entrevista de Katia Thomaz com a Dra. Néli Sueli Teixeira de Souza, ginecologista e obstetra
- O tema "virgindade" foi totalmente abolido do vocabulário leigo e profissional?
Dra. Néli - O tema ainda não está abolido, mas a cada dia é menos pronunciado.
- A mulher e o homem ainda se preocupam com a virgindade?
Dra. Néli - A mulher hoje não tem mais orgulho de ser virgem e não se sente inferiorizada ou ameaçada quando inicia sua vida sexual antes do casamento. Muitas o fazem sem o conhecimento da família. Em alguns casos a mãe é conivente, mas o pai é "poupado", porque não aceita ou, talvez, porque ainda não saiba lidar com essa situação. Prefere, vamos dizer, fingir que não está entendendo o que está acontecendo, para não ter que tomar atitude. Algumas, mais maduras, têm até vergonha de serem virgens, como se isso fosse um atestado de abandono. Aprenderam que deveriam se guardar, mas o tempo passou... o príncipe não chegou e a virgindade ficou demodê. Entretanto, ainda existem mulheres que, por valores culturais ou religiosos, "se guardam para o marido". Em se tratando de religião, pelo menos no nosso meio, a única que prega a virgindade de homens e mulheres e que parece atingir algum objetivo é a Batista.
- A nova paciente é questionada sobre a virgindade? Os procedimentos são diferentes?
Dra. Néli - Durante a consulta a virgindade é questionada para se saber como examinar, que doenças prevenir ou suspeitar, etc. Por exemplo, não se realiza prevenção do câncer do colo uterino em virgens, porque para isso seria necessária a colocação de um espéculo, procedimento que poderia lesar o hímen. Além do mais, as virgens não possuem risco para esse tipo de doença.
- Há algum estudo recente sobre o assunto?
Dra. Néli - Não tenho estudos novos sobre o assunto, mas acho interessante pesquisar.
- Há notícias recentes sobre "plástica de reconstituição do hímen" (vide caso Ângela Bismarchi). Qual a sua posição a respeito?
Dra. Néli - A reconstituição do hímen é uma cirurgia fadada ao fracasso. Os resultados não são bons (o hímen praticamente não pode ser reconstituído). De minha parte, nunca estimulei, nunca realizei e contra-indico esse procedimento, por considerá-lo, além de inútil, ineficaz. Gostaria de conhecer o "caso da Ângela Bismarchi", pois não o acompanhei. Parece-me ser, mais uma vez, uma auto-promoção... Mas poderíamos perguntar a ela: O que isso muda?