Tradicional Família Mineira), ou seja, pai repressor e mãe Pôncio Pilatos (sempre lava as mãos...). Lá em casa, educação sexual significava “nunca fazer”. Durante toda minha infância, adolescência e até mesmo parte de minha vida adulta, nunca pude fazer sequer a menção de ter interesse em homens. Para meus pais, eu era e deveria continuar sendo um ser assexuado.
Como toda criança, ouvia coisas na rua, na televisão e ia perguntar aos meus pais o significado das mesmas, por exemplo, o que era “Motel”. Lembro-me como se fosse hoje... Eu deveria ter uns 6 ou 7 anos e sempre ouvia nos programas de TV a palavra “Motel” e ficava intrigada com aquilo... Então, obviamente, ia perguntar à minha mãe – Mãe, o que é “Motel”? – resposta: Pergunta pro seu pai. – Pai, o que é “Motel”? – resposta: Pergunta pra sua mãe. E assim fui crescendo, até descobrir, por mim mesma, o significado da tal palavra.
Hilário mesmo, foi quando fiquei menstruada. Eu tinha 10 anos e estava em casa, só com a empregada. Quando fui ao banheiro e vi minha calcinha suja, corri para mostrar à moça, sem ter a menor noção do que estava acontecendo comigo. Quando ela viu, disse - Ih...Você ficou menstruada – e mandou eu colocar um bolo de papel higiênico no lugar. Quando minha mãe chegou em casa, contei a novidade a ela, que, assistindo a novela estava e assistindo a novela continuou, disse-me apenas – Ah é? Eu não preciso lhe falar nada não, né? Você já sabe tudo – Eu não sabia nem mesmo o quê eu tinha pra saber... Como é que eu já iria saber tudo? Enfim, sem saber nada, nem mesmo colocar um absorvente direito, eu respondi que sim.
Quando adolescente, não podia nem pensar em sair com meus amigos para ir ao shopping ou ao cinema, mas, como a vontade de me divertir era imensa, eu sempre pedia para ir e a resposta era sempre a mesma – Cê tá doida? - Para o meu pai, o mundo era uma bomba prestes a explodir, uma selva cheia de monstros, onde o único lugar seguro era a nossa casa e lá eu deveria permanecer trancada, salvo para ir ao colégio.
Bom, mas, graças a Deus, o tempo passa e eu cresci, fiquei adulta, comecei a trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro. Quando isso aconteceu, eu fui à forra, recuperei anos de infância e adolescência trancados em casa, assistindo à TV. Dos meus 24 aos 27 anos, eu fui uma versão mineira da Rê Bordosa*. Minha vida era uma farra só. Homens, bebida, bebida, homens, homens e mais homens. Virava as noites em boates e depois ia direto para o trabalho. Foi uma época punk. Até que eu me cansei. A farra foi boa, mas perdeu a graça. Depois de me relacionar com um sujeito por 3 anos, quietei o facho. Fiquei caseira. O relacionamento foi um fiasco, mas foi bom para eu me desacelerar. É claro que ainda saio, tenho meus casos, tomo meu whisky, mas, hoje em dia, sou bem tranquila, não aguento mais muita confusão.
Por incrível que pareça, foi também já adulta que tive minha primeira consulta com um ginecologista. Devo confessar que, ao chegar no consultório, eu parecia uma adolescentezinha, não sabia várias coisas básicas, como, por exemplo, o funcionamento da pílula. Quando adolescente, não recebi qualquer tipo de orientação e, como ficava muito presa em casa, não tinha namoradinhos nem nada, então a pílula e outros métodos contraceptivos passaram despercebidos por essa fase da minha vida.
Tive sorte de achar um médico incrível. Além de excelente profissional, foi também um amigo, que, pacientemente, explicou a mim, uma mulher adulta, tudo sobre educação sexual, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis, uso correto da camisinha, até a tabelinha ele me ensinou.
Comecei a tomar a pílula aos 24 anos e, com apenas 6 meses de uso, tive que parar. Sou hipertensa. Por recomendação tanto do ginecologista quanto do cardiologista, não devo tomar pílula. Como método anticoncepcional, há 10 anos uso D.I.U., ao qual me adaptei muito bem, além da camisinha, é lógico.
Então é isso... Não sigo nenhuma religião, nem nenhum partido político. Não gosto de nada que vá me adjetivar como “vinculada”, sei lá, passa-me a ideia de prisão ou algo contra o qual eu teria que travar uma verdadeira batalha para me livrar, caso ficasse de saco cheio. Tá aí... Acho que o “solteira por opção” se encaixa nessa situação. Enfim, amada por uns, odiada por poucos... Só sei que sou assim.
* Rê Bordosa = personagem do Angeli.